Política em Análise

A pressão sobre Salles

Articulações internas e externas ao governo tentam forçar a mudança da política ambiental e Paulo Guedes é peça-chave nessa disputa

Por Ricardo Corrêa
Publicado em 15 de julho de 2020 | 10:12
 
 

Nos últimos dias a pressão interna e externa para a saída do ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, ampliou-se consideravelmente. É quase unânime, exceto entre a ala mais ideológica do governo, que a política ambiental hoje em curso no Brasil prejudica a entrada de recursos externos no país e dificulta a venda de produtos no exterior. E, por causa disso, a sustentação do ministro se deteriora dia após dia.

Por enquanto, o presidente Jair Bolsonaro não quer mexer no Ministério do Meio Ambiente. Mas a situação pode mudar caso a pressão da área econômica chegue ao ponto mais radical. Há nos bastidores em Brasília já quem afirme que o ministro da Economia, Paulo Guedes, pode colocar um ponto no final na batalha apontando que ou sai ele ou sai Ricardo Salles. Quando isso ficar mais claro, a crise muda de patamar.

A pressão de Guedes vem de fevereiro, quando voltou ele atônito com o que ouviu de investidores internacionais no Fórum de Davos. De lá para cá, ficou claro para ele que, se não houver uma guinada na política ambiental, o esforço de saneamento da economia brasileira e de reformas estruturais pode ser perdido. 

Além do mais, a força de Salles no agronegócio já não é mais a mesma. De um lado, setores da agricultura ainda prestam apoio, avaliando que a política, ao permitir mais áreas agricultáveis e afrouxar a fiscalização ambiental, tornaria a vida de quem planta mais fácil. Mas entre os donos de frigoríficos a situação mudou. Sob o risco de boicote da carne brasileira no exterior, eles já estão na ala dos que querem ver Salles longe da Esplanada dos Ministérios

Sem querer tirar Salles para não irritar ainda mais a ala ideológica, que já perdeu Abraham Weintraub na Educação, Bolsonaro tenta se equilibrar entre os dois lados. Não tira Salles, mas dá ao general Hamilton Mourão, vice-presidente, o controle das principais ações relacionadas à Amazônia. Como os militares já têm uma relação antiga com a questão amazônica por conta das preocupações com a segurança nacional, isso parece fazer todo o sentido para Bolsonaro. Para os investidores e compradores internacionais, porém, isso não resolve o problema. Assim, a solução provisória tende a não durar muito tempo.