Crise

Maioria em BH é favorável ao impeachment, mas erra motivo 

Pesquisa mostra que 67% dos entrevistados apoiam o impedimento de Dilma, e 68% o de Temer

Por Ricardo Corrêa / Lucas Ragazzi
Publicado em 16 de abril de 2016 | 03:00
 
 

Na véspera da decisão da Câmara dos Deputados sobre a admissibilidade do processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff (PT), uma pesquisa realizada pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) em parceria com o Instituto Ver mostra que a maior parte da população de Belo Horizonte defende o impeachment tanto da petista quanto do vice-presidente Michel Temer (PMDB). No entanto, é também majoritário o contingente dos entrevistados que erram o motivo pelo qual Dilma é alvo de processo no Congresso Nacional.

De acordo com os números, 67% dos belo-horizontinos são a favor do impeachment da presidente, 27% são contra, e 6% dos entrevistados não sabem ou não responderam. Quando a pergunta é sobre Michel Temer, 68% defendem seu impedimento, 21% se mostram contrários, e 11% não sabem ou não responderam.

Apesar da ampla defesa do impeachment, grande parte da população não acerta a acusação que pesa contra a presidente no Congresso. Enquanto 30% dela não sabe ou não respondeu, 19% dos entrevistados dão respostas ligadas à corrupção, como roubo, desvio de recursos, lavagem de dinheiro, Lava Jato e Petrobras. Apenas 16% citam as pedaladas fiscias e 7% falam de crime de responsabilidade fiscal, motivos formais para a acusação contra Dilma. Ainda há 3% que apontam a má administração da petista.

Solução. Para 38% dos entrevistados pelo instituto, a melhor solução para o país neste momento seria a realização de novas eleições. Outros 23% dizem acreditar que o impeachment é a melhor saída enquanto 18% defendem que o melhor mesmo seria manter Dilma. Em relação à cassação da chapa inteira pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), 9% são favoráveis), também 9% citam a renúncia e 4% não sabem ou não opinaram.

Na opinião de 11% dos belo-horizontinos, o povo é quem pode tirar o país da crise. Outros 5% citam os políticos, 4% apontam Lula, 3% lembram Aécio Neves (PSDB) e 2% falam dos militares. O ex-ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Joaquim Barbosa, a ex-senadora Marina Silva (Rede), a presidente Dilma Rousseff, o deputado federal Jair Bolsonaro (PP-RJ), um novo presidente e o juiz Sérgio Moro são citados, cada um deles, por 1% dos entrevistados pela pesquisa.

Sentimentos. A pesquisa da UFMG e do Instituto Ver também mediu os sentimentos da população em relação a Lula, Dilma, PT e PSDB. No que diz respeito ao ex-presidente, o sentimento mais escolhido entre as opções disponíveis foi a tristeza, apontada por 40%. A raiva foi citada por 30%, a surpresa, por 20%. Expectativa (17%), medo (16%), esperança (16%), aversão (14%), aflição (14%), confiança (10%), alegria (8%) e entusiasmo (4%) também foram escolhidos por entrevistados.

Sobre Dilma, 44% escolheram a tristeza, 41% preferiram raiva, e 23% citaram o medo. Quanto ao PT, o sentimento escolhido por 41% foi a raiva. Outros 37% apontaram a tristeza, e 25% citaram o medo. Por fim, com relação ao PSDB, 28% escolheram a expectativa, enquanto 23% apontaram o medo, 22% falaram de esperança, e 21%, de raiva.

A amostra
Foram feitas 801 entrevistas no conjunto da população residente em BH.

A margem de erro é de 3,5%, e o intervalo de confiança é de 95%. Os dados foram coletados entre 12 e 14 de abril.

Para coordenadora, há desinformação

Para a coordenadora da pesquisa, a professora Helcimara Telles, os números são indicativos do alto nível de desinformação da população em geral. “Grande parte das pessoas mostrou não saber os reais motivos pelo pedido de impeachment da presidente. Isso é preocupante e simboliza o atual nível de desinformação sobre as pautas relevantes”, diz.

Ainda segundo ela, há dados que indicam que os cidadãos também não estão cientes das causas apontadas pela Constituição para que se possa pedir o impedimento de um presidente. “Você percebe que as pessoas veem a impopularidade como motivo para retirar um presidente do poder, e a Constituição não aponta isso como crime ou algo do tipo”, reflete.

Helcimara Telles conclui, ainda, que a oposição também não conseguiu ser clara com propostas para tirar o país da crise.

Já Malco Camargos, diretor do Instituto Ver, aponta trechos dos resultados da pesquisa com muita preocupação. “Parte dos entrevistados não mostrou consternação com uma possível ruptura do sistema democrático por conta da falta de alternativas. Há uma falta de confiança em que a política levará uma saída da crise. Enquanto isso, existe uma certa popularidade de grupos militares”, conclui.