Ricardo Corrêa

Editor de Política de O TEMPO e escreve neste espaço diariamente

Política em Análise

A CPI da Cemig

Publicado em: Qui, 17/06/21 - 09h43

Se uma CPI já era problema para o governo Zema, duas, ao mesmo tempo, tendem a ser motivo de preocupações, embora a primeira reação dos aliados do governo estadual seja a de dizer que está tudo bem. Não está. Duas investigações ao mesmo tempo e a dificuldade de aprovar suas pautas mostram que a relação com a Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) só piora. E, no caso da CPI da Cemig, cuja instalação foi definida nas últimas horas, haverá, sim consequências, por mais que o Palácio Tiradentes prefira dizer publicamente que não.

A privatização de companhias em poder do Estado é uma das bandeiras de Romeu Zema (Novo) dede a época de campanha. Se já era difícil privatizar e piorou com a instalação de uma comissão para analisar o tema, como disse aqui nesse espaço, tudo fica ainda pior com a instalação da CPI da Cemig. A venda de ativos, que vinha sendo utilizada como mecanismo para driblar as dificuldades para vender as empresas deve desacelerar. Com as já realizadas vendas dos controles da Renova e da Light e a alienação da Taesa na mira, é bem provável que a Cemig tenha que colocar o pé no freio. Se já vinha sendo postergada, a venda da Taesa agora dificilmente acontecerá no curto prazo. É risco demais tanto para quem tocar a operação pelo lado da Cemig quanto para quem fizer esforços para comprar sem a garantia de que não vai mergulhar em um processo complicado e cheio de contestações.

Também outras vendas de ativos, como acontecem na Codemge, tendem a desacelerar. O recado dado pela ALMG é de que está de olho nesses processos e que não aceitará a redução das companhias por outros meios que não sejam os do debate dentro do Parlamento. E isso ajuda também a passar a mensagem ao governo de que as privatizações que ele quer fazer não têm o apoio que ele chegou recentemente a apostar que teria na Casa. Além desse feito prático nos negócios, o próprio uso na campanha eleitoral da venda de ativos como algo positivo pode ser enfraquecido, com semanas de bombardeio dessas operações na opinião pública.

A CPI da Cemig tende a trazer para o debate público diário uma série de outras questões do universo da companhia que já estão sob a análise do Ministério Público. E isso, claro, causa desgaste. Seja com o debate sobre os altos salários de seus executivos, o uso de conselhos para beneficiar secretários e aliados, ou as contratações diretas sem licitação. A realidade da Cemig é muito distante da do Estado, mas o cidadão comum tem pouca capacidade de distinguir as duas coisas e tende a se horrorizar com valores que giram na companhia em um momento de pindaíba como o que vivemos. É um novelo que, aos olhos do público, pode arranhar a imagem de gestão eficiente que o Novo quer passar.

De efeito punitivo, porém, não se deve esperar muita coisa da CPI. Outra comissão para analisar situação semelhante na Cemig aconteceu em 1999. Na época, impulsionada pelo próprio governo de Itamar Franco que acabava de tomar posse e queria fustigar o ex-governador Eduardo Azeredo. Ainda que a CPI tenha terminado apontando possíveis irregularidades no processo que reduziu a participação do Estado na companhia ao transformar debêntures da MGI em ações da Cemig, isso não passou do desgaste público. Num ano pré-eleitoral como o que vivemos, porém, isso é bastante coisa.

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