Reginaldo Lopes

Fora da democracia é a barbárie

Um ano do 8 de Janeiro

Por REGINALDO LOPES
Publicado em 09 de janeiro de 2024 | 07:20
 
 
Reginaldo Lopesjpg Foto: Ilustração/O Tempo

Uma data histórica é tão marcante que guardamos na memória detalhes dela, como o local onde estávamos e as atitudes que tomamos naquele momento. O 8 de Janeiro de 2023 foi assim. Eu me encontrava em Belo Horizonte, ao lado da minha filha, quando as imagens da quebradeira começaram a aparecer na TV e no celular. Num dos episódios mais sombrios da nossa história, manifestantes invadiram e depredaram as sedes dos Três Poderes em Brasília em atos de vandalismo sem precedentes. Uma tentativa de golpe de Estado, planejada e articulada ao longo dos meses.

Naquele período, eu era líder da bancada do Partido dos Trabalhadores (PT). Aquele domingo prometia ser normal. Na semana anterior, uma enorme festa de posse devolveu à Esplanada dos Ministérios um clima de fé e esperança ao país. Era a sonhada retomada da democracia, que também marcou a volta do povo brasileiro ao centro da administração pública.

Mas, pela TV, eu via o sonho virar pesadelo, com a Praça dos Três Poderes sofrendo o mais violento ataque contra a democracia desde a volta das eleições livres no Brasil, em 1985. Todas as cenas eram de causar perplexidade, mas uma me chamou mais atenção. Minha sala na liderança do PT estava em chamas, completamente depredada. Foi o local mais atacado dentro do Congresso, onde os terroristas depositaram toda sua fúria.

A bandeira do PT e todos os quadros com imagens históricas da trajetória do partido queimados numa fogueira que era mostrada para o mundo nas transmissões. Os computadores e móveis, quebrados. Não sobrou um único vidro intacto. Certamente, eles tinham objetivo claro ao se dirigirem ao gabinete da liderança. A história e os ideais do nosso PT representam o que os golpistas mais abominam. Orgulhosamente, somos a antítese do ideário fascista e terrorista.

Imediatamente antecipei a minha volta para Brasília para reafirmar a importância da democracia. Solicitei ao Supremo Tribunal Federal (STF) a imediata prisão de todos os ônibus e dos seus ocupantes que participaram daquela tarde de horrores, promovida pelos golpistas que invadiram e destruíram a sede dos Três Poderes da República. 

Os atos fascistas deixaram a certeza de que ganhar as eleições não é suficiente para consolidar a vitória do povo brasileiro. Que era preciso mobilizar um pacto da sociedade em torno das instituições para garantir a defesa da democracia e do Estado de direito. E foi a imediata reação de representantes delas que se transformou no símbolo da resistência democrática. Um dia após os atos golpistas, uma caminhada liderada pelo presidente da República, junto dos chefes de outros Poderes e dos 27 governadores, marchou do Palácio do Planalto até o Supremo Tribunal Federal (STF) como resposta ao terrorismo. Pelo caminho, a convicção de que o Brasil sairia mais forte e mais unido. 

Na liderança do PT, coordenei a reconstrução da nossa sede. Cada quadro quebrado foi substituído por um igual, cada bandeira, recolocada no seu lugar. E realizamos um grande ato de reinauguração do espaço. 

Ontem, 8 de janeiro de 2024, mais uma vez a democracia deu um sinal de vigor, quando nos salões do Congresso se juntaram os representantes de todas as instituições da República para lembrar um ano do ato golpista. O processo democrático se fortaleceu no último período. Reforçamos a convicção de que fora da democracia é a barbárie. Como aprendemos como o saudoso Ulysses Guimarães, “traidor da Constituição é traidor da pátria”. 

REGINALDO LOPES
Deputado federal (PT-MG)
dep.reginaldolopes@camara.gov.br