Gabriel Azevedo

Não colabore com os engenheiros do caos

Estratégias populistas de manipulação de redes sociais e mídia

Por Da Redação
Publicado em 10 de julho de 2020 | 03:00
 
 

O caos se tornou instrumento recorrente da política no Brasil e em nações como Estados Unidos, Índia, Ucrânia, Filipinas, Polônia e tantas outras. A constatação não é minha. É do cientista político franco-italiano Guiliano Da Empoli, autor do livro “Os Engenheiros do Caos: Como as Fake News, as Teorias da Conspiração e os Algoritmos Estão Sendo Utilizados para Disseminar Ódio, Medo e Influenciar Eleições”.

É uma obra exemplar na análise de como os líderes populistas (à direita e à esquerda) e seus principais estrategistas, os “engenheiros do caos”, identificados por Da Empoli, atuam para unificar grupos extremistas, manipular dados e usar técnicas artificiais para alcançar maior relevância nas mídias sociais. O impacto na política tem proporções gigantescas. E, o mais grave, a “engenharia do caos” não está mais restrita ao plano federal. Seus artífices já agem no âmbito dos municípios, onde o compromisso com o bem-estar da cidade não é mais o foco.

Nesta semana, na Câmara Municipal de Belo Horizonte, tivemos um exemplo claro de como se gera o caos em busca de destaque midiático, discussões polarizadas nas mídias sociais e nenhum benefício para a capital, que enfrenta a pandemia do novo coronavírus e tem problemas graves e complexos, à espera de soluções. Refiro-me à inutilidade da apresentação da moção de aplausos ao presidente Jair Bolsonaro por “sua atuação contra o coronavírus”.

Felizmente, a moção foi derrotada, mas todo o processo foi lamentável.

Três vereadores foram autores da iniciativa, uma inutilidade que ganhou todo o destaque possível na imprensa mineira. Talvez o fato mais noticiado do Poder Legislativo municipal nesta pandemia. A engenharia caótica funcionou: atenção da mídia, ávida por matérias “caça-clikes”, repercussão nas mídias sociais e debates polarizados, justamente algumas das táticas dissecadas por Guiliano Da Empoli em seu livro. Em resumo, total perda de tempo para os mais de 2,5 milhões de habitantes de Belo Horizonte. E algum ganho político para quem usou esse episódio para agitar as próprias mídias sociais em cada polo ideológico.

Faz-se necessário observar que na semana passada foram aprovados dois projetos importantes para a cidade, sendo um deles o PL 792/2019, com minha coautoria, que estabelece a Declaração Municipal de Liberdade Econômica, criando condições para a geração de emprego e renda em Belo Horizonte.

Também foi aprovada proposta de lei que amplia a fiscalização das empresas em funcionamento na capital, também com minha coautoria. Duas iniciativas de relevância, mas que foram completamente ignoradas pela imprensa, por não se enquadrarem na definição de “caça-clikes” que domina o noticiário. Quando o jornalismo vai perceber o papel que tem no fortalecimento do populismo caindo como presa fácil nessas arapucas óbvias?

E, nesta semana, a pantomina em torno da moção de aplausos ao presidente desviou a atenção da Câmara Municipal de questões mais pertinentes e graves, como o decreto alterando o quadro de horários de circulação dos ônibus na cidade, fato modificado na sequência, e a situação das unidades de UTI e leitos de enfermaria para pacientes com Covid-19. As medidas de isolamento social não conseguem impedir a contaminação. Esta é a discussão prioritária.

A política municipal não pode se tornar refém desse caos produzido intencionalmente, sobretudo nas eleições. Combater tal prática cabe aos vereadores, o que faço desde o dia da posse, mas também passa pela participação popular. Sugiro a valorização de projetos e iniciativas que supram as demandas da população.

Também é necessário reduzir o espaço que as falsas polêmicas conquistam diariamente. Combater essa prática é medida de profilaxia para nossa democracia.