Profissionais

Presidência não envia equipe de reportagem para cobrir viagem de Bolsonaro

Nos governos anteriores, todos os deslocamentos do presidente brasileiro ao exterior foram acompanhados pela EBC

Por Folhapress
Publicado em 21 de outubro de 2019 | 17:05
 
 

Em uma decisão pouco usual, a EBC (Empresa Brasil de Comunicação) não enviou equipe de reportagem para cobrir a viagem de mais de dez dias do presidente Jair Bolsonaro pelo continente asiático.

Pelo menos nos dois últimos governos, de Michel Temer e de Dilma Rousseff, todos os deslocamentos do presidente brasileiro ao exterior foram acompanhados por profissionais do conglomerado de comunicação da gestão federal.

Segundo relatos feitos à reportagem, a Presidência da República não autorizou a viagem de última hora, obrigando a equipe da empresa pública a cancelar reservas de transporte e hospedagem.

O périplo do presidente, iniciado nesta segunda-feira (21), inclui Japão, China, Emirados Árabes, Catar e Arábia Saudita. Nos destinos, ele terá reuniões com autoridades e empresários, com a expectativa de anúncios de acordos comerciais.

Procurado pela reportagem, o Palácio do Planalto informou que não foram enviados profissionais da estatal por uma "decisão interna", no âmbito da Secom (Secretaria Especial de Comunicação Social), "por questões de custo".

A empresa estatal é formada por um canal televisivo, sete emissoras de rádio e duas agências de notícias. Segundo orçamento feito pelo governo, só de hospedagem e passagem, seriam gastos pouco mais de R$ 500 mil.

O primeiro dia de viagem do Bolsonaro, no entanto, foi acompanhado por um cinegrafista da Presidência da República que, nesta segunda-feira (21), fez imagens que devem ser divulgadas em suas redes sociais.

Na campanha eleitoral, o presidente chegou a avaliar a extinção da EBC. Após ser eleito, a ideia foi abandonada e a equipe presidencial deu início a uma reestruturação da companhia, fundindo dois canais televisivos.

A previsão inicial da Secretaria de Governo era de que o processo total de reorganização da estatal reduzirá os gastos da empresa em cerca de R$ 130 milhões, pouco mais de um quarto do orçamento atual.

Segundo relatos feitos à reportagem, a Presidência da República estuda a redução do número de transmissões ao vivo pela TV Brasil. Recentemente, um evento oficial no Palácio do Planalto não foi veiculado enquanto ocorria, prática considerada incomum.

Durante o mandato, Bolsonaro fez outras mudanças na empresa, como o aumento do número de militares em postos estratégicos. O atual presidente, por exemplo, é o general do Exército Luiz Carlos Pereira Gomes.

No final de março, funcionários da estatal divulgaram nota interna, a dois dias do aniversário de 55 anos do golpe militar de 1964, que denunciava a censura no conteúdo jornalístico sobre a efeméride.

De acordo com o texto, palavras como "aniversário do golpe" e "ditadura militar" eram substituídas, respectivamente, por "comemoração de 31 de março de 1964" e "regime militar". A mudança de postura, de acordo com eles, teve início após Bolsonaro ter determinado que a data tivesse "comemorações devidas" em unidades militares.