Denúncia

Prática de fraudar documentos teria ocorrido em Belo Horizonte

PBH assumiu suposta dívida em 1999, na gestão de Célio de Castro

Por Fransciny Alves
Publicado em 06 de novembro de 2019 | 03:00
 
 

Durante audiência pública realizada nessa terça-feira (5) na Câmara dos Deputados foram apresentados indícios de que a empreiteira Andrade Gutierrez (AG) teria repetido a prática de fraudar documentos para conseguir receber valores públicos em outros Estados, como Mato Grosso do Sul e Amazonas. Em Minas Gerais, fato parecido ocorreu em Belo Horizonte, e o caso foi anexado nas ações movidas pela Prefeitura de Betim em diferentes esferas do Poder Judiciário.

Presente à reunião, o vereador de BH Mateus Simões (Novo) apresentou um estudo segundo o qual, na capital mineira, em 1999, na gestão do então prefeito Célio de Castro, o Executivo reconheceu dívidas com a empreiteira relativas a obras feitas ainda nas décadas de 70 e 80.

Na Lei 7.639, aprovada pelos vereadores em janeiro daquele ano, a prefeitura aceitava pagar R$ 150 milhões para a construtora em 14 parcelas anuais, sendo que o valor da dívida deveria constar em todo o Orçamento.

Um dos detalhes que chamaram atenção dos presentes é que a quantia de cada parcela seria reajustada pelo Índice Geral de Preços do Mercado (IGP-M) e juros de 9% ao ano. Depois da aprovação desse texto, a PBH e a empreiteira desistiram de ação que tramitava no Superior Tribunal de Justiça (STJ).

As obras, segundo o vereador da capital mineira, diziam respeito à retirada de aguapés da lagoa da Pampulha e ao túnel da Lagoinha, por exemplo. “As obras já tinham sido feitas e quitadas. E aí a prefeitura reconhece um débito adicional e paga a título de diferença de juros num valor corrigido que passa de R$ 1 bilhão. Então, se Betim foi fraudada e não pagou, Belo Horizonte corre o risco de ter sido fraudada no mesmo esquema e de ter pagado”, disse Simões.

O prefeito de Betim, Vittorio Medioli, afirma que o modus operandi da empreiteira foi o mesmo nas duas cidades, que são vizinhas. “Houve um acordo extrajudicial com a Prefeitura de Belo Horizonte em 1999 de um valor muito elevado. O projeto de lei é muito estranho, tem inclusive um veto do então prefeito Célio de Castro sobre a transferência para a Câmara da íntegra do processo que deu origem a esse acordo. A Câmara na época, segundo Mateus Simões, votou no escuro, sem saber do que se tratava, de forma genérica, como é esse precatório em Betim”, declarou.

Comissão para discutir fraudes

A suposta dívida da Prefeitura de Betim com a empreiteira AG também foi tema da reunião pública realizada nessa terça na Câmara Federal, por iniciativa do deputado Weliton Prado (PROS-MG).

O parlamentar anunciou que vai protocolar junto à presidência da Casa um requerimento para instalar no Legislativo uma comissão especial para discutir os problemas e as irregularidades cometidas pela empresa em todo o país.

O deputado vai se reunir nos próximos dias com o relator da Proposta de Fiscalização e Controle (PFC) 133/2017 na Comissão de Desenvolvimento Urbano do Legislativo, Léo Motta (PSL-MG), para que o parecer dele seja apresentado e que seja pedido o indiciamento de executivos da empresa.

Prado é autor da PFC, protocolada ainda na legislatura passada. O estudo feito pelo Tribunal de Contas da União (TCU), anexado à proposta, mostra uma série de irregularidades cometidas no contrato da AG, como a falta de especificação do objeto, ausência de projetos, fiscalização falha e aditivos exorbitantes que indicam alteração substancial do objeto em índices de 292% em relação ao valor inicial.

“Está mais que comprovado que o modus operandi da Andrade Gutierrez era o mesmo que inventava dívidas em diversos Estados, roubando recursos dos cofres públicos. A questão é muito grave, muito séria. Uma obra que a Prefeitura de Betim já pagou e não tem nem comprovação de que foi feita”, disse o deputado.

O débito cobrado pela empresa é referente a supostas obras de saneamento que teriam sido realizadas na cidade em 1979. As intervenções eram parte do projeto Cura, um antigo programa do governo federal, pago à época pela Caixa Econômica Federal.