Eleitores. Mineira Dona Alaíde, 104, incentiva filhos a não abrir mão do direito do votar

Facultativo, voto após os 70 anos cresce em Minas

No Estado, número aumentou, desde 2012, de 1,194 milhão para 1,371 mihão

Por Fransciny Alves
Publicado em 01 de maio de 2016 | 03:00
 
 
Cidadã. Mesmo não sendo obrigada a comparecer, Alaíde Braga, de 104 anos, não deixa de votar e leva todos os familiares juntos FERNANDA CARVALHO

No Brasil, o voto é facultativo para quem tem idade entre 16 e 17 anos e para as pessoas com mais de 70. No entanto, nem por isso dona Alaíde Braga deixou de comparecer às urnas, mesmo que pudesse ter se abstido há mais de três décadas, já que acumula 104 anos de histórias.

Tímida e com um vestido estampado – seu tipo de roupa preferido –, ela conta que nem se lembra mais da primeira vez que votou. O filho Eunice Braga, 75, “sopra” para a mãe que foi em 1945, e ela repete por várias vezes que irá às urnas neste ano pela 36ª vez em sua vida. “Não tenho a obrigação, mas eu quero votar. É muito importante. Enquanto eu tiver boa, eu vou votar”, declara.

Dona Alaíde faz parte de uma estatística que não para de crescer. É que o número de eleitores acima de 70 anos aumentou das últimas eleições municipais, realizadas em 2012, até hoje. Conforme dados do Tribunal Regional Eleitoral de Minas Gerais (TRE-MG), naquele ano, havia 1,194 milhão de idosos votantes no Estado. Agora, eles somam 1,371 milhão.

A vontade de dona Alaíde de “exercer o direito da cidadania” veio de herança da mãe. “A minha avó foi a primeira mulher a votar no povoado dela, que ficava em São Roque de Minas”, explica a filha caçula, Emere Braga, 63 anos.

Emere ainda confidencia que a mãe e o pai, que faleceu em 1981, incentivaram todos os seis filhos “de sangue” – hoje são quatro –, e outros seis filhos adotivos a votarem. “Ela e meu pai ensinaram para a gente que é importante escolher qual o governo que eu quero. Então, a hora que eu tenho para falar é essa, na eleição”, afirma.

Incentivo. Em época de eleição, dona Alaíde faz até campanha para os candidatos entre os familiares, mas ela explica que não obriga ninguém a seguir a escolha dela. Mesmo que se gabe, bem modestamente, que a maioria dos candidatos em quem votou venceram. “Sempre coloquei todo mundo pra votar, até os bisnetos. É difícil convencer (eles a votarem). Mas cada um tem a sua opinião, e tem que respeitar”.

A esperança de Alaíde por um país melhor e a fé de que por meio de seu voto as coisas podem melhorar são o que enche os filhos dela de orgulho – por mais que ela não ache nada demais uma senhora de 104 anos ir às urnas. “É normal votar”, diz.

“Eu não ia renovar o título, e ela perguntou: por que você não vai renovar? E eu renovei. Ela nos incentiva. Ela é mais que um orgulho, é uma bênção”, conta, emocionado, o filho Eunice.
Ele, assim como as irmãs Irene e Amélia, 86 e 84 anos, respectivamente, irão votar este ano, mesmo que a ida às urnas seja facultativa. Emere diz ainda que, daqui a sete anos, quando deixar de ser obrigada pela lei a votar, vai continuar seguindo os passos da mãe.