Reginaldo Lopes

A privatização do metrô vai aumentar o preço das passagens

Desestatização prejudica trabalhadores e usuários do sistema

Por Da Redação
Publicado em 22 de março de 2022 | 03:00
 
 

O sagrado direito de ir e vir não valeu para os usuários do metrô na região metropolitana de Belo Horizonte nessa segunda-feira (21). Diante da intransigência da Companhia Brasileira de Trens Urbanos (CBTU), os trabalhadores metroviários não encontraram outro caminho a não ser decretar uma greve que afeta diretamente a população.

A paralisação vem aprofundar a crise que vive o sistema de transporte na capital e cidades limítrofes, que já sofre com a redução significativa da frota de ônibus coletivos. Estudo do jornal mostrou que as empresas venderam 417 veículos, diminuindo a oferta dos serviços. Com os sucessivos aumentos nos preços dos combustíveis, as tarifas dos aplicativos ficaram altas, e a oferta de carros, menor. Com isso, a capital mineira vive uma verdadeira situação de caos no transporte.

O Sindicato dos Metroviários de Minas Gerais questiona o processo de desestatização do metrô de Belo Horizonte, decidida em novembro do ano passado pelo governo federal, que controla a CBTU, e anunciada de forma arbitrária. Após quase quatro meses de tentativas, a administração só se reuniu com os trabalhadores depois de uma greve e da intermediação do Judiciário. O Ministério da Economia afirmou que o processo já estava concluído e não houve resposta sobre o impacto da privatização na tarifa nem espaço para negociar a estabilidade de 12 meses que os trabalhadores teriam após a privatização.

Não só os metroviários são vítimas do processo de privatização do metrô; os principais prejudicados serão os usuários. A desestatização concederá o direito de exploração à iniciativa privada por 30 anos. O governo federal faria um incremento de R$ 2,8 bilhões para o que chama de “modernização” do sistema, sendo R$ 1,6 bilhão destinados ao saneamento financeiro da empresa, de modo a entregar a empresa “enxuta” aos empresários, que, após a operação, teriam a função somente de operá-la e obter seus lucros e dividendos. Esse modelo já mostrou suas deficiências no Rio de Janeiro, que, depois da privatização, passou a conviver com o aumento das tarifas, a redução das viagens e casos de estações fechadas e panes diárias dos equipamentos.

Desde o início do governo Bolsonaro, os usuários do metrô de Belo Horizonte vêm sofrendo com o aumento sucessivo de tarifas. Quando ele assumiu, o valor estava em R$ 1,80. A partir de maio de 2019, a CBTU anunciou aumentos escalonados até chegar aos atuais R$ 4,50, um valor alto em relação ao serviço oferecido. Com isso, houve uma redução do número de usuários, especialmente os mais pobres.

Não fosse trágico, a desestatização apresentada pelo governo Bolsonaro parece piada: fazer um bilionário investimento no sistema ferroviário metropolitano para depois entregar para empresários lucrarem com a cobrança de tarifas, que ficariam mais altas.

De ano em ano, as promessas de sua expansão do metrô de Belo Horizonte se renovam, mas nunca saem do papel. Os moradores do Barreiro, região que pretensamente seria contemplada, cansados de esperar, resolveram até fazer chacota com o drama. Como tudo em BH vira bloco de Carnaval, já foi criado pelos barreirenses o Esperando o Metrô.