Política em Análise

Frente ampla é ilusão

Embora diversos agentes políticos de oposição ao presidente Jair Bolsonaro falem da hipótese de uma frente ampla, a resistência entre nomes até aqui colocados deixa remota essa possibilidade

Por Da Redação
Publicado em 10 de novembro de 2020 | 14:01
 
 

Quem ainda acreditava na possibilidade de uma frente verdadeiramente ampla na disputa para o Palácio do Planalto em 2022 já deve tratar de esquecer essa possibilidade. Embora diversos agentes políticos de partidos de oposição ao presidente Jair Bolsonaro até falem da hipótese, as posturas adotadas até o momento nas eleições municipais e a resistência entre nomes até aqui colocados deixa remota a possibilidade de que isso se dê de fato. Pode haver sim uma frente em torno de algum nome, mas chamar de ampla será um grande exagero.

Antes de qualquer coisa, é preciso dizer que, se houvesse interesse em uma frente ampla para enfraquecer Bolsonaro, alguns movimentos na disputa eleitoral de 2020 já teriam sido feitos. Os casos do Rio e de São Paulo, por exemplo, onde o PSOL e o PDT têm chance de chegar ao segundo turno contra os candidatos bolsonaristas representa bem o quadro. Nos dois locais, os votos dados no PT geram algum risco de tirar os partidos de esquerda da corrida e salvar Celso Russomanno e Marcelo Crivella. O enfraquecimento de Bolsonaro nesses dois campos seria chave na estratégia de uma frente ampla.

Além do mais, discutir frente ampla exige certos desapegos que, dados os nomes colocados, parecem improváveis hoje. Diversos dos nomes colocados sofrem grande resistência e inviabilizariam uma frente ampla.

Caso de Sergio Moro, exemplo. Não há a menor possibilidade de que uma chapa com ele tenha apoio do campo da esquerda. E se Moro quer mesmo ser candidato, ele certamente terá abrigo no Podemos e chances de concorrer ainda que sozinho. Com uma candidatura, claro, muito menos viável do que observávamos há algum tempo. Bombardeado pelos dois campos ideológicos e sem qualquer apoio de partidos de centro, porém, ele teria dificuldades de avançar ao segundo turno. 

Embora em menor grau, Luiz Henrique Mandetta também sofre resistências da esquerda por ter sido ministro de Bolsonaro e apoiado o impeachment de Dilma Rousseff. Luciano Huck, por ser da Globo, ter apoiado a eleição de Bolsonaro e e ter se encontrado com Moro.

No campo da esquerda, Lula ou qualquer nome do PT dificilmente uniriam partidos de centro e centro-direita, como o DEM. Já Ciro Gomes, embora possa formar uma frente maior, que pode ter núcleos da esquerda, partidos de centro e até alguns nomes da direita (leia-se o DEM de Rodrigo Maia e ACM Neto), teria dificuldade de transformá-la efetivamente em “ampla”, considerando que é fortemente rejeitado pelo grupo de João Doria e do PSDB paulista, com os quais tem desavenças históricas. O mesmo vale par ao MDB, chamado pelo presidenciável de quadrilha por diversas vezes.

Mas é também importante realçar que uma frente ampla não necessariamente é necessária para que o grupo de oposição vença Bolsonaro. Tudo vai depender do andamento da popularidade do presidente nos próximos meses, quando acabar o auxílio emergencial e o presidente voltar para sua programação normal. Bolsonaro já vem perdendo fôlego nas capitais e aquela base que o elegeu está destroçada.

O que sustenta a popularidade do presidente hoje é, principalmente. o público que, em eleições anteriores, votou no PT e que pode trocar de campo a qualquer momento. Se Bolsonaro não chegar a 2022 com chances reais de vitória no primeiro turno, a frente ampla pode se formar no segundo turno, ainda que na marra. Se ele reverter o cenário e voltar a crescer, aí é bom a humildade falar mais alto que as antigas disputas entre seus opositores.