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Para cena cultural mineira, nome é menos importante que ações

Artistas, produtores e pessoas ligadas à área divergem sobre a indicação de Regina Duarte

Qui, 23/01/20 - 03h00

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Artistas, produtores e pessoas ligadas ao segmento cultural em Minas Gerais avaliam que, mais importante que a definição do nome para assumir a Secretaria Especial da Cultura, é a política do governo federal para o setor, principalmente o status ministerial para a área.

Na semana passada, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) convidou a atriz Regina Duarte para o cargo. O chamado foi feito após a demissão de Roberto Alvim, que publicou um vídeo nas redes sociais em que parafraseia o ministro da Propaganda do regime nazista, Joseph Goebbels.

“A nossa pretensão é que seja uma pessoa que tenha conhecimento e desejo de batalhar pelas conquistas e pelas necessidades que a cultura tem. Nós desejamos que a Secretaria da Cultura seja um ministério, como sempre foi. Acreditamos que o nosso segmento gera muita renda, muito emprego e mobiliza a cadeia produtiva do país e, por isso, conquistou o direito de termos um ministério”, disse o presidente do Sindicato dos Produtores de Artes Cênicas de Minas (Sinparc), Rômulo Duque.

No começo de 2019, Bolsonaro retirou da Cultura o status de ministério, criando a Secretaria Especial, tendo sido inicialmente vinculada ao Ministério da Cidadania e, posteriormente, ao Turismo.

Duque preferiu não se posicionar especificamente sobre o nome de Regina Duarte, pois, segundo ele, “há uma polarização no setor cultural do Brasil em relação à política que está sendo implantada na área”.

O gestor cultural Aluizer Malab, que já presidiu a Empresa Municipal de Turismo de Belo Horizonte (Belotur) e, até o início de janeiro, era secretário nacional de Desenvolvimento e Competitividade do Turismo, também defende o status ministerial para a cultura.

“A questão mais importante que a gente está vivendo em relação à cultura no país não passa só pelas trocas dos secretários, mas também pela ausência de um ministério, de uma pasta própria. O que a gente precisa saber – e que eu acho que agora o governo começa a entender – é a importância da cultura para a sociedade, a importância que temos na formação cidadã”, disse Malab.

Ainda de acordo com ele, Regina Duarte é uma atriz renomada, mas a gestão pública seria uma nova atividade para ela.

“Espero que, assim como ela é uma atriz brilhante, que também possa ser brilhante ao desempenhar uma função executiva”, afirmou o gestor cultural. 

Apesar da demissão do ex-secretário Roberto Alvim e da consequente troca de gestores, o estilista Ronaldo Fraga considera que o pensamento ideológico do governo para a área permanece.

“(O governo) acredita que a cultura deva ser financiada e apoiada pelo Estado. Essa linha ideológica do governo Bolsonaro não mudou”, opinou Fraga.
Além disso, ele criticou o convite feito à atriz, pois duvida que ela vá fazer algo pela cultura brasileira.

“Sem contar que nós estamos falando de alguém que tem, claramente, desde o início, interesses particulares. Ela é casada com um pecuarista e já participou de vários comícios e movimentos contra a demarcação de terras indígenas no Mato Grosso. De ingênua, a namoradinha do Brasil não tem nada. Aliás, de Namoradinha do Brasil, agora temos a ‘Namoradinha do fuzil’”, completou.

O rapper Flávio Renegado disse esperar que Regina faça uma boa gestão caso aceite o convite. Segundo ele, a cultura brasileira precisa de alguém melhor para cuidar da área.

"Estamos vivendo um processo muito complicado, com todo mundo polarizado, todo mundo cheio de vontade de ver o outro errar. Eu quero ver é acerto, que a cultura se reposicione e volte a ser uma moeda forte do nosso país. O brasileiro sempre foi um povo culturalmente muito forte”, afirmou o rapper.

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