Política em Análise

Eleições: Reviravolta mais difícil em BH

Indecisos migram para Kalil, que amplia a vantagem e torna mais provável a vitória em primeiro turno

Por Ricardo Corrêa
Publicado em 26 de outubro de 2020 | 10:25
 
 

A nova pesquisa DataTempo/Quaest confirmou o cenário apontado pelas pesquisas anteriores e mostra que, com o início da propaganda eleitoral, é Kalil quem sobe lentamente para atingir índices ainda mais altos na reta final das eleições. Isso não significa, claro, que a eleição está ganha, mas cada dia fica mais claro que só um acontecimento muito fora da curva pode inverter essa tendência cada vez mais clara de vitória no primeiro turno.

Destaco, na evolução das pesquisas, a redução do índice de indecisos, que passou de 16% para 12% no período. E quem herdou esses votos foi Kalil, que subiu seis pontos, tirando ainda dois dos concorrentes (esses, na margem de erro da pesquisa). Assim, o prefeito chegou a 59% das intenções de votos totais. Com relação aos votos válidos, Kalil passou de cerca de 73% para 77%. Ou seja: agora, para tirar a vitória de Kalil no primeiro turno, seus adversários precisam tomar dele mais de um terço dos votos em 20 dias.

Quando se fala hoje em pesquisa, é comum que sejam citados casos de 2018, quando uma reviravolta nos últimos dias tirou Dilma Rousseff (PT) do Senado e levou Romeu Zema (Novo) ao governo de Minas. É preciso dizer, porém, que a situação é totalmente diferente. No caso de Dilma, por conta da própria dinâmica da eleição. A escolha de dois nomes para o Senado embaralha mais as coisas e torna as mudanças mais possíveis a depender da escolha do segundo voto de cada um. Já com relação a Zema, ele cresceu sobre os indecisos, que tinham um peso muito maior àquela altura, considerando que havia uma disputa mais fragmentada, com três candidatos brigando.

Hoje, mesmo que os 12% de indecisos migrassem todos para um candidato – improvável pois a a migração hoje tem acontecido pró-Kalil –, isso não seria suficiente para tirar a vitória do prefeito, que teria cerca de 67% dos votos válidos. Para que a eleição vá ao segundo turno ele teria também que perder votos que já tem, o que é mais difícil considerando a baixa rejeição – muito diferente das de Antonio Anastasia (PSDB) e Fernando Pimentel(PT).

Além disso, a eleição municipal tem, naturalmente, menos impacto da eleição nacional do que a disputa estadual, que acontece simultaneamente à corrida presidencial. Não se deve esperar uma onda bolsonarista como se viu há dois anos. E o peso dos apoio dos cabos eleitorais é muito baixo, segundo mostra o próprio DataTempo/Quaest. Bolsonaro e Zema dão votos mais ou menos na mesma proporção que tiram. No caso de Lula, é ainda pior. Ele tira votos.

Dito tudo isso, reforço que uma mudança no cenário eleitoral só seria possível se acontecesse algo muito fora da curva. Uma declaração muito mal colocada por Kalil, um escândalo de grandes proporções, uma gestão de crise inadequada em um episódio adverso na cidade. Hoje, esse cenário parece absolutamente distante e a briga será para ver quem sai vivo politicamente de uma derrota acachapante para o atual prefeito.