Crime em Foz do Iguaçu

Polícia indicia bolsonarista, mas conclui que não houve motivação política

Chefe da Divisão de Homicídios e Proteção à Pessoa, a delegada Camila Cecconello disse que Jorge Guaranho foi ao local do crime após ser avisado por amigo que havia uma festa com tema do PT

Sex, 15/07/22 - 11h24
Jorge José da Rocha Guaranho atirou em Marcelo Arruda, que revidou; o bolsonarista sobreviveu | Foto: Reprodução/Redes sociais

A Polícia Civil do Paraná conclui que o assassinato do tesoureiro do Partido dos Trabalhadores (PT) e guarda municipal Marcelo Arruda, morto no fim de semana a tiros pelo policial penal federal Jorge Guaranho, apoiador do presidente Jair Bolsonaro (PL), não foi motivado por questões políticas e ideológicas, mas sim por um sentimento de humilhação por parte do autor. Por isso ele não será indiciado por ódio ou crime político.

Chefe da Divisão de Homicídios e Proteção à Pessoa, a delegada Camila Cecconello disse que Guaranho vai responder por homicídio, com duas qualificadoras: motivo torpe (repugnante, moral e socialmente repudiado) e perigo comum (por colocar outras pessoas em risco). Ela deixou claro que teve pressa para encerrar a investigação, conforme orientação da Secretaria de Segurança Pública. Por isso, sequer esperou laudos periciais. Vídeos que filmaram o crime, celuares da vítiame do autor, entre outros, foram reclhidos para análise técnica.

"Ficou claro que houve provocação e discussão por causa de questões políticas", afirmou Cecconello. Mas ela ponderou que não há como provar que o assassino teve a intenção de interromper um ato político ou de a vítima exercer seu direito de manifestação política, apesar de ele só ter ido ao local do crime após saber que ali havia uma festa com temática de partido e pré-candidato e do evento ser interrompido a tiros e o aniversariante ser morto.

A delegada destacou que vítima e autor não se conheciam e que o agente bolsonarista decidiu ir ao local do crime, já armado, só porque soube que lá havia uma festa temática do PT e do ex-presidente Lula. 

Cecconello ressaltou ainda que a questão da humilhação por parte do assassino foi concluída apenas com base no depoimento na mulher dele, que, já orientada por advogado, disse em depoimento que o marido decidiu voltar ao local do crime após ser expulso pela vítima e convidados para festa. Dessa forma, Guaranho retonrou ao salão da festa com enfeites do PT porque estava se sentindo humilhado.

No entanto, a mesma mulher disse, em entrevista, que o marido, na primeira ida ao salão onde a vítima comemorava seus 50 anos com fmiliares e amigos, chegou gritando "Bolsonaro mito!", além do som alto no carro com música de apoio do presidente da República, o que, segundo a própria delegada, era uma provocação aos prsentes na festa.

As informações sobre a conclusão do inquérito foram dadas em entrevista coletiva no fim da manhã desta sexta-feira (15).

Amigo avisou bolsonarista sobre festa com temática petista e lulista

Camila Cecconello contou que a informação sobre a festa no clube recreativo foi passada por um amigo do assassino.

Segundo a delegada, na tarde de sábado, Jorge Guaranho estava em um churrasco regado a bebidas, em outro clube, e lá ficou sabendo da festa temática do PT. Diante disso decidiu agir.

Um outro convidado do churrasco era funcionário do clube no qual Marcelo Arruda havia alugado o salão de festa e, por isso, tinha acesso às câmeras de segurança.

Esse funcionário visualizou as imagens do salão em meio ao churrasco, como rotina, segundo a polícia, e foi nesse momento, em meio a um roda de amigos, que o bolsonarista fica sabendo da festa temática do PT -- a delegada afirmou não ver nenhum crime por parte desse funcionário.

"A princípio, havia informação que ele (Guaranho) estava no clube para fazer ronda, o que ele costumava fazer de vez em quando. Mas, dessa vez, não foi o que ocorreu, ele não estava lá", ressaltou a delegada. Ficou claro para os investigadores que Guaranho se deslocou ao clube por motivação política, por causa da festa com temas petistas.

Ainda de acordo com a investigação, Jorge Guaranho chegou ao local da comemoração de Marcelo Arruda ouvindo música temática de Bolsonaro em seu carro, com a mulher e o filho, um bebê.

Vítima não jogou pedra em agente bolsonarista

Ao ouvir o som alto, o tesoureiro do PT e outros participantes da festa deixaram o salão e interpelaram o bolsonarista. Houve discussão e o petista jogou terra e pedregulhos no veículo do bolsonarista, que deixou o local avisando que voltaria.

Questionada por jornalistas, a delegada esclareceu que, segundo a próprio mulher do assassino, Mareclo Arruda ou qualquer convidado da festa dele jogou pedra no acrro do agente bolsonarista. Essa versão tomou conta das redes bolsonaristas, sendo disseminada inclusive por Jair Bolsonaro, em declarações públicas. 

Bolsonarista atirou primeiro, o que derruba legítima defesa

Cerca de 10 minutos depois de ser expulso, Guaranho retornou já com arma em punho. Segundo a polícia, ele atirou primeiro, o que descarta a legítima defesa. O bolsonarista efetuou quatro disparos, sendo que dois atingiram o petista que revidou com dez disparos, sendo que quatro deles atingiram o oponente.

Marcelo Arruda não resistiu, enquanto Jorge Guaranho está vivo, internado em um hospital da cidade paraense. Ele teve prisão preventiva decretada na segunda (11).

Ainda segundo a polícia, o bolsonarista foi agredido por três convidados da festa, quando caiu ferido no salão de festa. Um inquérito sobre esse ponto específico segue em andamento -- a polícia quer saber se as lesões em Jorge foram causadas ou agravadas por essas agressões.

O inquérito sobre o caso foi concluído na quinta-feira (14), segundo a Polícia Civil. A instituição diz ter ouvido 17 pessoas na investigação, dentre testemunhas que estavam no local do crime e familiares do guarda municipal e do policial penal federal. Também foram analisadas imagens de câmeras de segurança e foram feitas diligências complementares, ainda segundo a polícia.

Juiz rejeita impor sigilo às investigações sobre assassinato de petista no Paraná

O juiz Gustavo Germano Francisco Arguello, da 3ª Vara Criminal de Foz do Iguaçu, rejeitou o pedido para impor sigilo às investigações sobre o crime.

O pedido partiu do Ministério Público do Paraná e da família do tesoureiro do PT. O juiz entendeu que prevalece o interesse público sobre o caso.

Para o magistrado, o esclarecimento do caso tem "despertado o interesse da comunidade" o que, afirmou o juiz, "reforça a necessidade de se primar pela regra da publicidade" das investigações

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