Política em Análise

Está nascendo um novo líder e ele é youtuber

Com um vácuo na oposição ao governo Bolsonaro e com o auxílio dos próprios governista que o escolheram como vítima, surge um novo personagem na política brasileira: Felipe Neto

Por Ricardo Corrêa
Publicado em 03 de agosto de 2020 | 09:58
 
 

Quem é hoje o maior líder da oposição ao presidente Jair Bolsonaro? Quem mais reverbera as críticas sobre o atual governo e que mobiliza mais gente nesse sentido? E quem o faz de forma mais efetiva? Hoje, sem qualquer dúvida, é Felipe Neto. Um youtuber que passou de hater no passado a voz equilibrada e embasada em contraponto ao baixo nível do debate que tomou conta da política brasileira.

Não é por acaso que o influenciador digital é cada vez mais chamado a tratar de política nas sérias rodas de poder. Felipe Neto foi ao Roda Viva, fez longo vídeo para o The New York Times, deu entrevistas ao Jornal Nacional e à GloboNews, participou de live com o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Luís Roberto Barroso e vai fazer o mesmo com Rodrigo Maia, presidente da Câmara dos Deputados. Está, definitivamente, inserido no debate sobre os rumos do país.

Isso, claro, não significa que amanhã ou depois veremos o youtuber como candidato ao  Palácio do Planalto ou a outro cargo qualquer. Ele já disse não ser essa sua pretensão, embora isso seja praxe a todos os que amanhã ou depois vão buscar algum voo nesse sentido. Mas não é mesmo preciso ter cargo eletivo para tornar-se figura política de relevo. É o que o próprio Felipe Neto demonstrou agora. Afinal, quem poderá negar que hoje ele é muito mais relevante e ouvido no assunto do que Luciano Huck, apresentador de TV igualmente conhecido e que tem claras pretensões de ser candidato ao Palácio do Planalto?

O mais curioso nesse caso é que a relevância de Felipe Neto na política foi dada justamente por seus opositores. Ao escolhê-lo como vítima de uma campanha de fake news, algumas de extrema gravidade, como a falsa acusação de que está relacionado à pedofilia, e ao ameaçá-lo, alguns fanáticos defensores do governo acabaram introduzindo o youtuber no debate. Erro grosseiro, principalmente considerando a enorme força orgânica de seus canais, com quase 40 milhões de inscritos no Youtube.

Quem está no governo ou quer sustentar quem está no cargo erra ao criar um antagonista. É tudo o que os opositores precisam: de uma voz para encarnar a oposição. Principalmente no momento em que há um vácuo neste espaço.

Se é alguém com forte ascendência e penetração na parcela mais jovem da sociedade, melhor ainda. Felipe Neto fala, há anos, justamente para aqueles que estão entrando agora no debate político, ganhando idade para votar e que estão ávidos por entender o processo democrático. Isso tende a fazer efeito ano após ano, a cada nova leva de jovens que vai à Justiça Eleitoral tirar seu título eleitor. O governo subestima esse estrago. Principalmente porque, sendo antigo crítico da esquerda, Felipe Neto nem de longe pode ser pintado como “comunista” tal qual o governo pinta seus rivais. Sem perceber, a base aliada criou o líder de um projeto que luta contra quase tudo o que prega. Isso terá um custo.