Gabriel Azevedo

Gabriel Azevedo é presidente da Câmara Municipal de Belo Horizonte. ver.gabriel@cmbh.mg.gov.br

Gabriel Azevedo

Soluções para diminuir a pobreza

Publicado em: Sex, 18/10/19 - 03h00

A redução da pobreza, grave e secular problema, exige novas abordagens, diferentes das costumeiras ações humanitárias e de medidas que, até agora, têm demonstrado pouca efetividade. Por essa razão, me agrada a concessão do Prêmio Nobel de Economia a três especialistas: o norte-americano Abhijit Banerjee, nascido na Índia, a franco-americana Esther Duflo e o também estadunidense Michael Kremer.

Os três receberam o Nobel justamente por adotarem estratégias experimentais para reduzir os índices globais de pobreza, de acordo com jurados que escolheram o trio. Banerjee e Esther são casados e dão aulas no consagrado Massachusetts Institute of Technology (MIT). Ambos têm a cidadania dos EUA. Michael Kremer é professor em Harvard.

Que inovação os vencedores do Nobel de Economia propõem? E quais os resultados dessa abordagem? Segundo a Academia Sueca, a principal transformação é atuar em aspectos específicos da pobreza, com o foco nas áreas de educação e saúde. Os experimentos foram conduzidos em redutos de pobreza do Quênia e da Índia.

O resultado mais expressivo das pesquisas dos economistas foi alcançado na Índia, onde cerca de 5 milhões de crianças foram beneficiadas com um programa de reforço escolar, melhorando seu nível educacional. O incentivo aos cuidados preventivos de saúde também trouxe ótimos resultados em diversos países.

A Academia Sueca informou ainda que as pesquisas de Abhjiit Banerjee, Esther Duflo e Michael Kremer têm potencial para continuar obtendo resultados positivos no combate à miséria. Em tempos de redução do nível de emprego e aumento das taxas de pobreza no mundo, esta é uma notícia de grande importância e impacto.

O sucesso alcançado em ações na Ásia e na África pode perfeitamente ser replicado em outras regiões. No Quênia, ao distribuírem livros didáticos para um grupo de crianças e oferecerem refeições para outra comunidade, constatou-se que os livros só beneficiaram os melhores alunos, enquanto o fornecimento de comida não teve impacto na melhoria do aprendizado das crianças.

Creio que no Brasil, onde os índices de pobreza recrudesceram ao patamar de 2007, segundo o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), algumas das pesquisas dos ganhadores do Nobel de Economia seriam bastante efetivas. O que também me chama a atenção é a forma de agir localmente, em vez de atuar de forma mais ampla e dispersiva. Isso fez a diferença onde as pesquisas ocorreram.

Em Belo Horizonte, estamos distantes dessa realidade de ações eficazes de redução da pobreza. A prefeitura criou um programa de sepultamento gratuito de pessoas carentes e o Programa de Assistência Alimentar e Nutricional Emergencial, com a concessão de R$ 100 por mês, por um prazo máximo de seis meses, além do Benefício Eventual do Suas/BH, com auxílio mensal de R$ 100, pelo período de três meses.

Análise das medidas adotadas mostra que não há nenhum planejamento para retirar as pessoas da linha da pobreza. Os programas têm pouco alcance social ou são temporários. No caso da população em situação de rua, cujo número real é desconhecido, projeto oferece 240 vagas de trabalho para essas pessoas. É muito pouco. Em resumo, não há política de resultado nem atuação regionalizada.

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