Julgamento do Impeachment

Em sessão de 14 horas, Dilma reafirma que não cometeu crime

Saiba como foi a sessão desta segunda-feira, no Senado; presidente afastada respondeu perguntas de senadores

Seg, 29/08/16 - 10h45
O quinto dia do julgamento do impeachment da presidente afastada Dilma Rousseff (PT), que estava programado para ser iniciado às 10h, já chega aos 20 minutos de atraso. | Foto: Lula Marques/ AGPT

A presidente afastada Dilma Rousseff esteve no Senado nesta segunda-feira (29) para apresentar sua defesa e responder perguntas dos senadores. A sessão durou 14 horas e será retomada nesta terça-feira (30), para os debates entre acusação e defesa.

Reunimos aqui o que foi dito pela presidente afastada Dilma Rousseff durante o seu discurso no Senado e também as perguntas que foram feitas a ela, e suas respostas.

O discurso

"Não votem pelo impeachment, votem pela democracia"

"Ao serem contrariados interesses de setores da elite econômica e política, nos vemos diante do risco de uma ruptura democrática"

"Não cometo deslealdade e não tenho covardia"

"Todos sabem que esse processo de impeachment foi aberto por uma chantagem explícita do ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha"

"Quem afasta o presidente pelo 'conjunto da obra' é o povo, nas eleições"

"Volto a afirmar que este processo está marcado por um clamoroso desvio de poder"

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As perguntas

1. Katia Abreu (PMDB-TO) pergunta. Senadora e ex-ministra do governo Dilma é a primeira a perguntar e utilizou os cinco minutos para defender a presidente afastada Dilma Rousseff.

Dilma responde. Me orgulho muito de ter ampliado os recursos tanto para a agricultura familiar, quanto para a agricultura comercial. Sem a subvenção do Plano Safra, os agricultores não teriam como desenvolver os extraordinários feitos de todos estes anos. Precedente é grave porque atingirá outros presidentes, governadores e prefeitos. Sem base jurídica, poderá s afastar das funções. Se o contrato político com o povo for rompido, qualquer outro contrato poderá ser rompido.

2. Ana Amélia (PP-RS) pergunta.  Ela questionou o argumento de que o processo de impeachment trata-se de um golpe, já que sua defesa participou de todas as etapas. Finaliza com uma pergunta sobre o porquê de Dilma ter autorizado os créditos suplementares.

Dilma responde. A minha responsabilidade pela política econômica é no sentido macroeconômico, porque fui eleita por 54,5 milhões de votos. É preciso diferenciar um golpe de Estado militar e parlamentar. Exemplificando, no golpe militar, derruba-se a árvore. Já no golpe parlamentar, você tira um presidente que foi eleito por voto direto. É como se a árvore fosse atacada de fungos. Você compromete a árvore. Por que eu compareço ao Senado? Porque é um espaço democrático, que tem que ser preservado. Quero que a democracia do meu País saia ilesa nesse processo. Não basta o rito correto, é preciso ter um conteúdo justo.

3. Ricardo Ferraço (PSDB-ES) pergunta. Onde estava o seu compromisso quando realizou atos que atentaram contra a Constituição Federal? Você fala em golpe, mas é chancelado pelo STF? (...) A senhora tem arrependimentos dos atos praticados?

Dilma responde. Aqueles que não querem que o nome seja golpe, querem acobertar troca de governo que chegou pelas urnas por outro que não foi eleito. Esse julgamento precisa provar que houve crime de responsabilidade. E o processo evidenciou que houve integral respeito à lei (..) A mentira não está só no fato dos créditos suplementares. Antes eram seis, aí passaram para quatro e agora são três. Acredito que no futuro serão zero. Não se pode usar aspectos genéricos sem avaliar as características específicas desse processo.

4. Roberto Requião (PMDB-PR) pergunta. Não há crime, é um simulacro (..) Alguns senadores aqui presentes, quando ministros do governo, contestaram os atos? E por que agora estão defendendo o afastamento da presidente eleita?

Dilma responde. Acredito que, de fato, temos de repensar essas relações entre a política e interesses econômicos no nosso país (...) Até o momento que o TCU mudou sua interpretação, nenhum senador ou funcionário técnico do governo questionou essas medidas. Não houve nenhuma pedalada. O que se fazia era o praxe. Quando tivemos a decisão do plenário do TCU, tomamos as medidas. No caso dos decretos suplementares, teve momento, inclusive, em 2009, foi autorizado não só pelo TCU, mas pelo Congresso. Sem crime de responsabilidade, qualquer processo de impeachment é um claro ataque à Constituição. É um golpe de Estado em novas vestimentos, o chamado golpe de Estado parlamentar.

5. Antonio Anastasia (PSDB-MG) pergunta. Ele iniciou o questionamento comentando passos que culminaram no processo, a emissão de decretos, metas fiscais e datas de publicações de suspeitas. "Gostaria que vossa excelência pudesse nos explicar como seria possível, conforme vosso dizer, haver atraso se não há prazo para o pagamento?", finalizou o parlamentar após o microfone ser cortado e restabelecido com a autorização de Lewandowski.

Dilma responde. "Nada mais regulado do que a Constituição, a LDO, a LOA e a Lei de Responsabilidade Fiscal. Colocamos na LOA que nenhum decreto poderá ser aplicado sem respeitar limites da meta. Discordo da afirmação que desrespeitamos o Legislativo  (...) A decisão do plenário é de outubro e decreto foi assinado em agosto. A não ser que se aceite retroatividade, é difícil falar em crime de responsabilidade", disse a presidente em resposta ao senador Anastasia, citando ainda as subvenções do Plano Safra, que têm como base lei de 1992, e lamentando o voto contrário do PT à Lei de Responsabilidade Fiscal durante o governo de FHC.

6. Simone Tebet (PMDB-MS) pergunta. Ela afirmou que "pedaladas" foram parte da estratégia da meta fiscal para encobrir gastos e mostrar um "Brasil irreal". "Se vossa excelência pudesse voltar atrás, continuaria a praticar todos os atos realizados? Se vossa excelência voltar à presidência, o que fará em busca do reequilíbrio fiscal?", finalizou a pergunta. 

Dilma responde. "Não começamos a maquiar as contas desde 2009, começamos a enfrentar a maior crise desde 1929. Em 2010, temos uma significativa melhora, mas a crise continua lá fora, e forte. Aí veio a crise do Euro. Nós não inventamos a crise não, ela estava aí. Nós seguramos o emprego, mas a crise nos atingiu. Em outubro de 2014, teve o fim do super ciclo das commodities (...) Dizer que a crise fiscal do Brasil é por causa de três decretos, é inverter completamente a causalidade. Não é devido a isso. Pelo contrário, o FMI tem revisado as políticas de austeridade fiscal. Eles estão gerando uma nova lista de regras fiscais. É impossível reverter uma crise da proporção que enfrentamos só cortando"

7. Aluysio Nunes (PSDB-SP) pergunta. Começou afirmando que o governo Dilma omitiu dados orçamentários, cometendo crimes "de caso pensado", alegando agora que seria vítima de uma golpe. "Conheço a realidade do golpe de 1964. Agora a senhora falseia a história sobre a natureza do processo que vivemos. A atuação do STF reforçou a obediência aos preceitos legais. O país vive um momento de estabilidade e paz. Por quais motivos vossa excelência não recorreu ao STF ou ao MP em relação ao impeachment, mas sim à ONU?. Ao contrário de Jango, você tem a quem recorrer".

Dilma responde. A Constituição determina que são vocês quem tem que me julgar. A hora que julgarem e condenarem uma presidente inocente é um golpe. Não acabei de tratar o assunto aqui. Por que não recorri ao Supremo? Ora, porque vocês ainda não votaram. Esse processo fundamentalmente passa pelos senadores e senadoras. Estou aqui a respeitá-los os respondendo.

8. José Medeiros (PSD-MT) pergunta.  que está havendo aqui não é um golpe. É a democracia em ebulição. A economia derreteu e não foi por causa dos outros", disse antes de finalizar com a pergunta se Dilma iria "continuar com as lampanas (mentiras) contadas nas eleições de 2014

Dilma responde. Dilma voltou a combater a ideia de que a crise foi causada por decretos de créditos suplementares, alegando que medidas econômicas envolvendo o Plano Safra tinham como objetivo estimular a economia. "Essa questão da tempestade perfeita é outro problema. Cria-se uma expectativa pessimista. É a mesma coisa que aconteceu com a Copa do Mundo e a Olimpíada. Não é possível toda essa onde de pessimismo atingindo a área econômica e política do Brasil".

9. Paulo Bauer (PSDB-SC) pergunta.  Questionou as "maquiagens" promovidas pelo governo e lembrou que ainda nas eleições de 2014 o candadito de seu partido, também senador mineiro Aécio Neves, alertou durante debates o "estelionato eleitoral" que era cometido ao se omiir as dívidas com bancos federais. "Vossa excelência acha correto que o governo não confira o seu débito com as instituições financeiras, independentemente de quais forem?".

Dilma responde. "Não é a presidência quem estabelece as estatísticas e os débitos computados, mas o Banco Central.  Não só passamos a computar a partir de 2015 como pagamos o retroativo que o Banco Central definiu a partir da decisão do TCU. Pagamos também a parte que estava vencendo em 2015. Concluímos todo o processo respeitando as procedências legais"

10. Lasier Martins (PDT-RS) pergunta. Ele questionou se Dilma teria recebido algum alerta de que seus procedimentos fiscais eram ilegais e disse ainda que "não é possível que não tenha visto a roubalheira na Petrobras". "Isso tudo está imbricado no governo que a senhora herdou de seu padrinho político", afirmou.

Dilma responde. A presidente começou dizendo que já estava repetindo respostas e recorreu ao trecho da Constituição que trata sobre os decretos de créditos suplementares. "Ela (constituição) proíbe créditos suplementares desde que não haja autorização legislativa, mas ocorre que a LOA 2015 é uma autorização legislativa. Ela autoriza e diz em que condições (...) O presidente não é o responsável pelo Plano Safra. É uma lei, aprovada pelo Congresso". A presidente afastada lembrou ainda que o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) teria feito mais de 100 decretos semelhantes aos que culminaram em seu julgamento. 

11. Aécio Neves (PSDB-MG) pergunta: Ex-candidato a Presidência da República iniciou sua fala afirmando que não está alegre em questioná-la, já que não imaginava encontrá-la nessa situação após o último debate entre os dois em 2014. "Não é desonra alguma perder eleições, sobretudo quando se cumpre a lei. Eu não diria o mesmo de vencer eleições faltando com a verdade", disse o político antes de relembrar questionamentos feitos durante os debates naquela eleição e finalizar perguntando se ela e seu governo se sentiam "responsáveis" pela recessão e pela crise.

Dilma responde: A presidente afastada iniciou sua resposta afirmando que também não esperava reencontrar neste momento, em seu julgamento, o seu principal rival nas eleições de 2014. "Nos debates da campanha nós nos respeitamos. Mas, após minha eleição, foram tomadas medidas para desestabilizar o meu governo", disse antes de citar a auditoria nas urnas eletrônicas e nas contas de sua campanha, não sem lembrar que as contas de campanha de Aécio também são alvo de investigação. A presidente falou ainda sobre a queda no preço das commodities, que impactaram na arrecadação do país, e lembrou outros momentos da crise mundial.

12. Ronaldo Caiado (DEM-GO) pergunta: Ele relembrou dados da crise desde 2014. "Se os eleitores soubessem disso, votariam na senhora?". "Só os bancos estatais não foram pagos mensalmente. Os privados, foram. Por que a preferência aos privados em detrimento aos oficiais?", continuou o parlamentar. Ultrapassado o tempo de 5 minutos, Caiado teve o microfone cortado e continuou a falar. Após ter o microfone religado para finalizar a pergunta, o parlamentar exibiu gráficos e finalizou dizendo que a presidente afastada cometeu crime ao editar os decretos de créditos suplementares. 

Dilma responde: "O Plano Safra foi executado substantivamente pelo Banco do Brasil. Os bancos privados entram com participação bem menor que 10% ou via Banco do Brasil. Não é possível dizer que demos um tratamento diferente", disse antes de completar defendendo a importância do plano Safra no Programa Nacional de Agricultura Familiar e de outros pogramas no combate à pobreza. "Fui acusada por financiar o porto de Mariel, em Cuba. Hoje, com o plano do presidente Obama tem de reatar as relações comerciais em Cuba, nosso porto de Mariel é disputado por todos que querem investir na ilha". 

13. Lídice da Mata (PSB-BA) pergunta: Ela iniciou sua fala elogiando a paciência e a coragem de Dilma, chegando a citar o cantor Chico Buarque, presente no julgamento: "Como diria o poeta, 'página infeliz da nossa história'". Ainda de acordo com a parlamentar, as teses da acusação são frágeis. "Trata-se de um golpe parlamentar. O golpe não é contra a senhora, mas contra a democracia, transformando o Congresso em colégio eleitoral", ponderou Lídice que finalizou questionando a presidente sobre as chamadas "pautas-bombas", não sem antes criticar o programa do governo interino "ponte para o futuro", que seria, na verdade, uma "ponte para o governo".

Dilma responde. A presidente afastada aproveitou a citação de Chico Buarque e também lembrou um trecho da música do cantor: "estamos aqui para evitar que o nosso povo 'ande de lado, olhe para o chão'", trecho da canção "Apesar de Você", que faz referências ao período da ditadura militar. Dilma completou falando sobre a atuação de Eduardo Cunha, quando presidente da Câmara, como "a mais danosa possível" desde a tentativa de aprovação da Lei dos Portos, em 2014. "Ele não queria a aprovação sem contemplar alguns interesses estranhos". Em seguida, ela elogiou o papel do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), na aprovação desta lei. Dilma finalizou sua resposta afirmando que o desinvestimento na área da educação provocará "consequências muito graves nas próximas décadas".

14. Magno Malta (PR-ES) pergunta: Ele afirmou que os senadores que segum aliados a Dilma até o fim têm espírito de cachorro, "que morre com o dono", diferente de outros que debandaram e têm espírito de gato, "que gostam do ambiente". "Quem mentiu no processo eleitoral? Foram os marqueteiros? A senhora não tinha as informações? A senhora mentiu no processo eleitoral?".

Dilma responde. "Não tenho bola de cristal, o ser humano não controla o futuro. Ninguém controla a política do Banco Central americano. Não sabíamos que teríamos uma desvalorização tão grande do Real. O que não era esperado era a crise política". Dilma criticou ainda o incentivo a metas superestimadas: "É péssimo para o combate à crise. O 'liberou geral' leva a gastos insustentáveis", finalizou. 

15. Lúcia Vânia (PSB-GO) pergunta: "O pagamento intempestivo dos passivos com os bancos estatais levou ao contingenciamento e à paralisação do governo. Fatores externos contribuíram com a crise, mas que a política fiscal foi responsável pelo desequilíbrio das contas públicas", disse antes de perguntar se Dilma sabia da situação dos passivos do Banco do Brasil sobre o Plano Safra.

Dilma responde: Em resposta aos questionamentos de Lúcia Vânia, Dilma voltou a falar sobre a "súbita mudança" do entendimento do TCU sobre o caso do Plano Safra. "A lei não retroage, a metodologia não é minha, é do BACEN, e foi aplicada em governos anteriores. Não se pode mudar a regra no meio do jogo, principalmente quando o país enfrenta uma crise destas proporções. Isto é algo que eu não considero correto. Por todos os critérios de responsabilidade fiscal".

16. Vanessa Grazziotin (PCdoB-AM) pergunta: "A maior vítima deste processo não é a senhora, mas o povo brasileiro (...) Esse aqui é o embate político de quem perdeu as eleições, o PSDB pagou R$ 45 mil por essa denúncia", disse antes de ser interrompida por vaias e a sessão ser interrompida por Lewandowski. Ao retomar a palavra, a senadora perguntou quais os ganhos para o Brasil se o Senado decidir por sua volta.

Dilma responde: "Havendo uma decisão que autorize o impeachment sem crime de responsabilidade, não só estaremos diante de um golpe mas de uma eleição indireta. Um retrocesso das práticas que superamos depois da resistência democrática e do fim da ditadura militar". A presidente criticou ainda o excesso de partidos, que levará a instabilidade em todos os futuros governos, defendendo a reforma política.

17.  Cássio Cunha Lima (PSDB-PB) pergunta: Ele disse que o processo de impeachment não surgiu do Congresso, mas sim "das ruas, nas mãos de jovens apartidários". "Vossa excelência parece o pai que diz ao filho: 'meu filho, você pode torcer para qualquer time, desde que seja para o Flamengo'". Ele ainda acusou a presidente de não responder às perguntas feitas, finalizando com o questionamento de quantas reuniões ela participou para discutir o Plano Safra.

Dilma responde: Ela disse discordar que o processo veio das ruas, uma vez que algumas das lideranças dos protestos foram "enfáticas e esfuziantes" em tirar fotos com Eduardo Cunha, lembrando o episódio envolvendo Kim Kataguari, líder do MBL. "Nenhum de nós é ingênuo de não saber quem é o responsável por aceitar esse processo. Foi uma chantagem explícita de Cunha", disse antes de ironizar o fato dela, que se diz inocente, estar sendo julgada antes do ex-presidente da Câmara. 

18. Cidinho Santos (PR-MT) pergunta: Ele iniciou sua fala afirmando que votou na presidente Dilma nas eleições de 2014, tendo inclusive pedido votos para ela. Porém, em seguida ele continuou questionando a mudança brunca na política econômica de seu governo entre o que foi apresentado na eleição e o que realmente foi efetuado.

Dilma responde: A presidente afastada respondeu dizendo que ao longo do ano passado foram feitos diversos ajustes, mas que o Minha Casa, Minha Vida não foi suspenso por ela, mas sim pelo governo provisório de Temer. "A faixa 1 do Minhas Casa, Minhas Vida foi interrompida pelo governo provisório e substituída pelo financiamento 'Minhas Casa, Minha Mansão", brincou. Ela também se defendeu da acusação do senador Cidinho Santos (PR-MT) de que seu governo acabou com o Pronatec. "A suspensão do programa se deu agora em 2016". Sobre o Fies, Dilma alegou apenas que alguma correções foram feitas, como a exclusão de universidades sem qualidade do financiamento. "Fizemos um imenso esforço, apesar de tudo, para preservar os programas sociais. Aqui me cobram por não ter contingenciado na metade do ano. Eu não contingenciei porque se fizesse isso, não sobrava nem meio programa social. Nós tivemos responsabilidade de fazer isso, e estamos sendo punidos por isso", completou. 

19. Armando Monteiro (PTB-PE) pergunta: Afirmou que não existe razão que justifique o crime de responsabilidade do ponto de vista da Constituição. "É no mínimo questionável atribuir essa responsabilidade. Seu afastamento seria uma grave lesão à Constituição deste país. O seu governo oi responsável do ponto de vista fiscal", argumentou, dizendo que a culpa do déficit atual vem da queda da atividade econômica.

Dilma responde: A presidente afastada argumentou dizendo que acredita que a fase de ajuste de curto prazo não tem mais fôlego, sendo "fundamental agora fazer as reformas necessárias ao país - que têm que olhar os interesses dos trabalhadores, da classe média e os programas sociais. Não há como sair da crise, em nenhum país do mundo, sem alternativas. Algumas nos países desenvolvidos passaram pela ampliação da dívida pública", concluiu. 

20. Eduardo Amorim (PSC-CE) pergunta: Questiona se a culpa da situação econômica do país não deve ser imputada a ela. O congressista se diz decepcionado com o atual governo e questiona o perfil de boa gestora de Dilma. “Pensei que vossa excelência teria zelo com as contas públicas”, diz Amorim, ressaltando ter faltado maior abertura e diálogo da presidente com os parlamentares.

Dilma responde: Dilma reafirma que os decretos publicados pelo governo federal e questionados no processo do impeachment estão aprovados pela Constituição. "Se há crime, há crime desde 2000". A presidente afirmou que a corrupção no Brasil não origina-se nos governos petistas e que foram os mandatos de Lula e da própria Dilma que foram mais contundentes no combate à corrupção. Sobre a situação da economia, a presidente volta a falar que a forte queda da arrecadação internacional afetou as contas públicas. “É uma constatação”, diz ela.

21. Acir Gurgacz (PDT-RO) pergunta: Sucinto, o parlamentar questiona como ficaria a questão da governabilidade e da aprovação popular. “De que maneira pretende construir a governabilidade caso volte à presidência da República?”, questiona.

Dilma responde: A presidente Dilma Rousseff afirma que com a abertura do processo de impeachment houve ruptura democrática. Segundo ela, caso retorne, apoiaria a aprovação de um plebiscito para novas eleições diretas e para tratar da reforma política. A presidente afirma que o aumento do número de partidos políticos dificulta a governabilidade. “Esse é o processo de fragmentação partidária, que afeta a governabilidade”, afirma.

22. Gleisi Hoffmann (PT-RR) pergunta: Ela inicia a pergunta recordando os momentos vividos por Dilma na ditadura e diz que a vida da presidente é um ode à democracia. Segundo a senadora, a crise econômica tem participação direta do Congresso e que, caso as recomendações do TCU fossem seguidas à risca, não seria possível executar, segundo ela, os diversos programas de infraestrutura e de melhoria das condições sociais. A senadora pede para a presidente falar sobre os investimentos feitos pelo governo petista.

Dilma responde: A presidente fala que as obras em aeroportos, entre outras, permitiu que milhares de brasileiros voassem de avião pela primeira vez. Mas a presidente pede desculpas “por não ter atendido às expectativas” do Congresso quanto ao diálogo e diz, hoje, ter clareza da necessidade de maior abertura. Mas ressalta: “isso não é base para crime de responsabilidade”.

23. Paulo Paim (PT-RS) pergunta: O senador gaúcho diz ter orgulho de ter participado por longa data da carreira política da presidente Dilma Rousseff (PT). Segundo o político, o processo de impeachment foi aberto porque a presidente atua com a força da verdade. E diz: “A dor de uma traição é pior que as balas de uma baioneta”. O presidente cita ganhos verificados nos governos petistas, como o ganho real no salário mínimo.

Dilma responde: A presidente Dilma Rousseff (PT) considera os ganhos com a valorização do salário mínimo a principal medida verificada em seu mandato, o que permitiu a diminuição da desigualdade social. Dilma cita ainda o programa Mais Médicos e a Lei de Cotas, que, segundo ela, permitiu diversificar o perfil das universidades federais. “Isso mudou a cor da nossa universidade e a tornou muito mais democrática”, disse.

24. José Aníbal (PSDB-SP) pergunta: Senador inicia a pergunta recordando os tempos em que conheceu a presidente Dilma, há 50 anos, em Belo Horizonte, na militância política e no combate à ditadura militar. O político avalia que Dilma não reconheceu seus erros no processo de impeachment. “A senhora se tornou uma especialista em terceirizar sua responsabilidade”, disse. Aníbal questiona as políticas sociais implementadas pelo governo petista. E diz: “O que foi dado com mão pequena foi tomado com mão grande”.

Dilma responde: Dilma diz que Cunha não é inocente no processo do impeachment. "Esse processo de impeachment tem o jabá do pecado original: a chantagem explícita." E afirma que não quer transferir responsabilidades e pede que Aníbal também não transfira as suas. Segundo a presidente, não pode ser atribuída responsabilidade pela crise econômica aos três decretos citados no processo de impeachment. E cita a crise energética e a queda na arrecadação como fatores relevantes para os problemas econômicos.

25. Ataídes Oliveira (PSDB-TO) pergunta: Ele apresenta seus questionamentos à presidente Dilma Rousseff (PT). O político afirma que o Fies foi apresentado na campanha de 2014 e depois a presidente encerrou o programa. O senador afirma que os três decretos não são os únicos crimes cometidos pela presidente Dilma.

Resposta: Dilma inicia a resposta ao senador tucano questionando a pergunta do político: "Se há tantos crimes, senador, por que eles não estão na denúncia?”. Segundo a presidente, foi feita revisão das normas do Fies de forma a adequá-lo. Dilma diz que, pouco antes das eleições de 2014, 1,4 milhão de pessoas foram excluídas do programa por não estarem adequadas às exigências. Uma das novas regras é o impedimento de participação aos estudantes que tirassem zero nas provas do Enem.

26. Álvaro Dias (PV-PR) pergunta: O senador classifica de “ficção do golpe” o tratamento dado pelos apoiadores da presidente ao processo de impeachment. Segundo o político, a população brasileira clama pela substituição do modelo de governança e não apenas pela troca de governantes. E diz: “Outra ficção é o sucesso do seu governo, que foi um fracasso rotundo”.

Dilma responde:  A presidente questiona a origem do golpe, que, segundo Álvaro Dias (PV-PR), nasceu nas ruas do país. “O processo não começou nas ruas, mas pelas mãos de Eduardo Cunha”, rebate Dilma.  A presidente explica que a execução de um golpe não precisa necessariamente de armas e do poder militar e cita o 18 Brumário de Luís Napoleão, na França. “Estamos diante de um golpe parlamentar, sim, enquanto não provarem o crime de responsabilidade”, afirma.

27. Lindbergh Farias (PT-RJ) pergunta: Ele inicia sua fala com elogios à presidente e pergunta para a presidente “de onde ela tira tanta força”, diz ele com a foto da presidente, ainda jovem, em julgamento da ditadura militar, em mãos. O petista diz tratar-se de um golpe de classe contra os mais pobres tramado pela burguesia brasileira e que Eduardo Cunha e Michel Temer são os responsáveis pela conspiração parlamentar contra o mandato de Dilma. “Presidenta, quero que a senhora fale o que está por trás do golpe”.

Dilma responde: A presidente Dilma diz ter clareza que o processo de impeachment foi aberto somente depois que o PT decidiu votar pela cassação de Eduardo Cunha no Conselho de Ética da Câmara. A presidente afirmou ainda que em toda crise há um “conflito distributivo” e que este “ficou claro  quando o pato apareceu nas ruas”, disse em referência ao apoio da Fiesp aos protestos favoráveis ao impeachment. E mais: “O padrinho se chama Eduardo Cunha. Os outros foram coadjuvantes e emprestaram seu nome ao mais vergonhoso processo de impeachment”. Segundo Dilma, a crise não pode ser justificativa para a adoção de um pauta ultraliberal e reacionária com efeitos sobre negros e outras minorias, como a população LGBT.

28. Tasso Jereisatti (PSDB-CE) pergunta: senador afirma que os argumentos de Dilma Rousseff sobre a crise econômica internacional não se sustentam. O político cita dados de crescimento de mercados globais em 2014. O senador fala que os crimes imputados a Dilma “são apenas a ponta do iceberg, aquilo que surge acima da superfície”. O político afirma ter havido um esquema para maquiar dados da economia. Jereissati questiona por que ocorreu, segundo ele, diferença de tratamento entre bancos públicos e privados.

Dilma responde: em resposta ao senador, Dilma diz que ao falar em árvore frondosa referia-me às conquistas obtidas com o regime democrático e à Constituição de 1988, não à economia. “Há um ataque às instituições”, diz ela sobre o processo de impeachment e acrescenta que “fungos e parasitas podem correr a Constituição”. A presidente lembra que, em 2008, a crise abateu-se sobre países desenvolvidos muito fortemente, enquanto no Brasil foram adotadas políticas anticíclicas. Anos depois, no entanto, diz Dilma, países emergentes foram também afetados, o que reduziu o crescimento chinês, antes em dois dígitos, e de outros países, incluído o Brasil. Segundo Dilma, o impacto da crise era inevitável, mas outros fatores tornaram-na mais incisiva. “Vamos fazer um ajuste, ultrapassar esse período e sair da crise, mas nenhuma de nossas propostas foi aprovada pelo Congresso”, disse Dilma. Segundo ela, em vez da aprovação das propostas apresentadas pelo governo federal em 2015, o Congresso apresentou “pautas-bomba”, que, em vez de ajudar a diminuir o impacto, tornaram a situação mais crítica. Portanto, diz Dilma, somado aos fatores econômicos internacionais, a instabilidade política “gigantesca” e o aprofundamento das investigações da operação Lava Jato impactaram na situação da economia.  

29. Fátima Bezerra (PT-RN) pergunta: senadora diz sentir-se triste em ter que participar de um "tribunal de exceção" em seu primeiro mandato. A congressista afirma que Dilma enfrenta o julgamento com a "coragem dos inocentes". E diz: “Espero que a marcha dos derrotados nas urnas não prospere”. A senadora pergunta a Dilma como ela se sente ao ver que pode ser retirada da presidência por inserir a educação no projeto do governo federal.

Dilma responde: a presidente afastada faz um balanço de programas sociais do governo federal, citando ações adotadas na educação, como Ciências sem Fronteiros, Pronatec, a Lei de Cotas e os valores do pré-sal destinados ao setor, o que ela classifica por ela como “passaporte para o futuro”. 

30. Regina Sousa (PT-PI) pergunta: a política petista diz que Dilma é vítima de “maus perdedores”. “Minha presidenta, não posso e não quero tratá-la como ré. Aqui, a senhora é vítima”. A senadora afirma que a presidente desafinou ao ousar, “sendo mulher, de esquerda e sem marido para posar na fotografia”.

Dilma responde: a presidente Dilma diz que o processo de impeachment tem também um tom de misoginia. “Eu fui acusada de ser uma mulher dura. Eu fui uma mulher dura em meio a homens meiguíssimos. Eu nunca vi ninguém acusar homem de ser duro, e a gente sabe que eles são”, disse, acrescentando que, com isso, conseguiram criar sobre ela “um nível de desumanização enorme”. A presidente agradeceu o apoio de todas mulheres do Brasil e recorda as muitas flores recebidas por ela nos últimos anos.

31. Humberto Costa (PT-PE) pergunta: ele elogia a força e a perseverança de Dilma por ter ido ao Senador responder aos questionamentos. O petista diz à presidente ser “entusiasta de sua proposta de convocar um plebiscito para que o povo decida se quer antecipar eleições diretas”.

Dilma responde: a presidente diz concordar com o discurso do petista e reitera que a retomada da “governabilidade vai passar por repactuar por baixo o Brasil”. Dilma explica o motivo de considerar o processo de impeachment e fala que em uma democracia é prevista a retirada do presidente. “Ter voto não é ter salvo-conduto. Pode ser eleito um presidente, mas ele pode passar por um processo de impeachment, mas é preciso que ele tenha cometido um crime de responsabilidade”, afirma Dilma.

32. Jorge Viana (PT-AC) pergunta: ele questiona a isenção dos “juízes” do processo de impeachment. “Que chance há para a presidente Dilma encontrar justiça nesse tribunal?”, questiona. O petista afirma que em uma democracia a estabilidade do governo depende de oposições leais à Constituição.

Dilma responde: presidente afirma que a construção da estabilidade econômica de forma perene depende da estabilidade política. Dilma reitera a proposta de convocação de plebiscito para que a população decida sobre a antecipação das eleições.

33. Hélio José (PMDB-DF) pergunta: senador relembra a trajetória política ao lado da presidente Dilma Rousseff (PT), de quem foi vice-líder no Senado. O político diz ter concordado com a abertura de processo do impeachment, mas que o senador Paulo Paim (PT-RS) apresentou argumentos que fizeram-no refletir sobre o afastamento definitivo da presidente. Hélio José, que disse ser “sabedor da necessidade de preservar os direitos dos trabalhadores”, perguntou a Dilma se ela era favorável à reforma da previdência social e, se sim, em quais condições. O senador questionou ainda quais as reformas necessárias para colocar o Brasil nos trilhos.

Dilma responde: presidente diz que, antes da adoção de qualquer modelo de reforma previdenciária, é necessário convocar um fórum formado por trabalhadores, empresários e parlamentares para discutir o tema. Dilma afirmou ainda que não considera a CLT “algo ultrapassado” e que é impressionante como os direitos trabalhistas beneficiaram o país.

34. Ângela Portela (PT-RR) pergunta: diz que Dilma enfrentou uma "oposição raivosa" e venceu duas eleições pensando nos mais pobres. Ela fala sobre os cortes do presidente interino Michel Temer e questiona Dilma Rousseff. "Que uso vossa excelência acha que o governo interino pretende dar aos recursos desses ministérios?"

Dilma responde: "Não posso supor o que farão. Só posso dizer o que estão fazendo. Estão acabando com a alma do 'Minha casa, Minha vida'. Eu vejo, senadora, que interromperam de fato o Pronatec. No ministério da educação, posso acrescentar ainda a suspensão do Ciência Sem Fronteiras. Na saúde, fiquei temerosa quando diziam que o Mais Médicos não cabe no orçamento do país", respondeu Dilma.

35. Reguffe (sem partido-DF) pergunta: fez dois questionamentos para Dilma Rousseff. “Eu vi aqui alguns falarem sobre o governo interino. Eu não faço parte da base e não votei em vossa excelência, nem no vice. Não fiz parte do governo. Sou base da sociedade. Não sou dono da verdade, mas tento fazer o melhor pensando naquele que represento. Quero fazer duas perguntas. Vossa excelência sabia o que estava fazendo ao assinar os decretos? Tinha consciência ou assinou sem saber? O segundo questionamento. Pode um presidente desrespeitar as leis do país? E se pode, como exigir que um cidadão comum as respeite?”.

Dilma responde: “Ninguém pode descumprir a constituição do país, muito menos o presidente. E também nenhum Senador. Nenhum de nós pode. É ela que garante que nós tenhamos uma vida democrática e civilizada”, rebate Dilma. Ela continua a resposta ao senador Reguffe. “Eu tenho certeza que uma das piores consequências de tentar colocar a responsabilidade numa meta orçamentaria, que ninguém nunca viu, é extremamente danoso ao país. Além disso senador, se criminalizarem dessa forma incorreta, em relação a execução orçamentaria, asseguro ao senhor que tem uma consequência direta que já esta aparecendo. O gestor ao invés de colocar a meta que ele deve perseguir, ele não vai fazer isso. Ele vai fazer uma meta frouxa. Uma meta que não seja correta. Ele vai dar uma folguinha. Aí senador, o que vai imperar não vai ser a responsabilidade fiscal. Eu considero muito perigoso não perceber que o grande instrumento de controle é o que a lei de responsabilidade fiscal manda. Não houve por conta desses decretos nenhum aumento a mais”.

36. José Agripino (DEM-RN) pergunta: ele questiona por que Dilma não antecipou providências atendendo o Tesouro e o TCU.

Dilma responde: Em resposta ao senador José Agripino (DEM-RN), Dilma diz que o questionamento sobre o Plano Safra ser ou não operação de crédito é no mínimo controverso. “Se vão criminalizar a presidência da República no ano de 2016, então criminalizem todos desde o ano 2000”, afirma Dilma no Senado. "Não é possível que uma coisa que foi feita por todos os governos, agora o TCU diz que não pode mais fazer. Isso é um retrocesso. Mudaram a regra do jogo quando estava no segundo tempo do jogo. E querem que a gente volte atrás não só para o primeiro tempo desse jogo, mas para o primeiro tempo de todos os jogos que antecederam. Esse processo tem uma falha. Beira ao mais completo e integral absurdo”, diz Dilma ao senador José Agripino (DEM-RN).

37. Randolfe Rodrigues (Rede-AP) pergunta: senador parabeniza Dilma Rousseff e cita o político britânico Winston Churchill “Quero saldar a sua coragem. Coragem é a primeira das virtudes de uma estadista, dizia Churchill”. O senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) questiona se houve algum fato nos bastidores que demonstre uma busca do PMDB para inibir investigações da Polícia Federal e do Ministério Público. Ele também afirma que o julgamento de Dilma Rousseff acontece por causa das manobras do deputado afastado Eduardo Cunha.

Dilma responde: “Sobre o senhor Eduardo Cunha. A situação vai se agravando a medida que mais e mais questões relativas a descobertas ou denúncias de pessoas que viraram delatoras, começam a surgir contra ele. No momento em que há uma flutuação no apoio que a oposição daquele época dava ao senhor Eduardo Cunha, essa flutuação é dada porque fica evidente para a população que eram práticas absolutamente criminosas, como lavagem de dinheiro”, diz Dilma.

38. Flexa Ribeiro (PSDB-PA) pergunta: senador fala sobre a metáfora utilizada por Dilma Rousseff no início do julgamento. “Vossa excelência insiste em usar uma imagem de retórica afirmando que a árvore da democracia está sob a ameaça de um machado a ser manejado pelo Senado. Contudo, vossa excelência está com uma visão deturpada. Não existe machado, mas sim uma tesoura de poda que é a ação do povo e dos homens públicos que buscam tirar os ramos envenenados da árvore. Você concorda com o que foi dito pelo Lula, quando em 13 de abril de 2015, ele disse: 'Dilma pedalou para honrar pagamentos de programas sociais'. Em qual Dilma o povo brasileiro vai acreditar?”.

Dilma responde: “Me desculpe, senador, mas o senhor fez algumas confusões. Quando eu me referia a árvore eu disse que a ditadura cortava com um machado. E agora, com o golpe parlamentar, atacam com fungos e parasitas”, afirma Dilma ao senador Flexa Ribeiro (PSDB-PA).

39. José Pimentel (PT-CE) não fez pergunta para Dilma Rousseff. "Quero registrar que tive o privilégio de ser líder do governo de Dilma no Congresso. Nesse período, quero prestar meu testemunho como a senhora conduzia os decretos e projetos de lei encaminhados ao congresso. A senhora tinha um cuidado muito grande ao analisar cada autógrafo. Parabéns pelo trabalho de vossa excelência", parabenizou.

Dilma responde: “Eu agradeço ao senador e quero também dizer que para mim é uma honra o que o senador José Pimentel disse dada sua grande seriedade e competência. Presidente Lewandowski, o senador José Pimentel não me fez perguntas, então devolvo a palavra ao senhor”, disse Dilma.

40. Telmário Mota (PDT-RR) pergunta: “Se a Dilma voltar, como e com quem ela vai governar? Essa é a grande pergunta da nação brasileira”

Dilma responde: “Obrigada, senador Telmário. Vou ser muito sucinta na resposta. Deus me livre do que o senhor chamou de PMDB do mal. Eu respeito vários integrantes do PMDB que ao longo da história representou o centro democrático de nosso país. Não podemos esquecer o PMDB de Ulysses Guimarães que levou à constituição cidadã de 1988. Nesse processo, algumas coisas ficaram muito difíceis. O Brasil sempre teve um centro democrático e dentro dele, teve lideranças progressistas. Lamento que nos últimos tempos essa liderança tenha mudado em uma liderança ultraconservadora e fundamentalista”, ponderou Dilma.

41. Cristovam Buarque (PPS-DF) pergunta: “Quais foram as qualidades para você escolher Michel Temer como seu vice, e o que ele teve de tão bom para você escolher ele novamente no segundo mandato? E agora temos que escolher entre você e ele”

Dilma responde: “Michel Temer foi escolhido para ser meu vice porque acreditávamos que ele era desse centro democrático progressista e transformador. Nós acreditávamos que ele representava o que havia de melhor no PMDB. Eu não sei dizer quando isso começou a mudar”, disse Dilma.

42. João Capiberibe (PSB-AP) pergunta: ele diz que está convencido de que Dilma Rousseff não cometeu crime de responsabilidade e de que o processo é puramente político. Ele questiona Dilma Rousseff se seria possível uma governança suprapartidária com a volta de Dilma à presidência.

Dilma responde: em resposta ao senador João Capiberibe (PSB-AL), Dilma disse que para sair da crise, o Brasil precisa de um caráter suprapartidário, mas também de recorrer ao plebiscito popular.

43. Waldemir Moka (PMDB-MS) comenta: “Saberemos através de uma votação livre e democrática se vossa excelência cometeu ou não crime de responsabilidade. Fiz parte da comissão e vários especialistas foram ouvidos. A partir daquele trabalho longo, cuidadoso e dedicado, cada senador pode fazer sua avaliação. Tenho minha convicção e vou externá-la amanhã ou na madrugada de quarta. Dito isso quero apenas dizer que essa sessão foi feita na minha avaliação para ouvi-la. Era um direito do Senado ouvi-la. Vossa excelência teve a oportunidade de aqui se expressar. Acho que isso é muito importante. A única coisa que vou pontuar. Só eu vou votar pela quinta vez no processo. O primeiro de admissibilidade. Duas vezes na comissão, a quarta na sessão de pronúncia e amanhã o voto definitivo. Cinco vezes nesse processo... Então respeito o ponto de vista de cada um dos senadores. Mas acho que cada um aqui vai ter o seu juízo. É essa a ideia que eu tenho”

Dilma responde: como não houve pergunta, Lewandowski perguntou se a presidente afastada desejava se manifestar e ela decidiu não falar.

44. Dalirio Beber (PSDB-SC) pergunta: "Você reúne condições e apoio político no Congresso para tirar o Brasil do caos em que se encontra? Você acredita que o seu amplo direito de defesa é um atentado a democracia?", questionou.

Dilma responde: “Eu agradeço ao senador e queria mais uma vez reiterar meu entendimento a respeito desse fato apesar de tê-lo feito em outras oportunidades. Senador, nós todos somos obrigados a respeitar a constituição. A constituição é clara. Não é aquilo que o senhor acredita politicamente que está na pauta nesse processo. O que esta em questão aqui é o ano de 2015. A constituição não permite que eu seja julgada por 2014. Não responderei por 2014. quero mais uma vez reiterar que sem crime de responsabilidade, não interessa se respeitamos ou não o rito, será um crime contra a constituição e democracia brasileira", diz Dilma. "Para provar que eu sou culpada eu tenho que ser culpada em relação aos três decretos e à equalização do Plano Safra", ressalta. 

45. Sérgio Petecão (PSD - AC) pergunta: “Presidente eu me solidarizo com sua condição nesse processo porque o PT tentou investir contra meu legítimo mandato. Me acusaram de situações falsas e mentirosas. Pediram minha cassação a este Senado, mas a Justiça foi muito fiel e não deu seguimento a esse pedido. Isso se chama solidez jurídica. Senhora presidente, chegamos a um momento, que chega a ser impossível não lembrar da frase proferida por vossa excelência de que 'se faz o diabo para ganhar uma eleição'. A senhora teria condições de dizer que pacto foi feito com o diabo para a senhora se eleger? Não seria melhor fazer um pacto com Deus? Fiquei muito preocupado com isso”, questiona Sérgio Petecão (PSD-AC)

Dilma respondeu: “Eu estranho muito as afirmações que você faz ao meu respeito. Não afirmei nenhuma delas. Eu não falei uma barbaridade dessas. Então não vou responder por isso”, disse Dilma.

46. Zezé Perrella (PTB-MG) pergunta: “Você afirma que esse processo é um golpe de estado apesar de ele ser inteiramente previsto em nossa constituição. Mesmo assim, vossa excelência insiste na tese de golpe e acusa Michel Temer de usurpar o poder. Ele apenas cumpriu a constituição. Vossa excelência o acusa de não ter votos, mas ele foi eleito na sua chapa. Vossa excelência afirma que convocará um plebiscito sobre eleições antecipadas. Qual é o artigo da constituição que suporta essa proposta? Como também não caracterizar sua atitude como um golpe? Vossa excelência diz que é um golpe parlamentar e que o Congresso está cheio de parasitar. Na campanha de 2014, a senhora foi o coração valente. Então seja o coração valente agora. Indique por favor quem são os parasitas a que você se refere?”, questiona o senador Zezé Perrella (PTB-MG)

Dilma responde: “Senhor senador Zezé Perrella, quero dizer ao senhor que esse é um processo em que está sendo julgado com determinadas ilegalidades uma presidente da República. Tenho certeza que se eu for condenada sem crime de responsabilidade, isso é um golpe. E não há crime de responsabilidade. Há que provar a existência do crime. Não se pode fazer contornos com uma questão tão grave. Se condenar um presidente por um crime que não cometeu, o que se está fazendo é uma ruptura democrática”, disse Dilma. "Eu sou a presidenta que teve 54 milhões de votos. Todos aqui sabem que quem assegurava essa votação era uma aliança, e que dentro dela tinha um setor que garantia os votos, e outro garantia uma aliança política para levar o país a frente. Os votos não são do senhor Michel Temer. Os votos foram obtidos por mim", completa Dilma.

47. Roberto Muniz (PP-BA) pergunta: “Fico feliz por ver os três presidentes do poder aqui debatendo os problemas do país. Precisamos incorporar isso à nossa cultura democrática. Acho que talvez, na reforma política, possamos construir um momento muito importante para o Congresso Nacional. Presidente, o tempo passado não tem retroatividade. Aqui estamos esclarecendo e aprendendo algumas questões. Transparência é uma coisa séria. Sobre a maquiagem contábil é fato comprovado que os balanços dos bancos mostravam que tinham a receber do Tesouro. A senhora trouxe uma definição do Banco Central e gostaria que fizesse mais esclarecimentos dos créditos dos bancos públicos. Sobre os três decretos, a senhora diz que já ouviu todas as instâncias, quando a senhora assinou, havia algum posicionamento contrário? Sobre a tal da pedalada, queria saber se você esteve presente em alguma reunião. A população está cansada da politicagem”, questiona Roberto Muniz (PP-BA)

Dilma responde: “Senhor senador. Gostaria de falar para o senhor que eu acho que não há como, em qualquer circunstância, sentada aqui ou aí, desrespeitar a constituição. Não acredito que sendo senador ou sendo presidente, se pode desrespeitar a constituição. Portanto quero reiterar para o senhor que tudo o que fiz foi respeitando a constituição. Durante todo esse processo evidenciamos que as práticas não vinham sendo questionadas. No caso dos decretos, só a partir de outubro e sendo, considerando, só três decretos, dois de julho e um de agosto, não havia, senador, a base da acusação que é o dolo. Não havia dolo”, ponderou Dilma.

48. Paulo Rocha (PT-PA), último inscrito para falar, não faz pergunta. "Não vou lhe fazer perguntas, apenas um clamor pela democracia", disse.

Dilma responde: presidente afastada agradece.

Advogados de acusação

Miguel Reale Júnior questiona: “Senhora presidente, em 22 de julho de 2015, vossa excelência manda um Projeto de Lei estabelecendo a proposta de modificação do resultado primário dizendo que esse resultado deveria ser resultado de R$ 55 bilhões para R$ 5,8 bilhões. No entanto, cinco dias depois, você assina um decreto, que é um dos objetos do processo, e abre um crédito suplementar de R$ 1,7 bi cuja exposição de motivos diz que assina esse decreto porque ele não afetaria o projeto da meta fiscal. Ou seja, o que justifica vossa excelência dizer que não pode ser R$ 55 bi e depois passa por cima do Congresso com uma nova meta? A segunda pergunta é saber se vossa excelência fazia reuniões com os secretário do tesouro”, questiona o jurista Miguel Reale Júnior.

Dilma responde: “Eu gostaria de cumprimentar o professor e dizer o seguinte: na nossa compreensão, um decreto só afeta a meta se houver uma alteração no decreto de contingenciamento. Quando não há alteração, o que acontece quando você faz um decreto de crédito suplementar: você, por exemplo, na educação, suplementa uma ação que, para ser efetivada, há que reduzir na mesma proporção outra. Rigorosamente falando, o projeto não afeta a meta porque o contingenciamento impede que ele o faça", afirmou Dilma.

Janaína Paschoal pergunta: pede que Dilma Rousseff explique por que outros países da América Latina como Paraguai, Bolívia e Chile cresceram em 2015, ao contrário do Brasil, e por que houve cortes em 2015 e não em 2014

Dilma responde: “Eu sinto informar a senhora, mas por todas as estatísticas disponíveis no Brasil, a crise não começa em 2014, ela se intensifica no final de 2014 e isso fica claro quando se olha, por exemplo, a queda no preço das commodities agrícolas. Elas se intensificam a partir de outubro. O índice CRB é o índice de todas commodities e  percebe-se por ele onde começam todas as quedas. Não sou eu que estou dizendo. São dados reais. Não só esse, mas, por exemplo, o preço do petróleo, que tem preços altos e começa a cair. Quase todas as commodities no Brasil tiveram esse comportamento. A grande maioria começa a cair em outubro e de forma pronunciada em janeiro. Isto não foi eu que escolhi. Nós vivemos uma transição de um mundo desenvolvido, que afundou em 2008, 2009, 2010 e 2011, nós continuamos segurando e não afundamos. A partir de um momento tivemos uma queda brutal no final do ano de 14 que se intensifica em janeiro de 15”, disse Dilma. "Eu acredito que nós teríamos conseguido superar esse processo se por acaso tivesse havido menos politização na tentativa de inviabilizar o meu governo, que começa logo depois da minha eleição", completou Dilma.


Palavras finais de Dilma Rousseff

“Ricardo Lewandowski e senhor presidente do Senado, Renan Calheiros. Senhoras e senhores senadores. Eu agradeço a atenção dispensada. Acredito que o país precisa de todos vocês, não interessa de que partido, ou o credo que vocês abraçam. Acredito que temos que ter a maturidade de não inventar problemas onde eles não existem e enfrentar os imensos problemas onde eles existem. Precisamos ter a compreensão da situação econômica e orçamentária que o país vive. Não é possível que se tenha agora uma posição fundamentalista em relação às contas públicas. Ou nós paramos de disputar essa área, podemos ser capazes de fazer acordos e recuperar de forma mais rápida a economia brasil iera. Não foi por acaso que diante do fato que a Grã-Bretanha aprovou uma visível saída do Euro, não foi por acaso que isso resultou num debate. Acho que a disputa política em relação a oposição e situação é normal e muito vantajosa num país democrático como queremos ser. Mas tentar inventar crimes onde eles não existem ou transformar o orçamento público num espaço de disputa ideológica que não tem consequências para o país, acho que já temos maturidade suficiente para superar esse processo. É muito grave afastar uma presidenta sem crime de responsabilidade mesmo que o impeachment esteja previsto em nossa constituição. Não se trata de um golpe como aquele que todos que têm a minha idade sofreram na juventude. Mas quando se tira um presidente eleito sem crime de responsabilidade, esse ferimento vai ser muito difícil de ser curado. Por isso eu peço aos senadores que tenham consciência na hora de avaliar esse processo, muito obrigado”.

Veja as regras para acompanhar o discurso de Dilma no Senado

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