Gabriel Azevedo

Gabriel Azevedo é presidente da Câmara Municipal de Belo Horizonte. ver.gabriel@cmbh.mg.gov.br

Gabriel Azevedo

A conta sempre vem

Publicado em: Ter, 01/10/19 - 03h00

Até quando Mark Zuckerberg vai ignorar que suas redes sociais (Facebook, WhatsApp e Instagram) podem ser usadas de uma maneira nociva por pessoas que querem destruir os fundamentos democráticos e vencer eleições de maneira autocrática?

Não. Não defendo qualquer tipo de censura, apenas alerto para a necessidade de que essas mídias sociais, a exemplo do que anunciou o Twitter nesta semana, tenham mais responsabilidade na veiculação de anúncios que podem contaminar o desenvolvimento natural da democracia em determinado país.

Nos últimos anos, desde a vitória de Donald Trump na campanha presidencial dos Estados Unidos ,em 2016, grupos organizados em vários países se apossaram das mídias sociais para divulgar fake news, que interferiram no processo democrático e contaminaram o resultado do pleito naquele país.

No Brasil, a partir dos meses que antecederam a campanha presidencial do ano passado, as mídias sociais foram usadas intensamente para a divulgação de fake news e ataques às instituições democráticas, em um processo de desconstrução dos Poderes constitucionais, em especial o Judiciário.

No começo do mês, em uma conferência na Colômbia, Ben Supple, gerente de políticas públicas e eleições globais do WhatsApp, reconheceu que em 2018 empresas fizeram disparos massivos de mensagens favoráveis à candidatura de Jair Bolsonaro, que foi eleito presidente.

Supple assumiu que os disparos massivos são irregulares, mas não apresentou uma solução para o problema. Disse apenas que o WhatsApp não apoia nenhum grupo político e aconselhou que as pessoas não entrem nesses grupos grandes formados por desconhecidos. “Denuncie esses grupos e saia deles”, afirmou o executivo.

Essa fala demonstra que Zuckerberg e sua equipe permanecem insensíveis aos ataques à democracia a partir do Facebook, WhatsApp e Instagram, como se a questão, de extrema gravidade, não fosse sua responsabilidade. Nem mesmo o escândalo da Cambridge Analytica fez o criador do Facebook mudar seu comportamento.

Apenas para relembrar: a Cambridge Analytica é uma empresa que foi banida do Facebook em 2018, depois da comprovação de que ela manipulou dados de 50 milhões de usuários da mídia social. A Cambridge atuou na campanha de Donald Trump, é há a suspeita de que tenha usado irregularmente os dados capturados no Facebook em favor do candidato republicano.

Para quem quer se aprofundar na questão, a Netflix produziu o documentário “Privacidade Hackeada”, que traz à tona todos os aspectos da manipulação de dados feita pela Cambridge Analytica. A produção audiovisual demonstra como as mídias sociais se tornaram uma ameaça à privacidade e à democracia.

Por isso, deve-se ressaltar a decisão do Twitter de banir de sua plataforma todos os anúncios políticos. A norma vale globalmente e foi anunciada por Jack Dorsey, CEO da empresa. Ao justificar a restrição aos anúncios políticos, Dorsey afirmou que “embora a publicidade na internet seja, incrivelmente poderosa e muito eficaz para anunciantes comerciais, esse poder traz riscos significativos à política”.

Enquanto os proprietários desses meios de comunicação não notam o perigo diante deles, convém ao cidadão redobrar a atenção para não divulgar informações falsas e o ódio que contaminam a internet. Aos políticos, cabe a mesma noção de responsabilidade. Não vale esgarçar o tecido social usando as mídias sociais de maneira irresponsável e, às vezes, criminosa. A conta sempre vem.

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