Headhunter

Dirigente do Novo participou de contratação para a Cemig

Proposta de serviço da Exec foi enviada à estatal aos cuidados de Evandro Veiga Negrão de Lima Jr. Empresário não tem cargo na companhia nem no governo. O contrato é foco de CPI

Por Pedro Augusto Figueiredo
Publicado em 24 de agosto de 2021 | 05:00
 
 
/Cemig / Foto: Cristiane Mattos / O Tempo

Mesmo não tendo vínculo com a Cemig ou com o governo de Minas, um integrante da Executiva Estadual do partido Novo atuou na contratação da empresa headhunter responsável pelo processo de seleção que culminou na escolha de Reynaldo Passanezi Filho para a presidência da estatal mineira de energia.

Documento obtido por O TEMPO mostra que a Exec, empresa que atua no recrutamento de executivos, apresentou uma proposta no valor de R$ 170 mil para realizar o processo seletivo para o cargo máximo da Cemig. O documento foi encaminhado para a Cemig, mas aos cuidados do empresário Evandro Veiga Negrão de Lima Jr., que não tem cargo na estatal nem no governo Zema. Ele é secretário de Assuntos Institucionais e Legais do diretório do Novo em Minas.

Veja abaixo

A contratação da Exec é o principal foco de investigação da CPI da Cemig na Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) até aqui. A empresa de recursos humanos foi contratada com o argumento de inexigibilidade de licitação, quando alega-se que, por se tratar de um serviço muito especializado, não é possível que haja concorrência.

Porém, a Cemig contratou ao menos outras três empresas para realizar processos seletivos de executivos, de acordo com depoimento da superintendente de Auditoria Interna da companhia, Débora Martins, à CPI. 

“Isso é uma demonstração clara de que, em nome do Partido Novo, alguém estranho à companhia, sem cargo dentro dela, estava negociando em nome da Cemig. Isso é gravíssimo”, afirmou o vice-presidente da CPI, Professor Cleiton (PSB).

Na última quinta-feira, em depoimento na comissão, o gerente de Provimento e Desenvolvimento Pessoal da empresa, Rômulo Provetti, disse que recebeu a proposta da Exec com o nome de Evandro Veiga. Ele afirmou, no entanto, que pediu à Exec que enviasse uma nova proposta. “De acordo com requisitos internos da Cemig, as propostas têm que ser assinadas e endereçadas à Cemig”, explicou.

A proposta da Exec com o nome de Evandro Veiga é datada do dia 28 de novembro de 2019. O documento diz que a Exec só começaria a prestar o serviço e realizar o processo seletivo para a presidência após a Cemig aprovar a proposta formalmente.

O Conselho de Administração da Cemig só aprovou a contratação da Exec em 20 de janeiro de 2020. Uma semana antes, no dia 13, Reynaldo Passanezi Filho tomou posse como presidente da Cemig. Ou seja, a Exec foi formalmente contratada após prestar o serviço, e não antes, como é a praxe no serviço público.

“A cronologia dessa contratação não fecha. O depoimento do diretor de Gestão de Pessoas, Hudson Felix Almeida, deixou bem claro que houve a prestação de serviços sem nenhum instrumento jurídico de contratação, foi tudo verbal, e eles convalidaram essa contratação a posteriori, inclusive com os pagamentos”, pontuou o presidente da CPI, o deputado Cássio Soares (PSD).

ALMG quer lista de indicados

O presidente da CPI, Cássio Soares (PSD), destaca que, antes de presidir a Cemig, Reynaldo Passanezi Filho foi presidente da Companhia de Transmissão de Energia Elétrica Paulista (CTEEP), cuja principal controladora é a empresa colombiana ISA. A ISA, por sua vez, é sócia da Taesa, empresa de transmissão de energia controlada pela Cemig. O governo Zema já iniciou o processo da venda da participação da Cemig na Taesa.

Segundo Cássio Soares, é preciso investigar se não há interesses políticos e partidários na contratação da Exec e na seleção de Passanezi, já que a desestatização faz parte, de forma legítima, do programa partidário do Novo.

“Eles buscam um executivo que era presidente da empresa sócia da Taesa, que vem para a Cemig conduzir a venda da parte da Cemig na própria Taesa, a empresa mais lucrativa na qual a Cemig tem participação. Mas vamos com muita responsabilidade averiguar”, afirmou.

Na proposta de contrato, a Exec afirma que, ao final do serviço, iria apresentar uma lista com os executivos que mais se aproximam do perfil desejado. Porém, em depoimento na quinta-feira, o diretor adjunto de Gestão de Pessoas, Hudson Felix Almeida, não soube informar quantos e quais nomes, além de Passanezi, havia na lista. “Nós só vamos saber da lista quando chamarmos a Exec, porque na Cemig ninguém sabe”, disse Professor Cleiton (PSB).

Procurada, a Exec alegou sigilo para não comentar processos de seus clientes. A Cemig disse que a contratação da Exec foi dentro da legalidade”, mas não respondeu quantos nomes havia na lista. 

Negrão de Lima nunca ocupou cargo na estatal

A Cemig disse, em nota, que Evandro Veiga Negrão de Lima Júnior nunca ocupou cargo na empresa, mas não esclareceu o motivo de o nome dele constar na proposta da Exec. 

“A formalização do contrato foi realizada após o serviço prestado devido ao sigilo que envolve a substituição do cargo de presidente”, afirmou.

A Cemig também justificou a necessidade de convalidação, ato para corrigir processos que não foram realizados anteriormente.
“A contratação de serviços especializados neste valor não é matéria de deliberação do Conselho de Administração. A convalidação foi aprovada pela Diretoria Executiva, tendo o diretor-presidente se abstido”, disse.

Sem resposta

Na semana passada, o Novo foi procurado, por meio do presidente do diretório estadual, Ronnye Antunes, que informou que Evandro Veiga falaria pelo partido.

Veiga foi procurado por mensagens na sexta e manteve a posição adotada um dia antes: ele disse que está com problemas de saúde e que prestaria “as explicações necessárias de forma oficial”. Ontem, o partido disse que vai “se pronunciar oficialmente no decorrer do processo”. Ronnye não se manifestou.