NA MIRA

Dono da Andrade falará de suspeita de propina a Aécio

A suspeita é de que ele tratou pessoalmente de pagamentos ao senador tucano e ao deputado cassado Eduardo Cunha (PMDB-RJ)

Sáb, 29/04/17 - 10h39

Citado em delação premiada da Odebrecht como representante da Andrade Gutierrez em negociação de propina relacionada às obras da Usina Hidrelétrica de Santo Antônio, no Rio Madeira, o dono da construtora, Sérgio Andrade, será ouvido por investigadores da Operação Lava Jato. A suspeita é de que ele tratou pessoalmente de pagamentos ao senador Aécio Neves (PSDB-MG) e ao deputado cassado Eduardo Cunha (PMDB-RJ).

Principal acionista da empreiteira, Andrade até agora está imune pelo acordo que sua empresa havia fechado com o Ministério Público Federal (MPF). Após a delação da Odebrecht, porém, algumas empreiteiras - incluindo a Andrade Gutierrez - estão sendo chamadas para uma espécie de "recall" para explicar episódios que não foram contemplados nos primeiros depoimentos.

Segundo pessoas próximas a Andrade, ele se antecipou a uma convocação oficial dos procuradores, considerada inevitável, para explicar a questão de Santo Antônio, que não fez parte do acordo fechado pela empreiteira. O executivo pediu espontaneamente para prestar esclarecimentos. Segundo essas fontes, o executivo não tinha conhecimento de todo o assunto relacionado à Santo Antonio, mas conversou sobre a obra com Marcelo Odebrecht.

Em um de seus anexos de delação, Marcelo afirma que fazia reuniões frequentes com Aécio em razão do papel da Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig), que era sócia da usina, e que Sérgio Andrade participava desses encontros. Na época, Aécio era governador de Minas e a Andrade Gutierrez, acionista da Cemig.

Pelas delações, no entanto, o envolvimento de Andrade ia além. O ex-presidente da Odebrecht Energia, Henrique Valladares, disse que era ele quem comunicava pessoalmente a Andrade sobre os pagamentos a serem feitos pelo consórcio a políticos e que o executivo dava o seu aval.

A Andrade e a Odebrecht eram sócias no consórcio construtor da usina na proporção de 40% e 60%, porcentual usado para dividir o valor a ser pago por cada uma. "Minhas conversas em geral eram com o doutor Sérgio Andrade, que é tão dono da Andrade Gutierrez quanto Emílio é da Odebrecht", afirmou Valladares.

Ao todo, teriam sido pagos R$ 50 milhões para Aécio, que, segundo as delações, tinha influência em Furnas, que tem 40% da sociedade em Santo Antônio. Outros R$ 50 milhões teriam sido pagos a Eduardo Cunha, outro político apontado como influente na estatal.

Acordo

Advogados dizem que a acusação feita por Valladares é grave porque, no acordo feito pela Andrade Gutierrez com a Lava Jato, até agora, somente executivos da empresa assumiram a responsabilidade pelos atos de corrupção, deixando os sócios de fora.

A estratégia de defesa de Andrade será a de que ele não tinha todas as informações sobre a usina para que pudesse colaborar. Além disso, existe a intenção de se desqualificar a delação de Valladares. Primeiro, alegando que os assuntos em relação a Santo Antônio foram tratados sempre diretamente com Marcelo e, depois, argumentando que o próprio Valladares em sua delação passa informações equivocadas como cargos e funções de executivos da Andrade.

Defesa

A Andrade Gutierrez, pelo acordo de delação, se comprometeu a prestar esclarecimentos e fazer suas investigações sobre qualquer outro ponto que viesse à tona. A nota enviada pela assessoria de imprensa reforça que a empresa segue colaborando com o Ministério Público Federal. Sobre Sérgio Andrade, a assessoria não fez comentários.

O advogado de Aécio Neves, Alberto Toron, diz que seu cliente nega que tenha recebido propinas e a defesa de Eduardo Cunha não se manifestou.

Em nota, a assessoria de Aécio informou: 

O senador Aécio Neves teve diversos encontros sociais com o sr. Marcelo Odebrecht, ao longo dos anos, como já amplamente informado, onde trataram de vários assuntos. Nos contatos ocorridos, ele jamais tratou de qualquer tema ilícito.

Em relação a campanhas eleitorais, o senador fez pedidos de apoio a diversas candidaturas. Sempre na condição de dirigente partidário e na forma da lei, nunca tendo havido qualquer solicitação ilícita, como atestou o próprio delator ao declarar que: “Aécio nunca teve uma conversa pra mim de pedir nada vinculado a nada”.

Sobre o registro de portaria enviado pelo jornal e que serviria para corroborar a delação do empresário, é importante notar que a data de 26 de maio de 2014 não possibilita a afirmativa feita na pergunta de que teriam sido acertados, neste dia, “pagamentos mensais para o PSDB, antes de a campanha presidencial ter se tornado oficial”.

Isso porque a campanha foi iniciada oficialmente um mês após a data de 26/05, o que, portanto, contradiz a afirmação feita na delação de supostos valores pagos durante dez meses de pré-campanha.

No depoimento, o empresário provavelmente se confundiu também ao se referir ao montante de 5 milhões, uma vez que a doação da Odebrecht à campanha presidencial do PSDB foi bem superior, podendo o valor mencionado por ele ter sido na realidade somado pela empresa aos recursos doados oficialmente ao comitê eleitoral.

É importante registrar ainda que Marcelo Odebrecht, em seu depoimento ao TSE, afirmou que todas as doações feitas pela empresa à campanha presidencial do PSDB foram oficiais.

Sobre a delação de Henrique Valadares, o delator afirma que nunca se tratou de nada ilícito com o então governador.

"Em nenhum momento se falou de propina, de pagamento, de nada!"


 

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