Mais uma servidora pública envolvida no processo de extradição do blogueiro bolsonarista Allan dos Santos, que continua foragido nos Estados Unidos, perdeu o cargo no governo federal.
A assessora Geórgia Renata Sanchez Diogo, da chefia da Assessoria Especial Internacional do Ministério da Justiça, foi exonerada nesta sexta-feira (3). A demissão é assinada pelo ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira (PP-PI). No lugar dela foi nomeado Lauro de Castro Beltrão Filho, que era conselheiro da Embaixada do Brasil nos Estados Unidos.
A extradição de Allan dos Santos foi determinada em outubro pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF). A decisão foi tomada em 5 de outubro, a pedido da Polícia Federal. As autoridades competentes foram oficiadas para extraditar o militante de extrema direita, que se mudou para os Estados Unidos.
Allan dos Santos é alvo de dois inquéritos no STF: o das fake news e das milícias digitais, ambos investigam a existência de um grupo organizado com o objetivo de atacar as instituições democráticas e disseminar desinformação nas redes sociais.
No dia 8 de outubro, a PF encaminhou ao Supremo a íntegra das investigações no âmbito do inquérito das milícias digitais. Constam nos documentos ações criminosas como a tentativa de influenciar o presidente Jair Bolsonaro e os parlamentares da base aliada a darem um golpe de Estado durante as manifestações antidemocráticas realizadas entre abril e maio de 2020.
Até hoje, porém, Allan dos Santos não foi incluído na lista de difusão vermelha da Interpol – sistema de alerta para captura de foragidos internacionais. Nos EUA ele continua gravando vídeos atacando ministros do STF e adversários do presidente Jair Bolsonaro.
O governo federal é acusado de perseguir os servidores públicos responsáveis por formalizar o pedido de extradição de Allan dos Santos, que é amigo de Bolsonaro e dos seus três filhos políticos. Santos era dono do Canal Terça Livre, assumidamente um veículo de defesa do governo Bolsonaro e que é acusado de ser um dos maiores disseminadores de fake news contra adversários do presidente.
Duas delegadas da Polícia Federal envolvidas na extradição do bolsonarista foram remanejadas. A primeira foi Silvia Amélia da chefia da Diretoria de Recuperação de Ativos e Cooperação Jurídica Internacional do Ministério da Justiça (DRCI).
O DRCI é a área responsável por tocar esse tipo de pedido envolvendo brasileiros foragidos no exterior e outros temas de cooperação internacional em geral.
Já a delegada Dominique de Castro Oliveira, que há 16 meses atuava na Interpol, recebeu com surpresa a ordem de voltar para a Superintendência da PF em Brasília, na última quarta-feira (2).
Ela foi a responsável pela ordem de prisão de Allan dos Santos. Na prática, a delegada apenas recebeu o mandado de prisão expedido pelo STF, reviu a documentação relacionada, produziu a minuta e encaminhou o pedido para publicação.
“Supostamente eu fiz algum comentário que contrariou. Qual foi, quando, para quem, em que contexto e ambiente, não sei. A chefia também disse que não sabe, cumpriu uma ordem que recebeu”, diz trecho da mensagem de Whatsapp encaminhada pela delegada a outros delegados da PF.
Dominique é reconhecida pelos colegas pela produtividade. Na Interpol, ajudou a capturar foragidos internacionais da máfia ‘Ndrangheta. O trabalho na organização de polícia internacional não tinha prazo determinado para acabar.
Em nota, a Polícia Federal negou que o remanejamento da delegada tenha relação com o processo de extradição de Allan dos Santos, mas não explicou o motivo da troca.
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