Covid-19

'Não há critério de transparência', diz prefeito de Betim sobre envio de vacinas

Vittorio Medioli reclamou da distribuição de doses por parte do governo do Estado, priorizando cidades como Belo Horizonte e Juiz de Fora

Publicado em 20 de maio de 2021 | 10:21

 
 
normal

O prefeito de Betim, Vittorio Medioli (PSD), compareceu na manhã desta quinta-feira (20) como convidado à CPI dos Fura-Filas da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG). Ele pediu que os deputados fiscalizem e investiguem a distribuição das doses das vacinas contra a Covid-19 pelo governo de Minas para as prefeituras. Ele não descartou ir à Justiça para tentar resolver a questão.

De acordo com dados apresentados por ele aos parlamentares, há uma discrepância na distribuição das doses. Enquanto cidades como Belo Horizonte e Juiz de Fora receberam uma quantidade de imunizantes equivalente a 57% e 47% de suas populações, respectivamente, Betim recebeu um volume de doses que abrange apenas 27% dos moradores da cidade. Contagem, por exemplo, recebeu 31% e Ribeirão das Neves, 25%. Trata-se de números de doses totais, sem distinção de 1ª e 2ª doses.

“Belo Horizonte recebeu 403 mil vacinas a mais do que a média do Estado. Juiz de Fora recebeu 31 mil a mais. Todos os outros municípios receberam doses a menos”, disse Vittorio Medioli. O prefeito citou como exemplo Uberaba, que recebeu 14 mil doses a menos, Ipatinga (17 mil), Betim (60 mil) e Contagem com 69 mil doses a menos. 

“Nós não temos dados dos municípios menores. Mas é provável que em um pente-fino se verifique essa discrepância”, acrescentou.

De acordo com o prefeito de Betim, chama atenção que Juiz de Fora, cidade de origem do ex-secretário de Saúde do Estado, Carlos Eduardo Amaral, recebeu um alto número de doses na comparação com sua população.

“Eu não queria polemizar nesse sentido, mas tem que polemizar porque está morrendo gente onde não deveria morrer”, disse Medioli. “Quando se questiona, se mostra a discrepância, eles [governo estadual] são completamente refratários a qualquer tentativa de resolver. [...] Não tem critério de transparência, de compromisso com a verdade”, concluiu.

O relator da CPI, Cássio Soares (PSD) declarou que a ALMG vai exercer o seu papel de Poder fiscalizador, não de antagonismo ao Estado, mas para apontar os erros e sugerir caminhos.

“Estamos percebendo que o problema vai muito além dos fura-filas. Teremos uma segunda etapa da CPI para investigar os investimentos, ou a falta deles, na área da Saúde. O Estado hoje vem represando os recursos da saúde não só para Betim, mas para todos os municípios em plena pandemia, deixando de investir na ponta, nas unidades de saúde, nos hospitais filantrópicos, que deveriam ter, no mínimo, condições por parte do governo do Estado de ampliar as suas capacidades”, afirmou.

O deputado Roberto Andrade (Avante), integrante da base do governo Zema, considerou que os números trazidos por Vittorio Medioli abrem uma nova discussão que merece ser aprofundada. Ele pontuou, porém, que o número de doses enviadas a cada município varia de acordo com o perfil demográfico de cada cidade.

“Eu sou de Viçosa, onde o perfil da população é mais jovem. E há um percentual menor de vacinas para uma população mais jovem. O índice de contaminação lá é muito baixo. Tem esses detalhes que têm que ser levados em consideração. Eu acho que esses dados teriam que ser avaliados de acordo com o perfil de cada cidade”, disse o deputado.

“O senhor está fazendo uma defesa dessa situação. Defender a discrepância desse jeito é uma situação muito vexaminosa”, rebateu Vittorio Medioli, acrescentando que é essa postura de não reconhecimento do problema por parte do governo é que impede que ele seja solucionado.

O deputado Guilherme da Cunha (Novo), na mesma linha de Roberto Andrade (Avante), pontuou que o critério de distribuição das vacinas está relacionado não ao número absoluto da população de cada cidade, mas a quantas pessoas se inserem em cada grupo prioritário. “No grupo prioritário número 1, Juiz de Fora tem cinco vezes mais pessoas que Betim. No grupo prioritário 2, Juiz de Fora tem 30% a mais de pessoas”, exemplificou.