Lava Jato

Palocci depõe em inquérito 

Ex-ministro falou por cerca de quatro horas, mas negou que tenha cometido quaisquer crimes

Sex, 30/09/16 - 03h00
Detido. Antonio Palocci está preso desde a última segunda-feira por suspeita de receber R$ 128 milhões da empreiteira Odebrecht | Foto: Heuler Andrey / AFP Photo

BRASÍLIA. Num depoimento de cerca de quatro horas à Polícia Federal, ontem, o ex-ministro da Fazenda Antonio Palocci negou envolvimento com corrupção, disse não ser o “italiano” procurado pelos policiais e rebateu os motivos que o levaram à prisão.

Preso desde a última segunda (26) na operação Lava Jato, Palocci é investigado sob suspeita de ter solicitado e recebido pagamentos de propina da empreiteira Odebrecht, em troca de atender demandas da empresa no governo federal.

A defesa do ex-ministro nega peremptoriamente, e apresentou dois argumentos centrais à polícia.

Um deles foi negar que Palocci fosse o “Italiano” ou “Itália”, apelidos mencionados em e-mails de Marcelo Odebrecht e na planilha que, para a PF, demonstra que Palocci intermediou o pagamento de R$ 128 milhões em propina.

O documento, intitulado “Posição Programa Especial Italiano”, lista uma série de pagamentos feitos entre 2008 e 2012, e aponta um saldo de R$ 6 milhões para “Itália” – o que, para a PF, pode indicar valores ilícitos que Palocci teria recebido.

O advogado do ex-ministro, José Roberto Batochio, afirmou que encontrou e-mails de Marcelo em que ele se refere a Itália como uma mulher.

“A mensagem diz: ‘Estive com Itália. Ela saiu da reunião e voltou’”, disse Batochio. “Ora, Palocci é ele. Não pode ser ela. Ele não é o italiano.”

A reportagem encontrou um e-mail, nos autos, com a frase “No final da reunião Itália saiu comigo (e voltou depois)”. Porém, não há menção a “ela” na sequência.

O uso do pronome feminino é feito antes, em referência a outra pessoa presente na reunião e tratada na mensagem apenas como “ela”. A reportagem tentou confirmar com Batochio se era esse e-mail de que a defesa falava, mas o advogado não deu retorno.

E-mails usados pela PF para justificar a prisão de Palocci também usam o pronome “ele”, após a referência ao “italiano”, mas o defensor negou que o apelido se refira ao ex-ministro. “Temos um apelido em busca de um personagem”, disse.

Em entrevista à imprensa, Batochio não negou que o ex-ministro tivesse um bom relacionamento com Marcelo Odebrecht – mas afirmou que isso fazia parte de seu trabalho na Fazenda.

Bloqueio. Nessa quinta-feira (29), o Banco Central informou à Justiça Federal que localizou e bloqueou R$ 30,8 milhões em contas pessoais de Palocci e da empresa dele, a Projeto Consultoria.

“Para quem acha que isso é muito dinheiro, eu respondo claramente: olhem aí os clientes da empresa (de Palocci), Banco Safra, Banco Itaú, Amil, JBS. Ou seja, é tudo proporcional. Quem ganha um salário mínimo acha que um juiz ou um promotor ganhar 70 mil reais por mês é um escândalo. Esse é o problema. Cada qual no seu quadrado”, disse. Também nesse tema, Batochio não quis revelar o que planeja e não informou se vai pedir o desbloqueio dos ativos do ex-ministro e da Projeto.

 

Contratos na mira

Preocupação. Segundo o jornal “O Estado de S. Paulo”, empresários que contrataram a consultoria Projeto, que tinha Antonio Palocci à frente, observam com atenção os desdobramentos da prisão do ex-ministro, alvo da operação Lava Jato, sob acusação de que atuava no governo como operador da Odebrecht.

Apuração. A empresa do ex-ministro foi alvo de busca e apreensão na última segunda-feira . Ainda segundo o “Estado”, os pagamentos recebidos por meio dela serão alvo de investigação. O MPF já apura alguns desses contratos.

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