Colaboração

Flávio Barra delatou esquema

Engenheiro civil mineiro era uma peça-chave nos esquemas operados pela Andrade Gutierrez

Sex, 17/02/17 - 02h00

Ex-presidente da Andrade Gutierrez Energia e apontado como o comandante do caixa 2 da Andrade Gutierrez (AG), o engenheiro civil mineiro Flávio David Barra foi quem entregou Edison Lobão, seu filho Márcio e o ex-senador Luiz Otávio Campos como gerenciadores de propinas repassadas pela AG e outras empreiteiras ao PMDB, em troca da garantia do contrato para a construção de Belo Monte.

Nascido em Varginha, no Sul de Minas, Barra trabalhou por toda a vida na Andrade Gutierrez até que, em 2008, assumiu o cargo por meio do qual participaria diretamente de acertos e irregularidades envolvendo a empreiteira que está entre as maiores do país.

A vida do engenheiro começou a mudar com a operação Lava Jato, quando Flávio Barra foi citado na delação do ex-presidente da Camargo Corrêa Dalton Avancini. O delator disse que havia um acerto de pagamento de propina a funcionários da Eletronuclear, e que Barra teria participado da reunião para tratar do tema.

O engenheiro mineiro acabou preso na 16ª fase da Lava Jato, batizada Radioatividade, deflagrada em julho de 2015 para cumprir 30 mandados contra envolvidos em um esquema de pagamento de propina em Angra 3. Ele permaneceu detido até dezembro daquele ano.

De delatado, o engenheiro passou a delator. Ele detalhou o esquema criminoso envolvendo as obras da usina nuclear no litoral do Rio de Janeiro e na hidrelétrica de Belo Monte, no rio Xingu, no Pará, o que levou à fase de hoje. Além disso, no acordo ele teria relatado esquemas envolvendo a construção da ferrovia Norte-Sul e em vários estádios da Copa do Mundo.

Por causa do caso envolvendo as propinas em Angra 3, Flávio Barra já foi condenado a 15 anos de prisão. Por força da delação, no entanto, ele está em regime domiciliar.

Além do acordo de colaboração à PGR, o engenheiro também depôs ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Na ocasião, disse que repassou R$ 5,6 milhões a Lobão (PMDB-MA), ex-ministro de Minas e Energia do governo Dilma Rousseff (PT). No caso de Angra 3, o percentual de propina do PMDB era maior do que o do PT: 2% do contrato para um e 1% para o outro. Ainda havia o pagamento de 1,5% para executivos da Eletronuclear.

Recall. Após a delação de executivos da Odebrecht, os investigadores resolveram que Flávio Barra e outros executivos da Andrade Gutierrez teriam que prestar novo depoimento, já que teriam omitido crimes da empreiteira. Barra teria que dar detalhes das obras em São Paulo, enquanto ex-vice-presidente institucional da empresa Flávio Machado confirmaria a versão sobre propina de 3% do valor dos contratos da Cidade Administrativa, construída no governo de Aécio Neves (PSDB), o que chegaria a cerca de R$ 40 milhões só na parte da Andrade.

Caixa 2

Revelação. Em depoimento prestado a procuradores do Rio de Janeiro, Flávio Barra, disse que a Andrade Gutierrez possuía um caixa 2 para pagamento de propina em obras desde 2007.


No Rio de Janeiro

Ex-executivo relata contrato fictício com firma de Assad

FOTO: Newton Menezes / Estadão Conteúdo – 10.8.2016
Empresa de Samir Assad assinou contratos fictícios com a AG

RIO DE JANEIRO. O ex-executivo da área de energia da Andrade Gutierrez (AG) Flávio Barra afirmou nessa quinta-feira (16) em depoimento que assinou um contrato fictício em nome da construtora com uma empresa de táxi aéreo que pertencia ou tinha como um dos controladores o empresário Samir Assad. O objetivo do contrato, que teve duração de alguns meses, era gerar caixa 2 para a companhia pagar propina para agentes públicos.

O ex-executivo disse que a construtora tinha um caixa 2 para os acertos, mas não soube confirmar se os recursos foram usados para pagamento de propina em relação às obras do Maracanã, um dos alvos da operação Saqueador.

Barra fechou acordo de colaboração com o Ministério Público Federal. Segundo ele, o caixa era geral, não era formado para pagamentos específicos. “Era uma situação amadora. Foi a forma como a cúpula da empresa achou para cumprir certos compromissos que havia aceitado (de pagamento de propina). Era formado um caixa para cumprir com esses compromissos”, disse.

Na quarta, o ex-presidente da Andrade Gutierrez (AG), Rogério Nora de Sá, reafirmou em depoimento que o ex-governador do Rio Sérgio Cabral Filho (PMDB) cobrou propina da empresa na reforma do estádio do Maracanã e acertou que seriam feitos pagamentos pela construtora em obras no Estado. Já Barra disse que não sabia dos pagamentos ao ex-governador e nem de uma reunião feita para combinar a propina.

O ex-executivo afirmou ainda que pode ter assinado outros contratos fictícios. “Acredito que também tenha assinado com a Legend (Associados, ligadas a Adir Assad). A gente assinava vários documentos, não recordo exatamente”, afirmou.

A Andrade integrou (com 21% do capital), o consórcio para a construção do Maracanã, junto com a Odebrecht (49%) e a Delta (30%).


Eunício Oliveira

“As instituições estão funcionando”

BRASÍLIA. O presidente do Senado, Eunício Oliveira (PMDB-CE), comentou nessa quinta-feira (16) sem detalhes a operação Leviatã, que tem como alvos alguns de seus principais aliados no PMDB e nos diversos governos dos quais participou.

“(Nova fase) é sinal de que as instituições estão em funcionamento”, limitou-se a dizer, em referência à operação dessa quinta-feira (16), que é um desdobramento da Lava Jato e investiga escândalos na área de energia.

O próprio Eunício Oliveira também está encrencado na operação Lava Jato. Ele é acusado de receber R$ 2,1 milhões da Odebrecht em troca da aprovação de uma medida provisória. Ele ainda não responde a inquérito no Supremo Tribunal Federal (STF) e, antes de ser eleito pelos colegas para o cargo de presidente do Senado, obteve uma certidão de “nada consta” da corte máxima do Judiciário brasileiro.


Alvo da ação deixou ministério

BRASÍLIA. Considerado um aliado de primeira hora do senador Jáder Barbalho e de seu filho, o ministro da Integração Nacional Hélder Barbalho, o ex-senador Luiz Otávio Campos, um dos alvos da operação Leviatã, deflagrada nessa quinta-feira (16), foi demitido do cargo de assessor especial do Ministério dos Transportes no fim do ano passado, numa briga por cargos entre PMDB do Senado e PR, partido do ministro Maurício Quintella Lessa.

Os dois partidos brigavam pela indicação da secretaria dos Portos do ministério. Campos esperava ficar com a vaga, mas foi defenestrado.

 

---

O TEMPO reforça o compromisso com o jornalismo mineiro, profissional e de qualidade. Nossa redação produz diariamente informação responsável e que você pode confiar.

Siga O TEMPO no Facebook, no Twitter e no Instagram. Ajude a aumentar a nossa comunidade.