Bolsonaro na ONU

Discurso de Bolsonaro repercute na mídia internacional; confira

Na cobertura da Assembleia Geral da ONU, jornais estrangeiros destacam contradições e negacionismo do presidente brasileiro

Ter, 21/09/21 - 15h49

Embora o presidente da República, Jair Bolsonaro (sem partido), tenha afirmado que o governo federal está recuperando a credibilidade do Brasil no exterior, a repercussão nos jornais estrangeiros do discurso feito nesta terça-feira (21), durante a abertura da Assembleia Geral das Nações Unidas (ONU), revela que a imagem do país segue negativa. 

O destaque dado pelo New York Times, dos Estados Unidos, foi para a defesa do tratamento precoce, sem comprovação científica de eficácia contra pandemia do coronavírus, quando o presidente chegou a criticar os outros países que não adotaram a medida. O jornal também observou que Bolsonaro rejeitou as críticas às políticas ambientais de seu governo

“O presidente de extrema direita do Brasil disse que os médicos deveriam ter mais margem de manobra para administrar medicamentos não testados para Covid-19, acrescentando que ele estava entre aqueles que se recuperaram após o tratamento ‘off-label’ com uma pílula anti-malária que os estudos consideraram ineficazes para tratar o doença”, registrou o jornal americano logo nas primeiras linhas.

Outro jornal americano de renome mundial, o Washington Post enfatizou a contradição do presidente, que dedicou um pequeno trecho de seu discurso à pandemia e aproveitou para atacar governadores e prefeitos, além de celebrar a vacinação quando ele mesmo recusa a vacina.

“O líder brasileiro não se referiu ao seu estado de vacinação durante seu discurso e disse que quase 90% da população adulta de seu país recebeu pelo menos uma dose da vacina contra o coronavírus. [...] Ele pareceu recusar uma oferta do primeiro-ministro britânico Boris Johnson para receber uma dose da vacina Oxford-AstraZeneca. Johnson, que foi hospitalizado com Covid-19 em 2020, disse que recebeu duas doses da vacina. Bolsonaro riu e disse: ‘Ainda não’”, destacou o jornal.

Acompanhando essa linha da exposição de contradições do discurso do presidente brasileiro, o argentino El Clarín sublinhou a “defesa do uso de medicamentos sem comprovação científica contra o coronavírus” e “sustentou que não há corrupção em seu governo, que é investigado pelo escândalo da compra fraudulenta de vacinas”. Em outros trechos do artigo, o jornal também pontuou que Bolsonaro é a única autoridade do G20, que reúne as maiores economias do mundo, que ainda não se vacinou. 

Em tom mais crítico, o Correio da Manhã português publicou um artigo intitulado "'Vergonhoso': Discurso de Bolsonaro na Assembleia-Geral da ONU gera indignação mundial". No texto, foi ressaltado que o presidente refutou o tom moderado, antes especulado como uma estratégia do Itamaraty para melhorar a imagem internacional do país.  "O governante brasileiro declarou que a Amazônia está praticamente intacta, negando a devastação que quase diariamente é noticiada, afirmou que os índios brasileiros vivem numa liberdade absoluta, ignorando as denúncias de invasões e ataques armados de garimpeiros e madeireiros a aldeias indígenas", registrou o jornal.

Ainda em tom contundente, o Correio da Manhã pontuou que "para espanto de todos", o presidente brasileiro defendeu novamente o tratamento precoce "com medicamentos rejeitados pelas entidades de saúde de todo o planeta e criticou o chamado passaporte de vacina, adotado por inúmeros países".

Por sua vez, o jornal britânico The Guardian também frisou contradições de Bolsonaro. Para o jornal, o presidente "provou ser uma figura controversa durante a pandemia, minimizando os impactos do vírus e recusando-se a ser vacinado”. O jornal também observou que as expectativas de moderação do presidente "evaporaram segundos depois de Bolsonaro subir ao pódio" e que, embora quisesse mostrar um Brasil diferente daquele noticiado pela mídia, não surpreendeu ao atacar uma suposta ameaça socialista no país. 

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