Política em Análise

A volta de Temer

Ex-presidente aproveita o espaço dado por Bolsonaro para tentar colocar-se no jogo eleitoral de 2022

Por Ricardo Corrêa
Publicado em 14 de setembro de 2021 | 09:52
 
 

A já congestionada estrada da terceira via nas eleições de 2022 ganhou na última semana mais um competidor. E ele é um velho conhecido do cenário político brasileiro. Michel Temer, presidente da República entre 2016 e 2018, e que deixou o mandato com forte impopularidade, foi reabilitado justamente por aquele que pode ser um dos concorrentes a uma vaga no segundo turno: o presidente Jair Bolsonaro. Claro que o caminho é longo e sinuoso, mas após escrever a carta para o atual titular do cargo, o emedebista tem aproveitado a atenção que ganhou para alimentar o sonho de voltar ao Palácio do Planalto.

Em política há sempre a lembrança daquele velho ditado de que se o cavalo passa arreado, não pode demorar a montar, ou outro ocupa o lugar. Temer está seguindo rigorosamente esse conselho. Por isso, após voltar às manchetes, tem utilizado suas redes sociais e, inclusive, peças publicitárias, para colocar-se como o homem do diálogo, capaz de enfrentar o período de radicalização do cenário político e devolver alguma tranquilidade ao ambiente democrático.

Ainda que sua capacidade de diálogo, embora reconhecida, não seja a mesma no passado, sobretudo junto aos grupos mais à esquerda, que atribuem a ele a alcunha de golpista (por considerarem um golpe o impeachment de Dilma), é fato que ele tem mais capacidade política de aglutinar do que alguns nomes da terceira via. Mesmo que tenha sempre sofrido do pior mal que um pré-candidato ao Palácio do Planalto pode ter: falta de voto, expressa ao longo de toda sua carreira política.

Alguns até poderiam questionar como é possível que alguém que saiu do governo com reprovação recorde sinta-se à vontade para retomar o debate político com olhos no retorno ao poder. Principalmente após ter sido alvo de uma série de denúncias, tendo sido inclusive preso por algumas horas após deixar o poder. Basta olhar para o alto das pesquisas para ver que, na política brasileira, tudo sempre pode ficar para trás. Se Lula, que até pouco tempo era a figura política mais rejeitada do país, se reabilitou junto à opinião pública, Temer poderia fazer o mesmo. Principalmente em um momento de desilusão com o governo que veio depois do seu. Assim pensa o ex-presidente, que aposta nos bolsonaristas descontentes com um presidente brigão, mas que querem colocar na cadeira um algoz dos petistas, ainda que antigo aliado.

O mais curioso dessa história é que Temer foi incluído na jogada pelo próprio presidente Bolsonaro, no desespero de tentar refazer algum diálogo com o ministro Alexandre de Moraes e com o centrão, que avisou que desembarcaria. Foi Bolsonaro quem buscou o ex-presidente em São Paulo para conversar com o ministro do Supremo, que foi indicado ao cargo pelo emedebista. Para salvar-se do impeachment, o atual chefe do Executivo criou para si um novo adversário em 2022. De certo ponto de vista, talvez o nome da terceira via que lhe tiraria mais votos, por encarnar o sentimento antipetista melhor que os demais, e que, por essa razão, poderia ameaçar mais claramente sua ida ao segundo turno. Se Temer tem alguma chance de viabilizar-se como um nome de terceira via, só a testagem de seu nome nos próximos levantamentos poderá dizer. Mas que ele está animado a tentar, não há mais qualquer dúvida. Ele está rindo à toa com o presente, e não é só no jantar com empresários, cujo vídeo viralizou.