Política em Análise

Decisão de Pacheco reduz fator de tensão

Rejeição de pedido de impeachment ajuda a enfraquecer pauta do dia 7 de setembro e abre espaço para discussões mais produtivas

Por Ricardo Corrêa
Publicado em 26 de agosto de 2021 | 10:28
 
 

A decisão do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, de rejeitar de forma rápida o pedido de impeachment feito pelo presidente Jair Bolsonaro contra Alexandre de Moraes, ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), e sem levar o assunto ao plenário, tira um problema do caminho. Também tende a esvaziar um pouco essa pauta nos atos marcados para o próximo dia 7 de setembro. Como falávamos por aqui no início da semana, era preciso que o Congresso começasse a colocar posições mais práticas para enfrentar a crise institucional. E isso foi feito neste caso.

Pacheco decidiu rápido e, com isso, claro, passou a ser alvo da ira de parte do eleitorado do presidente da República nas últimas horas. Nas redes, a máquina de guerra montada pelos aliados de Bolsonaro tenta bater duramente no presidente do Senado, mas o movimento não é, nem de longe, o enfrentado por outras autoridades que se colocaram no caminho do chefe do Executivo, como se deu com Rodrigo Maia na época em que presidia a Câmara, ou com os próprios ministros do Supremo. Apanhar um pouco dos bolsonaristas, neste caso, era o ônus esperado e já calculado de uma decisão efetiva que impôs uma derrota ao presidente.

Também já havíamos tratado aqui do quanto as posições que precisaria tomar e o andamento das negociações políticas de bastidores tenderiam a jogar Rodrigo Pacheco na oposição. Os ataques das últimas horas alimentam isso. O caminho era esperado pelo fato de que hoje ele está cotado como nome de uma terceira via na disputa pelo Palácio do Planalto. Em algum momento, para viabilizar essa possibilidade, ele teria que colocar-se de forma mais direta contra o presidente. Daqui até 2022 esse distanciamento vai aumentar consideravelmente.

Diante da posição de rejeitar o pedido de impeachment de Moraes por falta de justa causa, Pacheco também dá o recado ao presidente de que nem adianta tentar mais um, o de Luís Roberto Barroso. Bolsonaro, que já sabia que esse pedido seria rejeitado, esperava ao menos que ele durasse um pouco mais e que, quem sabe, fosse ao menos levado ao plenário, para manter a narrativa por mais alguns dias. Após a derrota consumada já no primeiro tempo, a lógica recomendaria que o presidente nem sequer tentasse mais um pedido. Ele pode, porém, fazê-lo, principalmente às vésperas do 7 de setembro, para devolver esse mote aos protestos que incentiva e organiza nos bastidores. 

O mais importante na decisão de Pacheco, contudo, é deixar clara a disposição de não dar espaço para aventuras ou discussões que tirem o país do foco mais importante neste momento, que parece estar no tenso cenário econômico. A inflação está fora de controle, o desemprego altíssimo com efeito da pandemia persistente e é preciso que o Congresso discuta as reformas e medidas de retomada com rapidez. Já se gastou tempo demais debatendo voto impresso ou impeachment de ministro do Supremo. Qualquer nova iniciativa que desvie o foco com o que realmente importa deve ser destruída na raiz. Nenhum país suporta o clima de guerra interna ininterrupto.