Política em Análise

O cerco vai se fechando

Episódio da prisão de Fabrício Queiroz impõe mais pressão ao presidente no momento de embate com o Judiciário

Por Ricardo Corrêa
Publicado em 18 de junho de 2020 | 11:37
 
 

A prisão do ex-assessor de Flávio Bolsonaro Fabrício Queiroz em um imóvel do advogado do parlamentar amplia a pressão em torno do presidente Jair Bolsonaro e de seus familiares, em um momento em que o presidente trava uma guerra contra o Judiciário federal. Embora solto Queiroz já trouxesse um enorme desgaste político, preso ele gera tensionamento na questão jurídica, já que há riscos evidentes de que, sentindo-se abandonado e em risco, opte por uma eventual delação premiada.

Não precisamos ter muitas dúvidas sobre o potencial dessas investigações. Basta avaliar quantas foram as tentativas de Flávio Bolsonaro de interrompê-las. Seus advogados fizeram vários pedidos em sequência, tanto na Justiça do Rio de Janeiro, quanto nos tribunais superiores. Isso mesmo sabendo do enorme desgaste político de ficar na história como quem não quer tudo em pratos limpos.

No entorno do presidente, a grande preocupação se dá pelo fato de que Fabrício Queiroz pode se transformar em um elo entre o investigado esquema de rachadinhas e as milícias do Rio de Janeiro. É sabido que o ex-assessor parlamentar tem relações com milicianos conhecidos, inclusive tendo empregado alguns deles em gabinetes da família Bolsonaro. A relação entre os dois esquemas, porém, ainda não ficou comprovada. Se se isso se der, a família presidencial terá um grande trabalho para mostrar que não tem nada a ver com isso e que não sabia dessa relação. Tarefa difícil.

Sobre eventual delação premiada, o risco existe quando se enxerga os destinos dos personagens menores dos grandes esquemas de corrupção descobertos no Brasil. Quem ficou calado, como Marcos Valério no mensalão, acabou pagando caro. Quem abriu a boca e entregou companheiros que estavam acima das investigações, como na Lava Jato, acabou se livrando sem grandes problemas. Certamente isso está passando pela cabeça de Fabrício Queiroz nesse momento. Por outro lado, eventual relação com milícias do Rio de Janeiro torna uma delação um pouco mais arriscada.

Com ou sem delação, as buscas realizadas na casa do advogado de Flávio Bolsonaro, onde estava o ex-assessor, e em uma residência que aparece na declaração de bens de presidente e era ocupada por uma assessora, em Bento Ribeiro, também têm potencial para engrossar a investigação mais perigosa para o grupo presidencial. Se no STF há a retórica de que há uma perseguição e dificuldades à liberdade de expressão, no Rio o buraco é mais embaixo. Trata-se de suspeita de corrupção. A defesa política é bem mais difícil.