Ricardo Corrêa

Editor de Política de O TEMPO e escreve neste espaço diariamente

Política em Análise

Ciristas decidirão a eleição

Publicado em: Qua, 04/05/22 - 09h52

A disputa pelo Palácio do Planalto em 2022 está polarizada entre o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o atual presidente, Jair Bolsonaro (PL). Mas, quanto mais a distância entre os dois se estreita, sobretudo com o fracasso da terceira via, mais fica certo que será o eleitor de Ciro Gomes (PDT) quem, ao fim e ao cabo da corrida eleitoral, decidirá quem vai subir a rampa do Palácio do Planalto.

Ciro tem hoje 7% a 8% nas pesquisas, em média. Bem distante dos dois líderes. Hoje tendo um pouco mais de atenção de partidos de centro que não conseguem se unir em torno de um nome único, não se pode descartar que cresça caso feche uma aliança. Mas, imaginando que não consiga sair do lugar, ainda assim, seu percentual seria hoje suficiente para desequilibrar a balança para um dos lados, seja com um voto útil na reta final do primeiro turno, seja com um apoio decisivo no segundo.

E, veja, não falo do apoio de Ciro a outros candidatos, mas de seus eleitores. E daí parece absolutamente fora de propósito que dirigentes e militantes petistas alimentem uma guerra contra o candidato do PDT. Avaliações como a de Zé Dirceu de que Ciro pode ser rifado por sua própria legenda ou todas as repetidas lembranças de seu afastamento no segundo turno das eleições não contribuem para atrair esse eleitor que pode ser decisivo na disputa contra Bolsonaro. Antes de todas essas batalhas e de ataques entre as militâncias, era razoável imaginar que quase a totalidade dos votos em Ciro fossem migrar para Lula no segundo turno. Hoje, isso não é tão claro. A mágoa dessas desavenças pode levar parte desses eleitores a anular o voto ou até migrar para a candidatura de Bolsonaro.

E não adiantará dizer que quem provoca a briga o tempo inteiro é Ciro Gomes. Isso é verdade, mas há que entender a posição e perspectiva de cada um nesse processo. Para Ciro, que hoje é terceiro e precisa se viabilizar, entrar no debate, criticar Lula é esperado. Até pelo fato de que, hoje, dada a rejeição do presidente Jair Bolsonaro e a posição nas pesquisas, Ciro tende a crer que, se fosse ao segundo turno, seria contra o petista e contando, portanto, não com os votos dele, mas dos bolsonaristas. Criticar Lula e brigar com sua militância, nesse caso, não causaria efeitos colaterais nessa estratégia desenhada. Para o PT, porém, é diferente. Na disputa calculada com Bolsonaro, os ciristas seriam o fiel da balança.

Para Ciro Gomes, porém, ver seus eleitores definindo a eleição não basta. E, por isso, ele continua numa difícil tarefa de conseguir ao menos uma aliança com um partido grande ou médio para viabilizar seu tempo de TV. Por isso mostrou-se eufórico com as falas de Gilberto Kassab de que ele é a verdadeira terceira via e que não seria impossível pensar em um apoio do PSD à sua candidatura. O ex-prefeito de São Paulo, porém, deixou claro que essa aliança hoje é difícil, sobretudo por conta das dificuldades de convencimento nos diretórios que preferem uma liberação para apoio a Lula ou Bolsonaro.

De toda forma, é fato que Ciro hoje ao menos desperta certa atenção nas cúpulas desses partidos de centro. Assim como no PSD, também no União Brasil há parcelas que defendem o apoio a ele. Assim era também no Cidadania, antes da legenda firmar uma aliança com o PSDB. O grande desafio para ele é juntar os caquinhos de apoio em alguma dessas legendas para conseguir um apoio formal que é essencial para se torne viável. As próximas semanas serão decisivas para Ciro nesse aspecto. Uma coisa ele já conseguiu: a despeito de tantos nomes lançados até aqui, ele é o único que permanece como opção permanente na mesa do debate político, além claro de Lula e Bolsonaro. Decisivo, de alguma forma, seu eleitor será.

---

O TEMPO reforça o compromisso com o jornalismo mineiro, profissional e de qualidade. Nossa redação produz diariamente informação responsável e que você pode confiar.

Siga O TEMPO no Facebook, no Twitter e no Instagram. Ajude a aumentar a nossa comunidade.