Política em Análise

O fator Boulos

Bom desempenho do candidato do PSOL em São Paulo, ainda que perca as eleições, mexe no tabuleiro das disputas para 2022

Por Ricardo Corrêa
Publicado em 27 de novembro de 2020 | 10:33
 
 

No próximo domingo os eleitores de São Paulo irão às urnas para escolher o prefeito da cidade e, considerando o resultado das pesquisas, ainda que haja um crescimento de Guilherme Boulos (PSOL), tendem a eleger Bruno Covas (PSDB) para o comando da cidade. Mesmo que perca a disputa, porém, o bom desempenho líder do movimento dos sem teto certamente é um fato novo dessas eleições e que terá necessário impacto na corrida eleitoral de 2022.

O PSOL já tinha força no Rio de Janeiro, com Marcelo Freixo, que embora até seja conhecido em outros pontos do país, opta, nas eleições gerais, por concorrer a vagas no Legislativo, uma eleição sem riscos, para manter um mandato como deputado em vez de sair do debate eleitoral. Em 2020 optou até mesmo por não entrar na corrida eleitoral do Rio, pelo risco de sair menor diante da divisão na esquerda. Ainda assim, é reconhecido que, na cidade do Rio, o PSOL tem força e não é de hoje.

O partido também vem crescendo em Belo Horizonte, ao menos dentro do campo da esquerda e, pela primeira vez, terminou uma eleição municipal como principal representante desse campo, ficando à frente do PT. Mas, em São Paulo, principal eleitorado do país e centro das decisões de poder, havia uma resistência aos nomes do partido que parece ter sido quebrada por Guilherme Boulos em 2020.

A força eleitoral demonstrada por Boulos e a capacidade para enfrentar as críticas sobre radicalismo e inexperiência política trazem para 2022 uma mudança de cenário. Primeiro, porque ele deixa de ser nanico para ser um candidato médio, por assim dizer. Claro que é pouco ainda, considerando que falta capilaridade ao PSOL, o partido é fraco no interior e no Nordeste mas, certamente, sua presença ou não nas eleições presidenciais faz alguma diferença agora no movimento dos votos, o que não foi visto em 2018.

E isso tende a mexer até mesmo com as conversas em torno de uma frente ampla. Se hoje o PDT conversa com o PSB, PCdoB, com partidos de centro e até de centro-direita, como o DEM, em busca de uma aliança contra Bolsonaro, nutrindo alguma esperança de que, sem um candidato viável o PT pudesse entrar nessa corrida, agora isso tende a ser mais difícil. Ainda que o PT faça o sacrifício de não lançar candidato, que é grande na avaliação do partido, o caminho poderia ser a tentativa de um acordo na esquerda, com o PSOL, o que também tenderia a atrair o PCdoB.

Além do mais, poderia haver aí até mesmo um acordo envolvendo a candidatura governo de São Paulo, com Boulos disputando no âmbito local e o PSOL dando um vice na corrida nacional. São conjecturas mas que não seriam razoáveis antes dessa corrida eleitoral e agora tornam-se hipóteses justamente pela força de Boulos e, consequentemente, de seu partido. Se 2020 ainda não acabou, 2022 certamente já começou.