Supremo

Foro salva 68% dos políticos

Levantamento mostra que praticamente sete em cada dez ações prescrevem antes do julgamento

Sex, 17/02/17 - 02h00
Última instância. Supremo é responsável por julgar presidentes, ministros e outros parlamentares | Foto: Fellipe Sampaio / SCO / STF - 1.2.2017

SÃO PAULO. O foro privilegiado obtido pelo ministro Moreira Franco e objeto de desejo de políticos no alvo da operação Lava Jato costuma beneficiar os investigados. Levantamento realizado pelo projeto Supremo em Números, da Fundação Getulio Vargas (FGV) Direito Rio, mostra que no Supremo Tribunal Federal (STF), uma das Cortes que julga os que possuem foro privilegiado, de 404 ações penais concluídas entre 2011 e março de 2016, 276 (68%) prescreveram ou foram repassadas para instâncias inferiores porque a autoridade deixou o cargo. A condenação ocorreu em apenas 0,74% dos casos.

Dessas 404 ações, 136 tratavam de crimes contra o meio ambiente, 39 de casos relativos à lei de licitações e 30 de crimes de responsabilidade. Outras 26 eram referentes à formação de quadrilha, 25 de peculato, oito a corrupção passiva e cinco, corrupção ativa.

O foro privilegiado beneficia milhares de pessoas no Brasil, do presidente da República a prefeitos, passando por promotores, juízes e membros de tribunais de Contas. A força-tarefa da Lava Jato estima que cerca de 22 mil autoridades são contempladas pelo privilégio atualmente no país.

O STF é responsável por julgar presidentes, ministros e parlamentares. Ao Superior Tribunal de Justiça (STJ), cabem os casos que envolvem governadores, membros de tribunais de contas e desembargadores dos Tribunais de Justiça.

Já os tribunais regionais federais julgam os membros do Ministério Público Federal (MPF) e os juízes federais de primeira instância. Além disso, cada Estado define os foros nas unidades da federação. Em geral, as Constituições estaduais concedem o benefício a prefeitos, juízes e promotores do Ministério Público Estadual (MPE).

O promotor Roberto Livianu, presidente do Instituto Não Aceito Corrupção, defensor do fim do foro, destaca que os tribunais foram concebidos apenas para apreciar recursos de decisões da primeira instância, e não para colher provas na fase de instrução da ação, como é necessário nos processos penais. “Instruir processos nos tribunais é uma aberração. Isso leva à inviabilização da Justiça”, diz Livianu.

Para o promotor, o benefício ajuda a prorrogar carreiras de políticos envolvidos em escândalos. “Temos, por exemplo, um político que até pouco presidia o Senado, alvo de 12 investigações criminais e réu por peculato”, afirma Livianu, referindo-se ao ex-presidente do Senado e atual líder do PMDB na Casa, Renan Calheiros (PMDB-AL).

Em dezembro do ano passado, o STF acolheu denúncia contra Renan por desvio de dinheiro público em um caso que havia sido revelado em 2007. Na denúncia, Renan também fora acusado pelos crimes de falsidade ideológica e apresentação de documento falso, mas o Supremo entendeu que esses delitos já estavam prescritos.

Ainda na avaliação de Roberto Livianu, o foro privilegiado, além de inviabilizar o funcionamento da Justiça e contribuir para o aumento da impunidade, fere os princípios de uma sociedade democrática.

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