Aceno ao Exército

Padilha minimiza cancelamento de eventos sobre 60 anos da ditadura

Em mais um aceno do Planalto ao Exército, ministro de Relações Institucionais elogia militares e atribui à sociedade civil a realização de atos em memória ao golpe de 64

Por Fransciny Ferreira | Hédio Júnior
Publicado em 29 de março de 2024 | 08:10
 
 
O ministro de Relações Institucionais, Alexandre Padilha Foto: Fabio Rodrigues-Pozzebom/ Agência Brasil

O ministro chefe das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, disse nessa quinta-feira (27) em entrevista exclusiva a O TEMPO em Brasília que não cabe ao governo federal a organização de eventos em memória dos presos e desaparecidos políticos durante a ditadura militar de 1964. Neste domingo (31), o golpe de Estado que resultou na deposição do então presidente da República João Goulart completa 60 anos.

Padilha atribui à sociedade civil o planejamento de atos pelo país em lembrança à data ao negar que o governo federal tenha cancelado uma solenidade que vinha sendo planejada pelo Ministério dos Direitos Humanos, comandado pelo ministro Silvio Almeida, marcada para 1º de abril, no Museu da República, em Brasília. A cerimônia exaltaria a luta de militantes e perseguidos pelo regime de exceção comandado pelos militares.

“Tem eventos que a sociedade faz, é papel da sociedade fazer, ao longo do ano. E ao longo de quatro anos de governo tem vários compromissos do Ministério de Direitos Humanos em reparação da memória. E não vai ter qualquer tipo de recuo em relação a isso, as organizações vão continuar fazendo, vai aparecer um tema muito mais de organizações da sociedade, a atividade da sociedade”, disse Padilha

Questionado se haveria uma orientação do Palácio do Planalto e do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para que atos que poderiam estremecer as relações do governo com as Forças Armadas, que tiveram papel de destaque no governo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), Padilha desconversou.

“Eu quero parabenizar, porque eu acredito que os comandantes das Forças Armadas e o ministro José Múcio, da Defesa, estão tendo uma postura muito firme em cumprir o papel constitucional das Forças Armadas, e tenho a convicção de que não vão titubear em punir qualquer indivíduo ligado, servidor militar, que tenha participado dos atos criminosos preparatórios no dia 8 de janeiro e da própria tentativa de golpe no dia 8 de Janeiro”, afirmou o ministro. 

“Eu tenho dito sempre que, infelizmente, o movimento liderado pelo ex-presidente da República contaminou individualmente todas as instituições do Brasil. Durante quatro anos foi semeado o ódio, a intolerância e o desrespeito da democracia no nosso país. Isso contaminou individualmente todas as instituições, contaminou instituições civis, militares, do Executivo, do Legislativo, do Judiciário e da própria imprensa”, concluiu.