Política em Análise

A candidatura de Sofia Manzano

Candidata do PCB tem ideia clara e é mais afeita ao diálogo, mas enfrenta falta de espaço na esquerda e defende pauta fortemente rejeitada no país

Por Ricardo Corrêa
Publicado em 11 de agosto de 2022 | 11:01
 
 

Continuando a série sobre as candidaturas à Presidência da República, falando de seus trunfos e desafios, hoje é dia de analisar a da candidata do PCB, Sofia Manzano. Obviamente, como já disse aqui em outras ocasiões, nem todos disputam a eleição para vencer. Muitas vezes, o objetivo é manter uma ideia em voga ou garantir a sobrevivência de um partido. É o caso dela. E, nessa tarefa, ela conta com um partido de ideia clara, traz uma cara menos ranzinza ao Partidão e é mais afeita ao diálogo. De outro lado, sofre um esmagamento na esquerda, defende uma pauta estigmatizada no Brasil e terá pouquíssimo espaço ao longo da campanha para se apresentar.

Tratando com mais detalhes sobre os trunfos de Sofia Manzano para passar sua ideia adiante, enfatizo primeiro que seu partido tem uma história e tem uma pauta muito bem definida. Gostem ou não do PCB, é muito fácil identificar o que a legenda prega: a defesa de que o regime capitalista não resolve os problemas da sociedade e que o comunismo é a melhor opção. 

Além disso, o fato de Sofia Manzano ser uma mulher, jovem, professora universitária e doutora economia dá uma cara diferente, menos assustadora e um pouco mais técnica ao PCB. Soma-se a isso o fato de Sofia ser menos arredia no contato social, com a imprensa, sendo usuária ativa nas redes sociais e bem mais afeita ao diálogo do que outros nomes do partido no passado. 

Mas é claro que os desafios são muito maiores do que os trunfos. Como no caso dos demais candidatos à esquerda, o esmagamento provocado pela candidatura do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) é um dos principais. Quanto mais a disputa se acirra e mais fica claro que a corrida eleitoral será somente entre ele e o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), mais cresce a pressão por um voto útil que liquide a fatura já no primeiro turno. 

Além disso, o estigma do comunismo é muito arraigado no país. Agora, mais que nunca, com Bolsonaro relembrando a cada dia e lembrando do fracasso do sistema econômico em qualquer lugar do mundo em que já se estabeleceu ou sobre os processos autoritários dele decorrentes (que não são uma exclusividade dos regimes de esquerda, diga-se de passagem).

 Trazer para pauta um tema tão rejeitado e com ideias que parecem irrealizáveis é tarefa das mais espinhosas. Principalmente para quem vai sofrer com a invisibilidade quase completa ao longo da campanha. Pouquíssimos espaços estarão abertos para Sofia Manzano se apresentar. O horário eleitoral não haverá e os veículos de comunicação vão se dedicar aos candidatos mais bem colocados nos levantamentos. Absolutamente desconhecida do eleitorado, Sofia Manzano tende a terminar a campanha exatamente como começou.