Eleições 2020

Disputa em Governador Valadares deve repetir polarização entre PT e PSDB

Nos últimos 20 anos, a cidade foi administrada apenas por petistas e tucanos, que se alternaram no poder; segundo especialista, no entanto esse cenário está mais associado à força das lideranças do que aos próprios partidos

Ter, 11/08/20 - 03h00
O atual prefeito André Merlo (PSDB) e o deputado federal Leonardo Monteiro (PT) são consideradas as lideranças com maior apoio dos grupos políticos da cidade, destacando-se inclusive mais que os próprios partidos. Fotos: Edy Fernandes e Luís Macedo/Câmara dos Deputados | Foto:

Ouça a notícia

Em Governador Valadares, na região do Rio Doce, a corrida eleitoral de 2020 deverá repetir uma polarização presente na cidade há duas décadas e que até pouco tempo também dava o tom da política nacional, que é a disputa do PT contra o PSDB. Atualmente governada pelo tucano André Merlo, que tentará a reeleição, a cidade contará também com a candidatura do deputado federal Leonardo Monteiro (PT), que apostará no seu bom trânsito em Brasília como carro-chefe para o pleito.

Historicamente, Governador Valadares vem sendo governada por petistas e tucanos desde 2001, quando João Domingos Fassarela (PT) assumiu a prefeitura. No comparativo, os petistas têm mais tempo de gestão à frente da cidade, ocupando o comando por 12 anos (Fassarela assumiu de 2001 a 2004 e Elisa Costa governou a cidade por dois mandatos, entre 2009 e 2016). Já o PSDB conquistou o Executivo municipal entre 2005 e 2008, quando o ex-deputado estadual Bonifácio Mourão assumiu o governo, e em 2016, com a eleição de André Merlo.

Embora o PT tenha um grande histórico à frente da cidade, Leonardo Monteiro diz que a população da cidade está insatisfeita com a atual gestão e quer mudança. Questionado sobre o que sua possível gestão pode se diferenciar das demais administrações petistas, o parlamentar falou sobre sua experiência em Brasília, onde desde 2003 ocupa o cargo de deputado federal.

“Eu tenho meu perfil como político, a minha forma de pensar. Vou colocar muita coisa que aprendi sendo vereador e deputado federal, na minha relação com os deputados da bancada mineira”, disse, afirmando que conta com o apoio de muitos dos seus colegas na capital federal. Nesse cenário, ele destaca a sua atuação ainda durante o governo dos ex-presidentes Lula (PT) e Dilma Rousseff (PT), quando atuou para a inauguração do campus da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) na cidade.

Apesar de a administração da cidade ter sido ocupada apenas pelos petistas e tucanos nos últimos anos, na avaliação do mestre em comunicação política pela UFJF e professor da Universidade Vale do Rio Doce (Univale), Manoel Assad, historicamente as siglas acabaram se beneficiando pela força política de suas próprias lideranças. “A expressividade não estava exatamente no PSDB, mas na figura do Mourão (no passado), assim como está agora na figura do André”, explica.

Nesse cenário, ele afirma que há uma tendência personalista que se intensificou em 2018, com a vitória do presidente Jair Bolsonaro (na época filiado ao nanico PSL). “O Leonardo Monteiro tem lastro porque sempre investiu em educação e está ligado às verbas que vieram para a cidade, da universidade federal. Ele tem ali um círculo de apoiadores que lhe dá algum prestígio e lhe confere algum capital político”.

A reportagem procurou o prefeito André Merlo, mas foi informada por sua equipe que, devido à incompatibilidade de agenda, o gestor não poderia falar sobre o assunto.

 

PSB adota discursos diferentes sobre representante na disputa 

Entre os partidos que atuam para pôr fim à alternância de poder entre PSDB e PT na cidade, está o PSB, que terá candidatura própria à prefeitura de Governador Valadares. Embora a executiva nacional da sigla tenha definido o nome da vereadora Rosemary Mafra como representante, o diretório estadual socialista não ratificou o nome da parlamentar e disse que a decisão será tomada na convenção municipal.

“A gente tem somente uma pré-candidata, que é a doutora Rosemary Mafra. Ela tem todas as condições de fazer as alianças necessárias com os partidos aliados buscando a pré-candidatura”, disse Júlio Delgado, deputado federal por Minas e vice-presidente nacional do PSB, reforçando que a parlamentar tem autorização da executiva nacional. As declarações foram postadas nas redes sociais da vereadora.

“O nome do candidato ou candidata, no entanto, será escolhido pela militância do partido na Convenção Municipal que só poderá acontecer a partir do dia 31 de agosto”, informou em nota o deputado federal Vilson da Fetaemg, presidente do PSB em Minas, ressaltando, no entanto, que a decisão final sobre a candidatura será homologada pela executiva nacional. Além de Rosemary, o nome de Ricardo Pedrosa também é ventilado como pré-candidato pelo PSB.

 

Grupo ligado ao presidente Jair Bolsonaro pode ser terceira via 

Embora o cenário em Governador Valadares acabe concentrando a disputa entre o PT e o PSDB, uma terceira via poderá se estabelecer na cidade, com chances reais de definir a eleição. Essa é a avaliação a avaliação de Manoel Assad, pontuando que esse espaço pode ser ocupado por grupos políticos ligados ao presidente Jair Bolsonaro (sem partido). É o caso do PSL, partido pelo qual o presidente se elegeu, que oficializou o nome do coronel Elio Lacerda como representante da sigla à disputa.

“Nós temos em Valadares uma terceira via que não sei como vai se comportar, que pode definir a eleição ou mudar a corrida de forma considerável”, disse, referindo-se ao grupo político ligado a Lacerda e ao deputado estadual Coronel Sandro (PSL). Embora o deputado ainda esteja filiado ao PSL, segundo informações de bastidores o parlamentar tentava uma saída jurídica para filiar-se ao PRTB a tempo de conseguir disputar a eleição pelo partido.

No entanto, conforme explicou o deputado à reportagem, a articulação jurídica não conseguiu ser realizada a tempo e, atualmente, ele apoia o Coronel Miranda, que é pré-candidato pelo PRTB à prefeitura da cidade.

“Ainda é cedo para fazer apostas, mas, sem dúvida, a depender dos cenários que se formem, acredito que esse grupo interfere no resultado diretamente”, reforça Assad, explicando que há a possibilidade de uma aposta no discurso do antipetismo, assim como aconteceu em 2018 em âmbito nacional.

---

O TEMPO reforça o compromisso com o jornalismo mineiro, profissional e de qualidade. Nossa redação produz diariamente informação responsável e que você pode confiar.

Siga O TEMPO no Facebook, no Twitter e no Instagram. Ajude a aumentar a nossa comunidade.