Repercussão

Minas liderou ‘apoio’ a Cunha

Deputados justificam voto contra cassação e dizem que ex-deputado foi injustiçado pela Casa

Qua, 14/09/16 - 03h00
Icônica. Momento em que Cunha comemora com sua tropa de choque a vitória na eleição da Câmara: sete dos 17 votaram por sua cassação | Foto: Dida Sampaio / Estadão Conteúdo - 1.2.2015

O número acachapante de votos favoráveis à cassação do agora ex-deputado Eduardo Cunha (450) colocou ainda mais em evidência os dez parlamentares que se declararam contrários ao processo ou os nove que se abstiveram da decisão. Excluindo os votos favoráveis (44) e somando as ausências (5), abstenções (3) e um único “não”, Minas Gerais figurou, anteontem, como o Estado que mais se opôs à perda do mandato do ex-presidente da Casa.

Única parlamentar mineira a votar contra a cassação, Dâmina Pereira (PSL-MG) disse que fez a escolha de acordo com sua consciência e pelo trabalho que Cunha fez enquanto presidiu a Câmara. “Votei pelo bem que ele fez ao país quando teve coragem de colocar o impeachment da presidente (Dilma Rousseff)”, afirmou ela. “Se ele omitiu alguma coisa, então nós vamos ter que cassar muita gente. Se ele roubou, não somos nós, mas a Justiça. Ele já estava sendo castigado, não era mais o presidente da Câmara. Agora ele já está inelegível por oito anos. E se depois disso tudo for comprovado que foi um engano? Aí você destrói uma pessoa”, justificou a deputada federal, que questionou o fato de Dilma Rousseff ter tido os direitos mantidos e Cunha, não. “Se fosse igual, talvez eu tivesse votado diferente”, disse Dâmina, que afirma que nunca teve proximidade pessoal com o ex-presidente da Câmara.

Abstenções. Já Delegado Edson Moreira (PR-MG), que se absteve do voto, diz que não se convenceu nem da acusação, nem da defesa. “Quem tem que julgar a parte corrupta dele, se tiver prova, é o Poder Judiciário. O julgamento de lá é sob o Conselho de Ética. E não tinha nenhuma prova da corrupção”, explicou o parlamentar, que diz que foi motivado pelo fato de Eduardo Cunha ter ido à CPI da Petrobras espontaneamente e de ele ter negado possuir contas no exterior “sem juramento”. “Não enxerguei culpa do Eduardo Cunha, então preferi votar pela abstenção”, declarou.

Colega de partido de Cunha, Mauro Lopes (PMDB-MG), que também optou pela abstenção, criticou o relator do caso, o deputado Marcos Rogério (DEM-RO). “O relator extrapolou completamente porque a função dele era relatar somente sobre a representação”, disse. “Perguntaram se ele tinha conta, e ele falou que não tinha conta. Então, realmente não tem conta, tem truste, que não é conta. Até agora, em todo aquele relatório, de vários volumes, ele (o relator) não apresentou nem o número de uma conta”, justificou o deputado mineiro.

Aliados

Do êxtase da vitória ao abandono no fim

Brasília. De 17 aliados fotografados ao lado de Eduardo Cunha (PMDB-RJ) em uma icônica foto do ano passado, sete votaram a favor da cassação do agora ex-deputado. Dos dez restantes, dois votaram contra (a cassação) e oito se ausentaram – um sinal de apoio.

A foto foi tirada em fevereiro de 2015, logo após Eduardo Cunha ser eleito presidente da Câmara com o voto de 267 colegas. Um ano e meio mais tarde, os que se mantiveram ao lado de Cunha, votando contra a perda de mandato do ex-presidente da Câmara, foram Paulinho da Força (Solidariedade-SP) e João Carlos Bacelar Filho (PR-BA).

Dois deputados mineiros estão na foto comemorando a eleição do peemedebista: Newton Cardoso Júnior (PMDB) e Laudivio Carvalho (SD). No entanto, agora, os dois votaram por sua cassação.

Ao disparar contra a falta de apoio do Planalto, Cunha disse que o presidente Michel Temer ajudou a eleger Rodrigo Maia (DEM-RJ) para presidência da Câmara, derrotando o seu nome preferido para sucedê-lo no posto, deputado Rogério Rosso (PSD-DF). Cunha esperava que Rosso trabalhasse contra sua cassação, mas ele votou pela perda do mandato do peemedebista.

Outro aliado de primeira hora foi o líder do governo na Câmara, André Moura (PSC-SE). Foi Cunha que apoiou Moura para a liderança do governo. O líder afirmou ontem que “não tinha outra alternativa” a não ser se abster na votação.

Minientrevista

Mauro Lopes, deputado federal

FOTO: José Cruz / Agência Brasil - 17.3.2016
Lopes não teme ficar com a imagem desgastada pelo apoio a Cunha

Por que o senhor se absteve de votar na cassação de Eduardo Cunha?

A minha abstenção foi porque eu não tinha convicção de condenar, nem de absolver. Eu optei pela abstenção e, para não ter falta, eu compareci ao plenário e votei pela abstenção.

O senhor não se convenceu do parecer do Conselho de Ética?

Não me convenceu. O relator extrapolou porque a função dele era relatar somente sobre a representação, se ele (Eduardo Cunha) mentiu. Ele acabou se transformando num verdadeiro investigador e colocando coisas ali que nem ele pode comprovar. Até agora, em todo aquele relatório, de vários volumes, ele não apresentou nem o número de uma conta. Tinha que ter números da conta.

O senhor teme que esse posicionamento prejudique a sua imagem?

A imagem minha é uma imagem limpa, uma imagem que eu construí ao longo dos muitos anos. Ficaria com a consciência pesado se tivesse votado para absolver ou condenar. Eu não tenho problema nenhum quanto a meus eleitores, que me conhecem de sobra.

Minientrevista

Dâmina Pereira, deputada federal

FOTO: Gustavo Lima / Câmara dos Deputados - 9.3.2016
Dâmina Pereira se diz corajosa por ter apoiado Cunha até o fim

Por que a senhora votou contra a cassação de Eduardo Cunha (PMDB-RJ)?

Votei pelo bem que ele fez ao país quando aceitou e teve coragem de colocar o impeachment da presidente (Dilma Roussef). Acho que ele foi muito corajoso. Eu votei também porque a Lei deve ser para todos e não para um, como está sendo.

A senhora não se convenceu dos documentos que apontam a existência de um truste na Suíça?

Até agora não ficou provado. Se ele omitiu alguma coisa, vamos ter que cassar muita gente. Se ele tiver alguma coisa, não somos nós, mas a Justiça. Ele já estava sendo castigado, não era mais o presidente da Câmara. Agora, oito anos ele já está inelegível. Agora, eu acho que nós tivemos uma presidente que não teve nenhuma consequência. Por que essa diferença? Se fosse igual talvez eu tivesse votado diferente.

A senhora teme que esse posicionamento prejudique a sua imagem?

Acho que tive coragem, e outros não tiveram. A maioria não está preocupada com a população, está preocupada com o seu cargo, seu mandato. Então isso é muito triste.

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