Doorgal Andrada

O lugar da pessoa autista

Dia mundial de conscientização

Por Doorgal Andrada
Publicado em 01 de abril de 2022 | 03:00
 
 

Neste sábado, 2 de abril, é celebrado o Dia Mundial de Conscientização do Autismo, instituído pela Organização das Nações Unidas (ONU), em 2007, para chamar a atenção da sociedade para o Transtorno do Espectro do Autismo (TEA). Ainda quando vereador em Belo Horizonte, fui apresentado à causa e adotei o apoio à pessoa autista e seus familiares como bandeira de atuação política, seja com a apresentação de proposição própria ou participando de iniciativas do Parlamento, de governos e de entidades privadas.

Neste ano, a campanha nacional que foi lançada para levar uma mensagem inclusiva à sociedade tem como slogan “Lugar de autista é em todo lugar”. Pode até parecer que se trata de algo óbvio, mas não é bem assim.

Não falta quem use a palavra “autista” de forma depreciativa sobre alguém ou que pense que uma pessoa com o transtorno seja incapaz de se desenvolver. Muitos não estão informados que autismo não é uma doença, mas uma condição relacionada com o desenvolvimento neurológico e que apresenta manifestações distintas em cada indivíduo – daí a referência a um “espectro”, já que há diversas síndromes ligadas ao autismo, com características ou “intensidades” próprias.

Para quem considera que transtornos neurológicos ou deficiências físicas equivalem a uma condenação ou à incapacidade, a ciência vem demonstrando que abordagens educacionais e estímulos específicos promovem o desenvolvimento dos indivíduos, que, em inúmeros casos, seguem a trilha da educação formal, trabalham, produzem e vivem com autonomia. A questão é garantir acesso ao acompanhamento profissional e eliminar a exclusão pela “diferença”, ainda que não seja possível a total independência.

Isso aparece em uma outra campanha de conscientização, desta vez na Espanha, que traz como lema “Uma feliz viagem pela vida”. Ela expressa muito bem a expectativa pela aceitação e pelo direito ao desenvolvimento pessoal. No vídeo da campanha, argumenta-se que a pessoa com autismo quer poder realizar sonhos, conquistar objetivos e participar da sociedade como todos. Repito, não é uma questão de concessão ou gesto de piedade, mas de um esforço de inclusão de fato.

Há alguns anos, a ONU propôs, como mote para o mês de conscientização sobre o autismo, a criação de políticas de inclusão no mercado de trabalho, estimulando a atenção à educação, o uso de tecnologias adequadas e a queda de barreiras à contratação. Chamavam a atenção os avanços já alcançados, em outros países, no sentido de adequar metodologias e processos para promover ganhos cognitivos e de integração do autista.

Trato aqui do TEA, em especial, pela referência à data. Recentemente, porém, tive a oportunidade de trabalhar em conjunto com o Instituto Helena Antipoff, de Divinópolis, e testemunhar as conquistas que crianças com transtornos neurológicos diversos obtêm com o estímulo, acolhimento e recursos adequados.

Infelizmente, no Brasil temos uma legislação bastante ampla, mas ainda dependemos de iniciativas isoladas de entidades e de políticas públicas desiguais, que podem até funcionar em alguns municípios, mas são totalmente ausentes em outros. Até o fechamento do diagnóstico – essencial para se obter o acompanhamento pelo SUS – é penoso, moroso e complexo, mesmo onde há disponibilidade dos profissionais que devem ser consultados.

Mudar essa realidade depende, sim, de políticas públicas, de gestões comprometidas, de capacitação profissional. Mas depende, mais ainda, de a sociedade entender que o diferente não é incapaz e que inclusão não é criar um espaço especial, mas segregado, para o outro. É se informar, compreender, apoiar e, sobretudo, acolher!