Política em Análise

Nada a declarar

Presidente se acostumou a abandonar entrevistas sempre que surge um assunto espinhoso

Por Ricardo Corrêa
Publicado em 17 de janeiro de 2020 | 03:00
 
 

A boa prática jornalística prega que se ouça sempre os dois lados de uma história. No caso do presidente Jair Bolsonaro (PSL) isso nem sempre é possível pois ele revela completo desapreço pelo jornalismo e pelo contraditório. Quando é instado a comentar alguma das polêmicas que envolvem seu governo ou seu entorno, encerra a entrevista e vai embora deixando perguntas sem respostas.

Ontem foi assim, quando o presidente foi questionado sobre possíveis irregularidades praticadas pelo chefe da Secretaria de Comunicação Social da Presidência, Fabio Wajngarten. Antes de deixar o ambiente, disparou mais alguns impropérios contra jornalistas, mandando um deles calar a boca.

É recorrente. Em 25 de abril, ele encerrou uma entrevista ao ser questionado sobre os ataques do filho Carlos Bolsonaro ao vice-presidente Hamilton Mourão.

Em 11 de junho, deu as costas ao ser questionado sobre mensagens de chats de seu ministro Sergio Moro.

Em 26 de julho, fez o mesmo ao ser perguntado sobre o uso de helicóptero da Força Aérea para levar seus familiares ao casamento do filho. Na ocasião, chamou a pergunta de “idiota”.

Em 27 de agosto, o presidente abandonou a coletiva após ser perguntado se pretendia se retratar sobre um comentário tosco sobre a primeira-dama francesa. Disse que jornalistas não merecem consideração.

Em 7 de outubro, ele voltou a encerrar a conversa ao não querer falar da situação do ministro do Turismo, Marcelo Álvaro Antônio, indiciado por caixa 2 na eleição passada. No dia 15 daquele mesmo mês, já tinha abandonado a sabatina com os jornalistas alegando que a imprensa só publicava coisas ruins contra ele. Ainda em outubro, no dia 29, a coletiva foi encerrada pois Bolsonaro foi perguntado sobre críticas que recebeu do ministro do STF, Celso de mello, após atacar a Corte.

No dia 20 de dezembro, antes de largar a coletiva pela metade, ele mandou um repórter fazer a pergunta para a própria mãe e questionou a sexualidade de outro.

Há dois dias, a pergunta era sobre a revelação de um livro de bastidores do governo de que ele teria sido o responsável por mandar Fabrício Queiroz faltar nos depoimentos ao Ministério Público. Bolsonaro também foi embora sem responder.

Se o ditado de que quem não deve não teme valer para esse caso, Bolsonaro tem muito com o que se preocupar.