Contagem

Prefeito denuncia caos na saúde

Gestor atual diz que herdou unidades públicas sem condições de atendimento e obras inacabadas

Qui, 12/01/17 - 02h00
Denúncia. Alex de Freitas (à esq.), ao lado do secretário de Saúde: acusação de obras inacabadas | Foto: JAQUES DIOGO

O prefeito de Contagem, Alex de Freitas (PSDB), convocou a imprensa nessa quarta-feira (11) para denunciar a situação encontrada na área da saúde. Sem apresentar documentos, o tucano informou que irá contratar uma auditoria, até o fim desta semana, para analisar as ações da administração de Carlin Moura (PCdoB), a quem o prefeito acusa de má gestão e desvio de dinheiro público.

O atual prefeito de Contagem denunciou o sumiço de um carregamento de medicamentos vencidos, segundo ele, avaliado em R$ 600 mil: “Isso é o que nós já avaliamos. Faltam medicamentos em todas as unidades. Isso é crime. Vamos acionar o Ministério Público”.

Ao lado do prefeito na entrevista, o atual secretário de Saúde, Bruno Diniz, afirmou que todas as unidades públicas de Contagem, cidade de quase 450 mil eleitores, têm deficiências como falta de medicamentos e médicos, infiltrações nas paredes, além de obras inacabadas.

Na Unidade Básica de Saúde (UBS) Ilda Efigênia de Lima, por exemplo, segundo o secretário, faltam banheiros para os pacientes. Na UBS Morada Nova, inaugurada há menos de um ano, há mofo nas paredes, o que tem causado forte cheiro, segundo ele. Na coletiva, Diniz apresentou uma a uma a situação das unidades públicas de saúde. Contagem tem 82 UBSs, que atendem, cada, em média, de 12 mil a 15 mil pacientes todo mês.

Segundo o secretário, das sete ambulâncias que atendem o Samu, apenas duas estão em condições de atender a comunidade.

O prefeito afirmou que a auditoria irá avaliar todos os contratos da antiga gestão na saúde: “Vamos apurar item por item desses desmandos, com acompanhamento do Ministério Público”.

Ainda de acordo com o tucano, no caso das obras paradas ou com erros de execução nas unidades de saúde, o Executivo dará um prazo de dez dias para que as empresas contratadas se justifiquem. “Vamos acionar as empresas que receberam para entregar uma obra que não está pronta ou não tem condições de atender a população. Se elas não o fizerem, vamos ter que fazer e vamos responsabilizá-las na Justiça”, afirmou Freitas.

A prefeitura informou que irá liberar R$ 4,5 milhões para compra emergencial de medicamentos. Segundo o relatório apresentado nessa quarta-feira (11), o déficit atual nos postos de saúde e nas UBSs é de 40 médicos, 15 enfermeiros, 35 técnicos de enfermagem e 78 agentes comunitários de saúde.

Sumiço. A administração apontou que ainda não foram devolvidos 46 celulares corporativos que estavam com funcionários da antiga gestão e que também não foi localizada uma televisão de 50 polegadas da Secretaria Municipal de Saúde.

Alex de Freitas acusou a gestão de Carlin Moura de crimes como peculato, formação de quadrilha e desvio de dinheiro público. “Crime, na minha opinião, por tudo que a gente tem visto e ainda tem muito que descobrir, de peculato, formação de quadrilha, cartel, desvio de dinheiro público. Inaugurar uma obra que não está pronta, pagar o contrato sem fazer a devida averiguação é crime. Isso é desrespeito com a população e com o dinheiro público”, afirmou.


Com falhas, cem leitos estão desativados na maternidade

A reportagem visitou nessa quarta-feira (11) a Maternidade Municipal Juventina Paula de Jesus, uma das unidades apontadas pela atual gestão por problemas estruturais. No prédio inaugurado em maio de 2016, um dos três andares de atendimento, que teria capacidade de 102 leitos para o CTI pediátrico e neonatal, está desativado.

As obras foram feitas em desacordo com as exigências, segundo a gerente da unidade neonatal Daiane Santiago. Alguns problemas são visíveis como a construção de uma pia rente a um leito neonatal. O ar-condicionado foi instalado com aparelhos impróprios ao local. “No teste de um dos aparelhos das outras salas, houve uma inundação”, conta a gerente.

Em um CTI, uma pilastra foi erguida no meio do salão. “É exigência que o médico tenha a visão de todas as crianças. Não podemos atender nesse local”, diz Daiane.

FOTO: JAQUES DIOGO
No lugar de leitos, uma obra inacabada na maternidade municipal


Resposta

Carlin Moura afirma que acusação do atual gestor é leviana

A assessoria do ex-prefeito de Contagem Carlin Moura (PCdoB) reagiu às acusações da nova administração da cidade: “Qualquer tipo de acusação contra a gestão de Carlin Moura é leviana e possui motivações políticas para denegrir a imagem do ex-prefeito, além de ter o objetivo claro de desviar a atenção da população para a cobrança do IPTU residencial, que foi orquestrada pelo atual prefeito Alex de Freitas”, afirma a nota. O imposto para imóveis residenciais não era cobrado na cidade desde 1989 e retornou neste ano.

Segundo a assessoria, a gestão de Carlin deixou as contas do município equilibradas, “com pagamentos em dia junto aos fornecedores e funcionários e com um saldo de mais de R$ 19 milhões, suficiente para todos os restos a pagar, conforme determina a Lei de Responsabilidade Fiscal”.

Sobre problemas de obras, o antigo prefeito disse que “apenas as unidades de saúde Arpodoar, São Joaquim e CER IV não foram concluídas”. “Como forma de prestar contas, a gestão anterior fez apenas uma visita técnica ao local, apresentando à população as dependências”, disse ainda.

Em referência a outros problemas, segundo Carlin, “cabe à atual gestão acionar as empreiteiras”. Sobre os celulares sumidos, a assessoria informou que a responsabilidade de devolução dos aparelhos era dos funcionários e, sobre a TV não encontrada, foi registrado boletim de ocorrência.


Justiça

Multa custou mais que o tratamento

Após a coletiva de imprensa, o prefeito Alex de Freitas apresentou o caso do menino Nicollas Guijarro, 12. Em agosto passado, a família dele entrou na Justiça para que a Prefeitura de Contagem custeasse uma bomba de insulina para o tratamento que o menino faz para um tipo raro de diabetes.

Segundo a mãe de Nicollas, a balconista Patrícia Brandão, a decisão favorável saiu em 28 de agosto de 2016, contudo ainda não havia sido cumprida. O prefeito afirmou que, desde então, o município pagou R$ 120 mil por descumprir a ordem judicial, enquanto o equipamento demandou cerca de R$ 20 mil: “Pagou-se muito mais por multa do que se tivesse comprado o equipamento”, disse.

A entrega nessa quarta-feira (11) da bombinha e da insulina suficiente emocionou a mãe. Ela lembrou que em 2016 o médico deu a Nicollas 12 meses de vida: “Agora sei que vou ver meu filho crescer”.

FOTO: JAQUES DIOGO
Família de menino de 12 anos foi à Justiça para garantir tratamento

 

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