Após dois meses, a Prefeitura de Belo Horizonte determinou nesta sexta-feira (6) a desobstrução da avenida Raja Gabaglia, palco de manifestações que questionavam o resultado das urnas desde o fim da eleição presidencial. O clima esquentou no local durante a ação da Guarda Municipal. Manifestantes se revoltaram com o desmonte dos acampamentos, tentaram impedir a passagem dos caminhões que levavam os objetos recolhidos e, no momento mais tenso e lamentável do dia, agrediram jornalistas de diversos veículos de comunicação que cobriam a desocupação da avenida. 

No início da tarde desta sexta, após a caótica ação, o prefeito Fuad Noman (PSD) convocou uma coletiva para falar sobre o episódio e lamentou a agressão sofridas pelos jornalistas. A Guarda Municipal, por sua vez, informou que foram identificadas pessoas armadas, com alto poder de organização – inclusive financeiro – e manifestantes que foram pagos para estar no local, em frente à sede da 4ª Região Militar do Exército, no bairro Gutierrez, região Oeste da capital. 

Já a Polícia Militar esteve presente nos atos, mas não atuou para desmobilizar as obstruções ou prevenir os ataques. A corporação não estava mais presente no momento. A prefeitura afirma que a corporação foi devidamente comunicada. Em nota, a PM esclareceu que realizava “policiamento preventivo” em apoio ao Executivo. O governo do Estado afirmou que a PM esteve presente em apoio à ação.

"A Polícia Militar de Minas Gerais (PMMG) esclarece que na manhã desta sexta-feira, 06.01, permaneceu com guarnições na Avenida Raja Gabaglia realizando o policiamento preventivo em apoio às ações da Prefeitura Municipal de Belo Horizonte (PBH). A PMMG esclarece, ainda, que referente aos vídeos que circulam em redes sociais com agressões a profissionais da imprensa, a instituição já não estava presente no local e não foi acionada via 190 pelos envolvidos. A instituição ressalta que permanece à disposição para  que toda e qualquer pessoa que tenha sido ofendida e/ou agredida registre os fatos", informou a corporação. 

Confira abaixo os pontos polêmicos da operação realizada pela prefeitura

Baixo efetivo 

O vácuo de ação da Polícia Militar possibilitou que a tensão escalasse até o ponto de agressão. A Guarda Municipal não tem poder de polícia, e, portanto, ficou limitada a apenas liberar a via. As únicas três viaturas da PM que estavam na Raja deixaram o local num dos momentos mais tensos da ação - quando os manifestantes tentavam impedir a saída dos caminhões que levavam embora os objetos recolhidos. Poucos depois houve a agressão a jornalistas. 

Diálogo fraco com manifestantes 

O diálogo entre o poder público e os manifestantes foi limitado. As desobstruções e desarticulações demoraram a ocorrer, e não houve ação coordenada da Polícia Militar contra ilegalidades e violência. A Guarda Municipal informou que pessoas armadas transitam na região, e que manifestantes pagos para estarem na avenida foram identificados. Entretanto, a repressão foi pouco efetiva, como evidenciam as agressões à imprensa e o fato de manifestantes ainda estarem ocupando a via, aquém da ordem de desobstrução. 

Planejamento  

A Guarda Municipal informou que planejava a ação de desobstrução “há alguns meses”, mas precisou esperar o número de manifestantes diminuir para agir. Mesmo com a espera, ainda havia pessoas o suficiente para gerar confusão e abrir espaço para agressão a jornalistas. Havia três viaturas da Polícia Militar no momento da ação, que se retiraram quando as agressões se instalaram.  

Prefeito sai rindo da coletiva 

Apesar de toda a confusão e das agressões aos jornalistas na Raja, Fuad Noman classificou a ação da prefeitura como um “absoluto sucesso”, apesar das agressões à imprensa. O prefeito ainda brincou durante a coletiva que “também estava trabalhando”, quando questionado sobre os ataques, e saiu do palco rindo na coletiva. 

“Tiramos ao que nos competia”, disse. O chefe do Executivo municipal reforçou que “manifestações civilizadas, calmas” podem ocorrer desde que não haja obstruções das vias, ou estruturas não autorizadas instaladas no local.