NA MIRA

PF aponta indícios de pagamento de propina a amigo de Pimentel

Mensagens telefônicas interceptadas indicam que Benedito Oliveira Neto, o Bené, atuou como lobista da montadora

Sex, 09/10/15 - 21h40

Um relatório da Polícia Federal identificou indícios de que a revendedora de carros Caoa pagou propina a um amigo do governador de Minas Gerais, Fernando Pimentel (PT), para obter benefícios fiscais junto ao Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio (MDIC), pasta que foi comandada pelo petista entre 2011 e 2014.

Mensagens telefônicas interceptadas pela PF indicam que Benedito Oliveira Neto, o Bené, empresário ligado a Pimentel, atuou como lobista da montadora. A investigação revela contatos de Bené com o então ministro do MDIC, Mauro Borges, que chegou à Esplanada por indicação do governador mineiro, seu antecessor na pasta.

As informações constam no relatório da Operação Acrônimo, que investiga supostos desvios de recursos para a campanha de Pimentel ao governo de Minas, em 2014, e suspeitas de tráfico de influência por parte do petista. Bené chegou a ser preso na primeira etapa da operação, em maio. Ele pagou fiança e foi liberado dias depois.

A troca de mensagens de Bené com o presidente da Caoa, Antonio Maciel Neto, mostra que a revendedora estava acompanhando de perto cada movimento do empresário para que a portaria saísse.

Em fevereiro de 2014, Bené avisa a Maciel Neto: "Agora à noite sentei com o substituto dele. Amanhã vai resolver. Para a PF, ele estava se referindo ao então ministro Mauro Borges, que havia assumido o MDIC cerca de duas semanas antes.

No dia seguinte, o presidente da Caoa responde: "Nosso portador estará no edifício às 13h30m. Você me ajuda para que assinatura ocorra logo em seguida?".

Bené dá as orientações: "Entrega no gabinete para o Rubens Gama. Assim que entregar, me avisa". E complementa: "Ou para o Rubens ou para o próprio Mauro", escreveu. Rubens Gama, de acordo com a PF, era o chefe de gabinete de Mauro Borges.

Bené, conforme o documento da Polícia, entra em ação e procura o ministro, diretamente: "Opa. Se você puder botar pra andar aquele assunto que te falei ontem. Abs". Mauro Borges é econômico e objetivo na resposta: "Ok". Depois de outra leva de mensagens, o então ministro avisa a Bené: "
Assinei!"

Durante a Operação Acrônimo, a PF identificou que a Caoa fez depósitos a duas empresas de Bené com valor total de R$ 2,1 milhões. A defesa de Bené argumenta que os repasses são referentes a trabalhos de consultoria prestados pelo empresário à Caoa.

OUTRO LADO

O Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio informou que cumpre rigorosamente a legislação, não tem conhecimento de irregularidades no Inovar-Auto e que o programa é avaliado por Tribunal de Contas da União (TCU) e Controladoria-geral da União (CGU).

Diz que todas as empresas beneficiadas cumpriram os critérios de habilitação e apresentaram a documentação exigida.

O advogado da Caoa, José Roberto Batochio, nega veementemente as suspeitas levantadas pela PF. "Bené jamais atuou, de nenhuma maneira, em circunstância alguma para que a Caoa estivesse no programa de incentivos".

Ele argumenta que empresa está incluída no Inovar-Auto desde 2012 e que a portaria em questão tratava apenas da renovação dos benefícios.

Ele lembra ainda que, no mesmo dia em que saiu a prorrogação pleiteada pela Caoa, foram publicadas outras 18 portarias concedendo as mesma isenção a outras empresas automotivas. "Então todas as outras pagaram? Como é isso?", criticou o advogado.

Batochio também argumenta que os repasses feitos a Bené são provenientes do serviço de consultoria feito à Caoa. Por fim, diz que todos os relatórios produzidos por Bené estão em possa da Polícia Federal.

As defesas de Bené e Mauro Borges não quiseram se pronunciar porque o inquérito corre em sigilo.
Pierpaolo Bottini, que representa Fernando Pimentel, disse que o relatório não aponta nenhuma participação do governador de Minas. Ele criticou o vazamento do documento: "Já questionamos a Justiça porque entendemos que a obtenção de toda essa prova é ilegal porque decorre de quebra de sigilo, sem fundamentação", afirmou.

ACRÔNIMO

A operação é consequência da investigação que começou em outubro do ano passado, durante as eleições, com a apreensão do avião que acabara de pousar no aeroporto de Brasília vindo de Belo Horizonte.

Além de Bené, estava no avião no avião Marcier Trombiere Moreira, ex-assessor do Ministério das Cidades -dominado pelo PP. Ele havia pedido licença do governo naquele ano para trabalhar na campanha de Pimentel, ex-ministro do governo Dilma Rousseff e eleito governador de Minas pelo PT.

Trombiere afirmou, na época, que estava de carona no avião monitorado pela polícia e que carregava cerca de R$ 6.000 sacados de sua própria conta bancária para eventuais despesas médicas.

Também na época, o presidente do PT, Rui Falcão, disse que a apreensão não poderia ser colocada na conta do partido. O mesmo fez a coligação de Pimentel, que afirmou que não não poderia ser responsabilizada pelos valores.

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