Em uma decisão pouco usual, a EBC (Empresa Brasil de Comunicação) não enviou equipe de reportagem para cobrir a viagem de mais de dez dias do presidente Jair Bolsonaro pelo continente asiático.
Pelo menos nos dois últimos governos, de Michel Temer e de Dilma Rousseff, todos os deslocamentos do presidente brasileiro ao exterior foram acompanhados por profissionais do conglomerado de comunicação da gestão federal.
Segundo relatos feitos à reportagem, a Presidência da República não autorizou a viagem de última hora, obrigando a equipe da empresa pública a cancelar reservas de transporte e hospedagem.
O périplo do presidente, iniciado nesta segunda-feira (21), inclui Japão, China, Emirados Árabes, Catar e Arábia Saudita. Nos destinos, ele terá reuniões com autoridades e empresários, com a expectativa de anúncios de acordos comerciais.
Procurado pela reportagem, o Palácio do Planalto informou que não foram enviados profissionais da estatal por uma "decisão interna", no âmbito da Secom (Secretaria Especial de Comunicação Social), "por questões de custo".
A empresa estatal é formada por um canal televisivo, sete emissoras de rádio e duas agências de notícias. Segundo orçamento feito pelo governo, só de hospedagem e passagem, seriam gastos pouco mais de R$ 500 mil.
O primeiro dia de viagem do Bolsonaro, no entanto, foi acompanhado por um cinegrafista da Presidência da República que, nesta segunda-feira (21), fez imagens que devem ser divulgadas em suas redes sociais.
Na campanha eleitoral, o presidente chegou a avaliar a extinção da EBC. Após ser eleito, a ideia foi abandonada e a equipe presidencial deu início a uma reestruturação da companhia, fundindo dois canais televisivos.
A previsão inicial da Secretaria de Governo era de que o processo total de reorganização da estatal reduzirá os gastos da empresa em cerca de R$ 130 milhões, pouco mais de um quarto do orçamento atual.
Segundo relatos feitos à reportagem, a Presidência da República estuda a redução do número de transmissões ao vivo pela TV Brasil. Recentemente, um evento oficial no Palácio do Planalto não foi veiculado enquanto ocorria, prática considerada incomum.
Durante o mandato, Bolsonaro fez outras mudanças na empresa, como o aumento do número de militares em postos estratégicos. O atual presidente, por exemplo, é o general do Exército Luiz Carlos Pereira Gomes.
No final de março, funcionários da estatal divulgaram nota interna, a dois dias do aniversário de 55 anos do golpe militar de 1964, que denunciava a censura no conteúdo jornalístico sobre a efeméride.
De acordo com o texto, palavras como "aniversário do golpe" e "ditadura militar" eram substituídas, respectivamente, por "comemoração de 31 de março de 1964" e "regime militar". A mudança de postura, de acordo com eles, teve início após Bolsonaro ter determinado que a data tivesse "comemorações devidas" em unidades militares.