Iran Barbosa

Iran Barbosa é ex-deputado estadual e escreve às quartas-feiras em O Tempo

Iran Barbosa

Os cães ladram, a caravana atola

Publicado em: Qua, 02/10/19 - 03h00

Perdido, à deriva e raivoso. Esses adjetivos resumem o Brasil de 2019. Um país onde bancos viraram agiotas legalizados, cobrando até 320% de juros ao ano do brasileiro, enquanto trabalham com a Selic a 5,5%. Aliás, o Lula vai ser solto?

Um país onde a burocracia faz com que novos empreendedores precisem de um a três anos para conseguir licenciar um novo negócio, mas a gente só pode ir ao banheiro dia sim, dia não.

E o Queiroz? Será que está trabalhando como motorista de aplicativo, assim como 80% dos engenheiros e funcionários da construção civil no país?

Não se preocupem com os 3.000 trabalhadores demitidos de montadoras. Temos é que saber por que o presidente ficou 27 minutos esperando o Trump para dizer “oi”.

Das famílias brasileiras, 60,1% estão endividadas, mas Carlos Bolsonaro, que é vereador no Rio de Janeiro, não sai de Brasília.

Enquanto o Brasil fica discutindo seus atores políticos, a nação entra cada vez mais em um caminho de difícil retorno no campo econômico. Afinal, um país mais preocupado em ir para a esquerda ou para a direita dificilmente se lembra de ir para a frente. Já existe até nome para a classe de pessoas que se recusam a andar para os lados, iguais a caranguejo: são os isentões.

Pelo visto, ninguém está mais preocupado com o fato de o PIB per capita brasileiro estar no mesmo patamar de 2010. Tem menos gente ainda preocupada com o porquê de a grande maioria dos brasileiros não saber o que é um PIB per capita.

Palau, Cazaquistão, Lituânia e Trinidad e Tobago têm produtividade maior que a brasileira. Certamente se preocupam menos com quem vai mitar ou lacrar durante o dia.

O PIB da nossa manufatura é menor que os de Afeganistão, Nepal, Quênia, Butão e Vietnã. Ainda assim, tente ser um empresário do setor para ver quantos promotores pararão na sua porta.

Nosso PIB de serviços é menor que o de Irã, Bolívia, Paquistão e Paraguai, e, mesmo assim, há quem queira estudo de impacto ambiental e de vizinhança para esses negócios.

O mais vergonhoso é o PIB da construção, que está ao fim de uma longa lista de países que inclui Uzbequistão, Angola, Sri Lanka, Jamaica, Costa Rica, Nigéria e até a cidade de Hong Kong está à nossa frente.

As leis tributárias do nosso país, reunidas, dariam um livro de 41 mil páginas, mas a reforma tributária não parece ser, nem de perto, uma urgência nas páginas de jornais, blogs e redes sociais.

Até agosto, o Brasil havia somado 80 milhões (!) de ações sem julgamento em todos os tribunais do país. O levantamento é do próprio Conselho Nacional de Justiça. Em um país que não consegue terminar seus julgamentos, cumprir a lei virou um ato voluntário do cidadão de boa-fé.

Mesmo assim, se com todos esses problemas existir quem queira me dizer que o foco das discussões realmente deveria ser o que estamos vendo hoje nos jornais, blogs, discussões de mesas de bar e no Congresso Nacional, então peço que se manifeste no setor de comentários da coluna. Seria muito bom conhecer um pouco mais a cabeça do brasileiro que não tem o Brasil como problema.

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