Venezuela

‘Intervenção não é cogitada’, diz embaixadora Maria Teresa Belándria

A embaixadora da Venezuela Maria Teresa Belándria afirma que nunca foi cogitada a participação militar brasileira ou a intervenção dos EUA

Seg, 25/03/19 - 03h00
"O deputado Juan Guaidó não se declarou presidente, ele assumiu as competências do Executivo conforme a Constituição” | Foto: Sergio Lima/AFP - 141.2.2019

Maria Teresa Belándria, embaixadora da Venezuela reconhecida pelo Brasil, afirma, em entrevista a O TEMPO, que nunca foi cogitada a hipótese de uma participação militar brasileira naquele país ou de uma intervenção dos Estados Unidos em seu território. Ela afirma que Juan Guaidó “assumiu” o comando com base na Constituição e que o governo de Maduro é considerado uma ditadura desde 2013. A embaixadora ainda acusa o jornal “The New York Times” de manipular imagens para prejudicar o presidente norte-americano Donald Trump, que atua em favor do presidente autoproclamado.

O que levou Guaidó a se declarar presidente? Qual o cenário de hoje na Venezuela?

O deputado Juan Guaidó não se declarou presidente, ele assumiu as competências do Poder Executivo conforme o artigo 233 da Constituição, porque as eleições de 20 de maio de 2018 (convocadas pelo grupo de Nicolás Maduro) foram ilegítimas. Diante da ausência de um presidente eleito, corresponde ao presidente da Assembleia Nacional exercer como chefe o Poder Executivo, sendo, então, o presidente legal e legítimo.

Como o governo do presidente Bolsonaro tem ajudado Juan Guaidó?

Com o reconhecimento da representante diplomática e facilitando, por meio da chancelaria, as coordenações necessárias com a Agência Brasileira de Cooperação para a ajuda humanitária. Além disso, o Brasil doou medicamentos e alimentos.

Juan Guaidó te fez algum pedido em específico para a relação com o governo do Brasil?

Seguir contribuindo com a pressão diplomática necessária ao regime de Maduro e coordenando com o Grupo de Lima (grupo de chanceleres de países das Américas criado em 2018 para abordar a situação da Venezuela).

As eleições ocorridas na Venezuela e que elegeram Nicolás Maduro foram fraudadas?

Foram uma fraude porque foram convocadas pela Assembleia Nacional Constituinte, que é ilegítima. Por consequência, todo o processo é nulo.

Desde quando Guaidó considera que o governo Maduro se transformou em uma ditadura?

Desde 2013.

Qual o destino você defende para Maduro? Prisão? Exílio?

Ninguém sabe, mas ele faria bem em deixar a Venezuela e permitir que se instale um governo de transição que possa convocar eleições livres em 2019.

O Brasil deveria fazer algum tipo de sanção econômica ao governo Maduro?

Essa é uma decisão do governo do Brasil de acordo com suas leis internas.

Você vê riscos de uma guerra com participação do Brasil?

Não, nunca foi cogitada a participação militar do Brasil nem de outros países. A intervenção é de caráter humanitário.

E de guerra civil na Venezuela?

Para que haja uma guerra civil deve haver dois grupos armados. Na Venezuela, só está armado o governo e seus grupos paramilitares, não os cidadãos.

Há algum tipo de participação dos Estados Unidos neste processo?

Sim, com ajuda humanitária.

Claro que não é o cenário desejado, mas Guaidó apoiaria uma intervenção militar dos EUA para depor Maduro?

Isso não está cogitado.

Não teme que isso leve a mais crise humanitária pra Venezuela, como ocorreu na Líbia, Síria, Iraque?

É pior, porque é a maior crise no Ocidente em um país que não está em guerra. Temos 3,5 milhões de desalojados, níveis de desnutrição e mortalidade piores que na África, e um governo que assassina, censura e tortura.

O “The New York Times” veiculou filmagens que podem sinalizar a participação de apoiadores de Guaidó no incêndio de mantimentos humanitários enviados à Venezuela. O que achou das imagens?

É uma manipulação inaceitável das imagens com o único objetivo de empreender ações de campanha contra Trump. Há centenas de imagens e depoimentos que desmentem a manipulação do “The New York Times”.

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