Laura Serrano

Diretora geral da Agência Reguladora de Serviços de Abastecimento de Água e de Esgotamento Sanitário do Estado de Minas Gerais (Arsae-MG). Mestre em Economia. Deputada Estadual de 2019 a 2023.

Laura Serrano

Vidas, economia e os mais pobres

Publicado em: Seg, 06/04/20 - 03h00

O isolamento social, tão necessário para combater a disseminação da Covid-19, assim como os demais cuidados de saúde importantes para o enfrentamento dessa pandemia, tende a ser particularmente mais difícil para uma parcela significativa da população brasileira: os mais pobres. Alguns dados evidenciam esse contexto, que torna mais complexo o cumprimento, pelos mais pobres, das orientações dadas pelas autoridades médicas, não porque lhes falta vontade, e, sim, porque eles não têm meios para cumpri-las.

Conforme o Banco Mundial, são consideradas pobres as pessoas que têm rendimento domiciliar per capita inferior a US$ 5,5, ou aproximadamente R$ 27,50, por dia. Segundo o estudo Sínteses Sociais, do IBGE, de 2019, 12% da população brasileira reside em locais com pelo menos uma inadequação: alta densidade de pessoas na mesma residência, utilização de materiais não duráveis nas paredes externas da moradia ou ausência de banheiro de uso exclusivo dos moradores do domicílio, o que dificulta ainda mais o controle das doenças. Sem falar que, infelizmente, mais de 37% dos brasileiros ainda residem em moradias onde falta ao menos serviço de saneamento básico.

Tratando-se da crise econômica gerada pela pandemia do novo coronavírus, 86% dos moradores da periferia, após um mês de isolamento, terão dificuldades para comprar comida. Esses são dados da pesquisa realizada pelo Data Favela em 262 aglomerados de todas as regiões do país. O desemprego deve aumentar consideravelmente nos próximos meses de isolamento social, e, novamente, os mais pobres serão os mais atingidos, já que eles se dedicam a boa parte das profissões e funções que não permitem a prática do home office: empregadas domésticas, pedreiros e serventes, entregadores etc.

O Indicador de Incerteza da Economia, medido pela Fundação Getulio Vargas (FGV), atingiu 167,1 numa escala de 0 a 200 pontos, alcançando a maior alta da série histórica desde o ano 2000. Esse indicador possui dois componentes: Mídia e Expectativa, baseados nas notícias de imprensa e na previsão de analistas econômicos, os quais subiram 48 e 46,2 pontos respectivamente, no mês de março. Se a paralisação das atividades durar três meses, isto é, até junho, o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) prevê queda de 1,8% no PIB de 2020. Além dos impactos internos, temos a piora da economia mundial, com menor demanda pelos nossos produtos.

O governo de Minas Gerais tem investido fortemente na saúde. A título de exemplo, podemos citar a montagem do hospital de campanha, com 900 leitos no Expominas, para receber os pacientes infectados pela Covid-19, dos quais cem são de alta complexidade, propiciando maior atendimento à população por meio da saúde pública. O Estado também está atuando para minimizar a crise econômica, com medidas como a liberação de novas linhas de crédito do Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais (BDMG) para empresas atingidas conseguirem sustentar seus negócios neste período, reduzindo o aumento do desemprego.

O governador Romeu Zema enfatiza que precisamos salvar vidas e que isso vem em primeiro lugar. Vidas não têm preço. Manter o isolamento social é especialmente importante neste momento. Adicionalmente, os dados econômicos demonstram como é latente e urgente propiciar alternativas para que a economia se estabilize e permita que todos, principalmente os mais pobres, não passem fome. Sigamos agindo continuamente com cada prioridade à sua vez.

Coautoria: Marcela Ricardo, chefe de Gabinete da deputada

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