Marcus Pestana

Marcus Pestana é secretário geral do PSDB e escreve aos sábados em O Tempo

O Pisa e o desafio educacional

Publicado em: Sáb, 07/12/19 - 03h00

Como diz a sabedoria popular, todo mundo gosta de puxar a brasa para sua sardinha. Mas, mesmo como secretário estadual de Saúde, sempre falava em todas as oportunidades públicas que a saúde e a segurança defendem a vida, mas a única coisa que transforma a vida é a educação.

Para muito além da retórica vazia de muitos discursos populistas, a educação de qualidade para crianças e jovens é decisiva e com múltiplos impactos na vida da sociedade. Educação de qualidade tem a ver com cidadania plena, bom convívio social, autocuidados na saúde, produtividade na economia, bons níveis de segurança, capacidade de desenvolvimento e absorção de tecnologias avançadas, boas escolhas políticas, preservação ambiental, nível cultural. Um país educado é um país com horizontes abertos para o futuro.

Nesta semana, foram publicados os resultados do Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa). Foram provas de leitura, matemática e ciências aplicadas a 600 mil estudantes de 15 anos em 79 países. No Brasil, foram 10.691 alunos de 638 escolas. A classificação brasileira não é nada confortável. Ficamos na 59ª posição geral entre os 79 países envolvidos, 57ª em leitura, 65ª em ciências e 70ª em matemática. Ficamos bem abaixo da média dos países da OCDE e atrás de países como Chile, México e Uruguai. Não temos motivos para comemorar.

No caso brasileiro, cabe registrar algumas peculiaridades. Estudos demonstram que não é só uma questão de conhecimento, mas também de atitude e valores. Boa parte dos estudantes brasileiros não respondem a todas as questões por falta de estímulo, garra, resiliência ou valorização.

A extrema desigualdade social é registrada de forma contundente. A diferença entre os alunos brasileiros de maior renda e os de menor subiu de 84 pontos, em 2009, para 97 pontos, em 2018. As escolas brasileiras particulares de elite, se consideradas isoladamente, ficariam em 5º lugar em leitura, ao lado da Estônia, 30º lugar em matemática, ao lado da Rússia, e em 12º em ciências, ao lado da Nova Zelândia.

Mesmo entre as escolas públicas é possível enxergar a desigualdade de oportunidades. As federais ficariam em 17º lugar, ao lado da Austrália, enquanto as estaduais ficariam em 63º, ao lado da Bósnia e atrás da Albânia.

É hora de agir. Não há que se inventar a roda. Primeiro, faz-se necessário desarmar a luta ideológica aguda que se instalou em torno da educação. Menos fraseologia ideológica e mais ações competentes de qualificação do ensino. Em sequência, garantir alto grau de profissionalização e prestígio à carreira de professor. Em contrapartida, é fundamental desarmar o corporativismo e o excesso de “sindicalização” das escolas. Qualificar a gestão escolar, prestigiando a liderança de diretores, é passo essencial para mobilizar a comunidade e as famílias em torno do aprendizado das crianças e dos jovens. Uma ação focada nas famílias mais vulneráveis é imprescindível. E tornar a escola um ambiente atraente e prazeroso para os estudantes, com a modernização dos métodos pedagógicos.

Governantes, pais, professores, cidadãos: não há tempo a perder. Há boas experiências exitosas Brasil afora. Vamos potencializá-las e universalizá-las. Sem isso, o futuro se assemelhará a uma viela estreita.

---

O TEMPO reforça o compromisso com o jornalismo mineiro, profissional e de qualidade. Nossa redação produz diariamente informação responsável e que você pode confiar.

Siga O TEMPO no Facebook, no Twitter e no Instagram. Ajude a aumentar a nossa comunidade.