Petrobras

Firmas de Youssef receberam pelo menos R$ 206 mi

Empresas têm na contabilidade depósitos de fornecedores

Por Da Redação
Publicado em 01 de novembro de 2014 | 04:00
 
 
Propina.Empresas de fachada receberam depósitos de fornecedores Agência Senado

SÃO PAULO. Contas-correntes de três empresas de fachada usadas pelo doleiro Alberto Youssef para receber propinas de fornecedores da Petrobras registraram depósitos de R$ 206,3 milhões entre novembro de 2009 e dezembro de 2013. Os valores mais altos foram creditados nas contas da GDF Investimentos, que recebeu depósitos num total de R$ 96,3 milhões. A MO Consultoria recebeu depósitos de R$ 70,4 milhões, e a Empreiteira Rigidez, de R$ 39,5 milhões.

Os valores constam em levantamento feito pelo Ministério Público Federal com base na quebra de sigilo bancário das empresas ligadas ao doleiro. Youssef era o operador do esquema de corrupção na estatal, que envolvia políticos aliados do governo.

Na outra ponta, apenas a Empreiteira Rigidez repassou R$ 21,5 milhões para empresas do grupo Labogen, que Youssef usava para fazer remessas ilegais de recursos para o exterior.

Toyo Setal. O executivo Julio Camargo, do grupo Toyo Setal, que assinou acordo de delação premiada depois que Youssef citou seu nome como o principal contato na empresa, depositou pelo menos R$ 16,6 milhões para as empresas usadas pelo doleiro para distribuir propinas a envolvidos no esquema de desvio de dinheiro da Petrobras.

Camargo fez os depósitos por meio de três empresas controladas por ele: Auguri, Piemonte e Treviso. A Piemonte fez depósitos de R$ 8,5 milhões; a Treviso, de R$ 6,9 milhões e a Auguri, de R$ 1,15 milhão. As empresas de Camargo doaram recursos para campanhas políticas. Em 2010, foram doados R$ 1,1 milhão a sete políticos, cinco deles do PT. No total, as empresas de Camargo fizeram doações de R$ 5 milhões ao PT e ao PR entre 2006 e 2014.

Além de Camargo, outro executivo ligado à Toyo Setal, Augusto Ribeiro de Mendonça Neto, fez depósitos em contas de empresas ligadas ao doleiro. No valor de R$ 7,3 milhões, os depósitos foram feitos pela empresa Tipuana Participações. Mendonça era um dos sócios da Tipuana, que pertencia à PEM Engenharia, que prestou serviços à Petrobras na construção da plataforma P-51 e foi uma das empresas que deram origem ao Grupo Toyo Setal. Segundo depoimento de Alberto Youssef à Justiça Federal de Curitiba, a Toyo Setal também fez depósitos no exterior a título de propina. O doleiro trabalhou para internalizar os recursos e distribui-los no Brasil, em reais.

Na campanha deste ano, a Toyo Setal doou R$ 2 milhões para o comitê do PR e R$ 150 mil para três candidatos a deputado federal pelo PT: Benedita da Silva (RJ), Henrique Fontana Júnior (RS) e Luiz Sérgio Nóbrega de Oliveira (RJ).

Além disso, para a conta da Empreiteira Rigidez, Youssef admitiu servir apenas para receber recursos de obras da estatal.

Negativa. O advogado Antonio Figueiredo Basto negou na manhã desta sexta, que tenha ocorrido um segundo depoimento de seu cliente, Alberto Youssef. Segundo Basto, na semana passada o doleiro foi ouvido apenas na terça-feira, dia 21, sem qualquer retificação no dia seguinte. Basto explicou que participam dos depoimentos a procuradoria geral da República, delegados da Polícia Federal e agentes, além de um advogado de defesa, que não faz perguntas. “Não existiu depoimento (de Youssef) na quarta, não existiu retificação, e os advogados não se manifestam”, disse.

Depósitos

Fornecedores. Entre 2010 e 2013, foram registrados depósitos da Mendes Júnior Trading e Engenharia (R$ 1,978 milhão); OAS (R$ 1,749 milhão), e MPE Montagem de Projetos (R$ 3,129 milhões).