Congresso em pauta

Projeto quer aumentar garantias para militares em operações de GLO

Promessa de campanha de Bolsonaro, proposta foi incluída por ele na pauta prioritária do Congresso.Texto não avançou no Parlamento desde que foi apresentado na Casa

Por Marcelo da Fonseca
Publicado em 11 de fevereiro de 2021 | 06:00
 
 
Sensação de segurança deve crescer com tropas, mas ação não ataca causas da violência Foto: Mauro Pimentel/AFP

Dois anos após assumir o governo, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) cobrou do Congresso Nacional a aprovação de uma lei que muda regras sobre punição a militares durante operações de Garantia da Lei e da Ordem (GLO). A medida foi uma promessa de campanha.

O Projeto de Lei 6.125/2019 foi enviado à Câmara dos Deputados com apoio do então ministro da Justiça e Segurança Pública Sergio Moro e dos principais generais que compõem o primeiro escalão do governo. No entanto, não avançou nada no Parlamento. 

O texto prevê que os militares que estiveram atuando em situações extraordinárias – como, por exemplo, convocados pelos governadores quando as policiais estaduais não conseguem atuar ou manter a ordem –, tenham garantias jurídicas para evitar punições por seus atos. Nas situações de GLO passará a ser proibida a prisão em flagrante de militares e o uso da legítima defesa será ampliado. 

Ao pedir prioridade para o projeto, Bolsonaro afirmou que a medida é fundamental para que a atuação das forças de segurança tenha garantias legais e o combate à violência possa avançar no país. 

Os dois anos de governo Bolsonaro foram marcados por poucas convocações de GLOs em comparação com os governos anteriores. O motivo é a crítica que o presidente faz às punições aos militares em ação. 

“Pretendo usar a GLO, se tiver que usar, com excludente de ilicitude. Quem assina o decreto de GLO é o presidente, que fica numa boa, e a tropa que se vire. Então, o que a gente pretende é colocar em votação para a gente ter paz para trabalhar”, afirmou Bolsonaro. 

Desde que chegou à Câmara, o texto é criticado por deputados da oposição, que consideram a mudança uma “carta-branca” para a atuação de militares. “O artigo 23 do Código Penal já estabelece a legítima defesa e o estrito cumprimento do dever legal como excludentes de ilicitude, possibilidades suficientes para resguardar a ação daqueles que são obrigados a tomar medidas de força para repelir o crime. Mas o que se deseja com a ampliação é dar abrigo legal para os excessos cometidos por maus policiais”, avaliou o deputado Orlando Silva (PCdoB).

Para o deputado Cabo Junio Amaral (PSL), a medida será um avanço no combate à violência no Brasil e para garantir que os policiais possam fazer seu trabalho sem receio de serem punidos. O parlamentar afirma que a medida deveria ser estendida para a atuação de todas as forças de segurança, e não apenas para as situações de Garantia da Lei e da Ordem. 

“As forças policiais estão cada vez mais intimidadas pela legislação, que vai no sentido de estimular o crime e condená-las por fazer a sua função”, diz Amaral. 

O deputado afirma que na Câmara a maioria dos partidos defende o tema, que pode avançar rapidamente, mas que no Senado existem críticas às mudanças. “Que seja levado para votação. O policial precisa desse respaldo. Não estou falando do policial que faz bobagem fora da atividade ou que é criminoso – e esses existem –, mas do que vai para a rua para trabalhar e combater o crime”, finaliza.

Dado. Segundo o Fórum Brasileiro da Segurança Pública, em 2019, o número de mortes em ações policiais atingiu o ápice em termos de letalidade, com 6.357 mortes.

Especialista defende Força Nacional como alternativa

A ampliação do excludente de ilicitude e as mudanças na GLO podem ir na contramão do combate à violência no Brasil. O alerta é do coordenador do Centro de Estudos de Segurança Pública da PUC Minas, Luís Flávio Sapori, que defende como solução para as situações extremas em que as polícias estaduais perdem o controle, a utilização da Força Nacional de Segurança Pública. 

“A GLO está prevista na Constituição. O uso das Forças Armadas em situações de retomar a ordem pública é muito comum. Ela é usada porque a Força Nacional, que deveria atuar nessas situações, não dá conta da demanda. A questão é: qual será a amplitude de poder por parte dos militares durante a utilização da GLO? Ampliar a exclusão de ilicitude em situações repressivas não me parece um bom caminho”, alerta o especialista. 

“O Exército não é preparado para combater o crime. O ideal seria fortalecer a Força Nacional, que existe desde 2006. Quando se estruturar bem essa força, não precisaremos da GLO”, completa Sapori.