Eleições 2022

Chefe da CIA alertou Bolsonaro para não atacar sistema eleitoral, diz agência

Durante sua viagem ao Brasil, feita sem aviso prévio, diretor da CIA se reuniu com o presidente brasileiro, Augusto Heleno (ministro do Gabinete de Segurança Institucional) e Alexandre Ramagem (então chefe da Abin)

Qui, 05/05/22 - 11h48
Burns se reuniu no Palácio do Planalto com o presidente brasileiro e dois assessores de inteligência do governo brasileiro, Augusto Heleno (ministro do Gabinete de Segurança Institucional) e Alexandre Ramagem (então chefe da Abin) | Foto: Twitter/Alexandre Ramagem

O diretor-geral da Agência Central de Inteligência dos Estados Unidos, a CIA, alertou integrantes do alto escalão do governo brasileiro que o presidente Jair Bolsonaro deveria parar de lançar dúvidas sobre o sistema de votação. A informação foi publicada nesta quinta-feira (5) pela agência Reuters.

Os comentários feitos por William Burns, diretor da CIA, foram feirtos em uma reunião realizada em julho, de acordo com fontes da agência de inteligência, ainda de acordo com a Reuters

Burns foi, e continua sendo, o mais alto funcionário dos Estados Unidos a se reunir em Brasília com o governo de Bolsonaro, desde a eleição de Joe Biden, lembrou a prestigiada agência de notícias.

A reportagem relata que “uma delegação liderada por Burns havia dito aos principais assessores de Bolsonaro que o presidente deveria parar de minar a confiança no sistema de votação do Brasil”.

Burns chegou a Brasília seis meses após a invasão ao Capitólio, em 6 de janeiro, que foi incitada pelo ex-presidente Donald Trump, que, assim como seu aliado Bolsonaro, coloca em dúvida a confiabilidade das instituições democráticas, inclusive apontando fraudes na votação, sem mostrar qualquer prova.

“Duas das fontes alertaram para uma possível crise institucional se Bolsonaro perdesse por uma margem estreita, com o escrutínio focado no papel das Forças Armadas brasileiras, que governaram o país durante um governo militar de 1964 a 1985, e que Bolsonaro comemora”, cita a reportagem.

Diretor da CIA esteve com Augusto Heleno e Alexandre Ramagem

Durante sua viagem ao Brasil, feita sem aviso prévio ao governo Bolsonaro, Burns se reuniu no Palácio do Planalto com o presidente brasileiro e dois assessores de inteligência, Augusto Heleno (ministro do Gabinete de Segurança Institucional) e Alexandre Ramagem (então chefe da Abin,  a agência brasileira de inteligência). 

À época, Ramagem fez questão de registrar o encontro, sem detalhar o tema. "Simbólica visita do diretor-geral da CIA demonstrando a crescente importância do Brasil no cenário internacional. Identidade histórica e cultural de duas nações ocidentais, conservando valores fundamentais voltados à democracia representativa e ao interesse público, escreveu o então chefe da Abi no Twitter, com foto dele ao lado de Burns, Bolsonaro e Heleno.

Burns também jantou na residência do embaixador dos Estado Unidos com Heleno e o então chefe de gabinete de Bolsonaro, Luiz Eduardo Ramos, ambos ex-generais do Exército. “Os militares brasileiros historicamente gozam de laços estreitos com a CIA e outros serviços de inteligência dos EUA”, lembra a reportagem.

No jantar, segundo a publicação, Heleno e Ramos tentaram descartar a importância das repetidas alegações de fraude eleitoral de Bolsonaro. Em resposta, disse uma fonte, Burns frisou que o processo democrático era sagrado e que Bolsonaro não deveria falar dessa forma.

"Burns estava deixando claro que as eleições não eram uma questão com a qual eles deveriam mexer", disse a fonte, que não estava autorizada a falar publicamente, segundo a reportagem. 

Conselheiro de Segurança Nacional dos EUA também fez alerta a Bolsonaro

A reportagem lembrou ainda que, no mês seguinte à viagem de Burns, o conselheiro de Segurança Nacional dos EUA, Jake Sullivan, visitou Bolsonaro e levantou preocupações semelhantes sobre minar a confiança nas eleições. 

"É importante que os brasileiros tenham confiança em seus sistemas eleitorais", disse um funcionário do Departamento de Estado dos EUA em um comunicado quando perguntado sobre o comentário, acrescentando que os Estados Unidos estão confiantes nas instituições brasileiras, incluindo eleições livres, justas e transparentes.

Durante a campanha presidencial dos EUA em 2020, Biden e Bolsonaro entraram em conflito por causa do histórico da política ambiental do brasileiro, que tomou uma série de medidas que enfraqueceu a proteção às florestas. Bolsonaro foi um dos últimos líderes mundiais a reconhecer a vitória de Biden sobre Trump.

A CIA se recusou a comentar a reportagem. O gabinete de Bolsonaro não respondeu aos pedidos de comentário, feitos pela Reuters.

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