Gabriel Azevedo

Nossa mobilidade vai de mal a pior

A cada ano, a prefeitura diminui recursos destinados ao setor

Por Da Redação
Publicado em 06 de setembro de 2019 | 03:00
 
 

Volto a colocar o dedo na ferida do transporte coletivo de Belo Horizonte. Recebi a pesquisa “Avaliação crítica da mobilidade coletiva de Belo Horizonte pelos observadores da mobilidade urbana”, elaborada pelo movimento Nossa BH, pelo Instituto de Políticas de Transporte e Desenvolvimento (ITDP Brasil), pelo Movimento Unificado de Deficientes Visuais, pela Assessoria Jurídica Universitária Popular, pelo Move Cultura - Contagem, pelo Tarifa Zero - BH e pelo Departamento de Transportes e Geotecnia da Universidade Federal de Minas Gerais. Os dados demonstram um cenário ruim na mobilidade urbana na capital, que precisa de melhorias urgentes

A pesquisa mostra que a velocidade operacional média do transporte coletivo da cidade no horário de pico é de apenas 14,5 km/h. Isso significa que os ônibus não alcançam uma média de celeridade capaz de atender às demandas da população. A retirada dos cobradores, de acordo com os usuários, também faz com que os ônibus circulem mais devagar. E contratar de volta 500 agentes de bordo, como quer o prefeito, não resolverá o problema. Afinal, o sistema precisa de 7.000 desses profissionais.

O resultado dessa má gestão são os constantes atrasos, que prejudicam mais de 1 milhão de pessoas que usam diariamente o transporte coletivo. Em decorrência disso, ainda de acordo com a pesquisa, as pessoas estão trocando os ônibus por outro meio de locomoção, o que também impacta negativamente a já tão complicada mobilidade urbana da capital.

Há outras informações que mostram a insatisfação da população com o transporte público na cidade, como o custo elevado da tarifa e a falta de conforto nos veículos. Entretanto, o mais grave no documento, no meu entendimento, é o descaso da prefeitura com a melhoria da qualidade do serviço, contrariando compromisso expresso pelo prefeito Alexandre Kalil na campanha de 2016. Todos se lembram do então candidato viajando de ônibus, no começo da manhã, e assegurando que em seu governo o transporte coletivo seria prioridade. Isso não é verdade. Alexandre mentiu.

A pesquisa comprova que, a cada ano, a prefeitura diminui os recursos destinados à melhoria da mobilidade urbana. Em 2017, no primeiro ano do mandato desta gestão, foram efetivamente aplicados em mobilidade apenas 39,56% dos recursos reservados à rubrica. No ano passado, esse percentual caiu para 37,91%. Ou seja, menos dinheiro para melhorar a vida de quem se desloca diariamente pela capital. E tem mais: anteontem, foi publicado no “Diário Oficial do Município” o corte de R$ 1,92 milhão, destinados ao projeto Transporte seguro e responsável.

O pior: além de não fazer nada para resolver o maior problema dos belo-horizontinos e cortar recursos que deveriam ser aplicados em mobilidade e transporte público, o prefeito prejudica quem se preocupa em encontrar uma solução para o principal problema da cidade. Movido pelo mau sentimento de uma vingança pessoal, ele vetou meu projeto de lei que regulamentava o uso de bicicletas e patinetes compartilhadas em nossa capital. A proposta não tinha nenhuma inconstitucionalidade ou ilegalidade e foi aprovada por unanimidade nos dois turnos de votação. Mas, para o prefeito, o que fala mais alto é sua vontade. O respeito à democracia e às decisões do Legislativo municipal e a responsabilidade de contribuir para a construção de uma Belo Horizonte mais sustentável e amigável não lhe dizem nada. Ele se guia apenas por seu ego. Isso não é governar para quem precisa.