Adversários juntos

Manifesto 'Basta' reúne ex Lava Jato e Kakay, advogado que o combatia

'Neste momento, o importante é enfrentar o fascismo', diz o advogado, que, mesmo surpreendido com o nome de Carlos Fernando dos Santos Lima decidiu manter seu nome no manifesto

Por Mônica Bergamo (Folhapress)
Publicado em 02 de junho de 2020 | 12:23
 
 

Os organizadores do manifesto "Basta", que reuniu juristas e advogados em torno de críticas a Jair Bolsonaro e a defesa da democracia, conseguiu uma proeza: juntou, num mesmo documento, as assinaturas do ex-procurador Carlos Fernando dos Santos Lima, estrela da Lava Jato, e de seu maior crítico, o advogado Antonio Carlos de Almeida Castro, o Kakay, que defendeu alguns dos acusados na operação.

Kakay só viu depois que o ex-procurador estava no manifesto.
"Quando vi o nome deste procurador que foi, junto com [o procurador] Deltan [Dallagnol], o mentor da Lava Jato, eu entendi o motivo de o Lula não ter querido assinar o Manifesto Todos Juntos [endossado por Fernando Henrique Cardoso]. Quase pedi para tirar meu nome", diz Kakay.

Mas ele decidiu manter a assinatura. "Neste momento, o importante é enfrentar o fascismo. Este governo Bolsonaro é o legado dos abusos da Força Tarefa que era coordenada pelo Moro. Eu estou onde sempre estive. Ele quer derrubar o que ele criou. O Bolsonaro é cria dele . Este fascismo é o legado da Lava Jato", finaliza o advogado.

O documento tem a assinatura de mais de 700 juristas e advogados, como Antonio Claudio Mariz de Oliveira, Mario Sergio Duarte Garcia, Claudio Lembo, Dalmo Dallari, Celso Lafer e Sebastião Tojal.

Reúne ainda ex-ministros da Justiça como José Gregori e José Carlos Dias, do governo FHC, e José Eduardo Martins Cardozo, do governo Dilma Rousseff.