Narrativa

'Postura bélica' de Romeu Zema é estratégia para ganhar a opinião pública

Núcleo do Novo orientou governador a ‘comprar briga’ já de olho na disputa eleitoral do ano que vem

Por Rodrigo Freitas
Publicado em 19 de julho de 2021 | 05:00
 
 
Governador concederá entrevista coletiva nesta terça-feira (16), às 7h30 Foto: reprodução de vídeo

Até então contido em palavras e gestos políticos, há algumas semanas, o governador Romeu Zema (Novo) mudou a postura diante de câmeras e microfones. Desde que as relações com a Assembleia e o presidente da Casa, deputado Agostinho Patrus (PV), sofreram desgastes, o chefe do Executivo resolveu partir para o ataque. E a estratégia foi costurada com as cabeças pensantes do Novo em Minas. A ideia é fazer Zema ganhar o embate diretamente com a opinião pública já que o jogo ficou difícil na articulação política. O pano de fundo são as eleições de 2022.

O episódio mais claro dessa mudança de postura do governador foi a entrevista mais recente que concedeu ao quadro Café com Política, na rádio Super 91.7 FM, há pouco mais de uma semana. Ao falar de assuntos polêmicos como o acordo da Vale, que estava travado na Casa, e a CPI da Cemig, o governador deixou de lado a moderação. 

Sem meias palavras, Zema afirmou que deputados que o criticam “nunca levantaram a bunda da cadeira”, afirmou estar farto de “fofoquinhas e intriguinhas” e que, no governo dele, quem achar que a boiada passa, vai encontrar “porco-espinho e jararaca”. 

Aos olhos de alguns deputados governistas e independentes, Zema implodiu a já fragilizada articulação política que tinha com o Legislativo e encampou a agenda de candidato à reeleição.

“A gente percebeu que não há mais diálogo com o Agostinho (Patrus). Ele resolveu radicalizar. E não poderíamos deixar de dar respostas à altura. Conversei muito com o governador e mostrei a ele a importância de reforçar a nossa narrativa, a narrativa da injustiça à qual fomos expostos com o acordo da Vale travado”, observou um aliado de primeira hora do governador, que pediu para não ser identificado.

Um deputado do bloco independente afirma que o governador não pretende baixar o tom, que quer percorrer o Estado e quer disputar palmo a palmo o espaço político com o prefeito de Belo Horizonte, Alexandre Kalil (PSD), que deve ser candidato ao governo de Minas no ano que vem. “O Agostinho quer ser vice do Kalil e deve mesmo ocupar esse posto. Agora, a disputa vai ser aberta entre o presidente da Assembleia e o governador. Essa briga entre eles preserva o nome do Kalil”, avaliou o parlamentar.

Na ofensiva das últimas semanas, o grupo político de Zema, liderado pelo secretário de Governo, Igor Eto, reforçou as articulações com vistas a uma aliança em 2022. Na lista de partidos prioritários, estão o PSDB, que tem o líder de governo, Gustavo Valadares, e o PSL. Ambas as legendas são representativas na Assembleia, com cinco parlamentares cada. O Podemos também está na lista das ambições de Zema.