Política em Análise

A candidatura de Simone Tebet

Senadora tem experiência política, uma chapa só de mulheres e tempo de TV, mas enfrenta a divisão no MDB, poucos palanques e o desafio de quebrar a polarização

Por Ricardo Corrêa
Publicado em 08 de agosto de 2022 | 11:01
 
 

Na série com a análise dos trunfos e desafios de cada uma das candidaturas à Presidência da República, hoje é dia de falar de Simone Tebet (MDB), que entra na corrida eleitoral com o apoio formal de PSDB, Cidadania e Podemos. A senadora pelo Mato Grosso do Sul tem experiência política, sucesso nas urnas, com uma chapa só de mulheres e com o peso político e tempo de TV relevante, mas enfrenta a divisão em sua própria legenda, com poucos palanques e o enorme desafio de quebrar uma polarização bem consolidada.

Os principais ativos que Simone Tebet tem a apresentar ao eleitor são sua experiência política e os bons resultados nas urnas. Ela foi prefeita de Três Lagoas duas vezes, vice-governadora do Mato Grosso do Sul e é senadora em reta final de mandato. Conhece profundamente os desafios do Executivo e do Legislativo e, com um detalhe: nunca perdeu uma eleição.

A chapa formada por mulheres, em aliança com Mara Gabrilli (PSDB) pode ser bem explorada na TV para cativar esse eleitorado que rejeita fortemente o presidente Jair Bolsonaro (PL) e que está hoje em grande parte com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). As mulheres são maioria do eleitorado e as campanhas defendendo acabar com a subrepresentação feminina são fortes e presentes e tendem a ajudar nessa tarefa.

Para conseguir virar o jogo, o peso político de PSDB, MDB, Cidadania e Podemos, com o grande tempo de TV que darão, é fundamental. Simone Tebet terá a terceira maior fatia do horário eleitoral, não muito distante do atual presidente. Espaço precioso para quem precisa se apresentar ainda para a maior parte do eleitorado. Em comparação com outros nomes que também tentam quebrar a polarização, só ela terá tempo relevante, o que a credencia para tentar conseguir o espaço de terceira via que tanto almeja.

Mas é claro que os desafios são enormes. A começar pelas resistências no próprio partido, que se divide entre ela, Lula e Bolsonaro. Mais de uma dezena de diretórios já deixaram claro que vão apoiar o petista. O último foi o MDB do Rio de Janeiro. Da mesma forma, nos partidos aliados também há fortes dissidências. Em Minas, por exemplo, o tucano Marcus Pestana (PSDB) já avisou que seu candidato é Ciro Gomes (PDT).

A falta de coesão nos partidos aliados tende a enfraquecer bastante os palanques. Sem esse apoio nos Estados, há certa apatia na campanha. Simone passa dias sem destaque algum. Tem dificuldades de fazer agendas. Seu perfil mais discreto também não contribui para que ela se torne mais conhecida e entre mais profundamente em um debate agitado da eleição no Brasil.

Mas sem dúvida o maior desafio é romper uma polarização que se mostra cada dia mais consolidada. O presidente Jair Bolsonaro recuperou fôlego com a criação de benefícios pelo governo e com a queda nos preços dos combustíveis. Se aproximou de Lula e, em consequência, reduziu ainda mais o espaço da terceira via. Com os dois líderes muito calçados por pisos aparentemente inabaláveis, tornar-se uma opção seria tarefa difícil até para o mais carismático e intenso e apoiado candidato.